INQUIETUDE 6.0

 

Ao Itamar de Vasconcelos Ribeiro Júnior
 

Oh, intermináveis dias, noites sem fim!...

Tateio no obscuro de minha triste alma e não há absolutamente

Nada que explique minha augusta solidão: Querubim

Maldito a mendigar a melodia gloriosa da minha amada e mágica aurora!...

Quem sabe a poesia me fosse alento, alimento e mais que isso: lenitivo,

Réstia de luz residual, sobra das migalhas trituradas das quais sobrevivo!...


Ó Deus dos desgraçados! Onde estás que não respondes

Ao meu grito de socorro?!... Por que te escondes?...


Ó vinde e vindicai-me a Vós, e valei-me, nessa hora, Vos peço, ó verdadeiro SENHOR,

Que sou desgarrada ovelha, sem aprisco e sem pastor!...

Sonâmbulo e acabrunhado vejo trevas espessas

Caminharem certa, cuidadosa, clara, cândida, cálida e tranquilamente,

Passos sóbrios, sincronizados, cadenciados,

No horrendo, fétido e imundo bueiro do submundo de profunda desilusão dos menestréis!

Oh, céus! Estou, com certeza, crivado de dúvidas, perdido nas selvas cruentas desse desencanto,

Emaranhado por vãs filosofias: estórias dos encantados pelos encantos de Sophia!...

Lembro, ó laureada lady e Dama da Noite, da louca lucidez da lua -  tua espádua nua,

O rocio sobre teus mamilos eriçados

A serpear sorrateiro por teu sôfrego ventre rumo à selva serena de teu sexo!


Ríamos amorosa e claramente sem parar das bobagens mais puras e simples:

Inexistia a metafísica complexa que angustia a alma!...

Não obstante a brisa brejeira dessa boa recordação... (Basta! Isso foi há bastante tempo...)

Mas, enquanto estou aqui pensando nos verdes olhos de Christina

Vou inalando a intragável e imensa solidão que trago imersa nesse trago de cigarro

A roer as entranhas ruminantes da Noite fria e tenebrosa:

Obumbrantes obstáculos inescrupulosos de minha doce paz!...


Jubiloso, junto a vocês quero estar, sem jaça,  ó Jussara, ó Jacira, ó Maria Janice,

Ser merecedor único de vossa unívoca, umbilical, inequívoca, única e inesquecível atenção;

Ser ninado, nanado, acalantado por vossos numerosos braços de pelúcia,

Sutil inocência que me falta no limiar deste escuro cinzento!...

Aonde andará o gozo dos poetas?

Triste de uma ternura mórbida verbalizo: oh, raios! Quando terei, sossegado, minha lápide?!...

 

Cachoeira do Arari, Pará, Brasil, 23 de março de 2009.
Composto por Manoel da Silva Botelho.

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