A lama

Mar de lama que trouxe a destruição e nos arrebatou a todos fortemente

A barragem que implodiu a paz e inaugurou um novo tempo

Reapresentando a dor e todos os antigos lamentos “já esquecidos”

Insidiosa indústria de extração mineral

Algures estrada caminho onde se equilibra o bem e o mal

N’algum sítio de minério onde operam maquinário bruto antes nunca visto

Assolando o solo fazendo-o tremer em explosões múltiplas e desgaste desmedido.

Brumadinho... Paraíso encravando logo ali, ladeado a Mario Campos.

Minas Gerais... Das inúmeras minas que lhe facultaram o nome e que agora lhe envergonham e causam a todos largo espanto.

Paraopeba, Rio Doce, São Francisco, Córrego do Feijão... Ambos agonizam.

Romperam com a nossa paciência, reinaugurando a nossa indignação

Óbitos múltiplos

Xisto pedra em verdes folhas, dólares

Indústria torpe em vil revide

Minas matam e matam por dinheiro

As vítimas nem se dão conta que a conta mais cara será paga por eles.

Assoreamento dos córregos, canais e cursos d’água

Depósito de sedimentos e esterilização da vida local

Memórias de uma vida inteira enterradas na lama

Morte no leito do rio transmitida ao vivo pela televisão

Perplexidade estampada no rosto incrédulo dos sujeitos perdidos

Dispersos em seus sentidos

e assolados pelo banzo coletivo que aflige a multidão.