CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO E O ESCRITOR

O planeta e os povos caminham rumo ao equilíbrio cósmico traçados pelo criador onde a busca pelo controle de si mesmo se faz necessário para o realinhamento descrito por nossos antecessores.

E dentre os habitantes deste orbe temos aqueles que vieram com sua missão especifica de plantar a semente na alma daqueles que redirecionarão a raça humana.

Todos que vieram antes plantaram a semente que germina nos multiplanos existenciais no decorrer da nossa história, os que aqui estão hoje são frutos de imensos esforços daqueles que se dedicaram para que um dia alcançássemos a evolução necessária rumo à regeneração do planeta.

Tivemos vários espíritos de luz que trouxeram as condições necessárias de melhora na qualidade de vida em nosso planeta, esses seres de luz tiveram suas inspirações guiadas pelos trabalhadores incansáveis que vão e vem com objetivos traçados pelo criador.

Mas infelizmente não alcançaram aqueles que não querem se desapegar das vaidades do plano terreno, pois temos seres que são tão apegados à matéria que não conseguem enxergar o próximo como irmão e companheiro de caminhada.

Muitos disseminaram suas mensagens, mas apenas aqueles que estão buscando a conexão do plano superior conseguem se conectar, mas chegara a hora que aqueles que não se encaixarem nesse campo vibratório evolutivo retornará a planos inferiores.

Para que tenham a oportunidade de se redimirem e buscarem o conhecimento que se faz necessário para o caminho da completude cósmica.

E assim que as forças superiores agem em nossa evolução, e dando condições para que possamos passar por problemas que se fazem necessários para nossa evolução frente à continuidade infindável de seres aos quais se constituem em uma multiplicidade contida na unidade.

E desta forma o andarilho caminha em busca de um daqueles seres que passaram por tantas privações para sua constituição em direção à luz suprema.

Já e madrugada e o andarilho para em frente a um auditório onde o escritor em sua infinita humildade divulga mais uma de suas obras que fazem parte da biblioteca do mundo superior.

Assim que termina a palestra daquele homem os aplausos soam em uma cadencia uniforme, acompanhados pelos encarnados e desencarnados.

Após os cumprimentos o escritor sai do salão, e de longe percebe aquele ser que a tudo observa, lentamente o homem caminha em direção ao andarilho e lhe oferece um café.

O andarilho ciente da sua missão sai andando pela rua em direção a uma cafeteria duas quadras abaixo, e ao entrarem no estabelecimento sentem o olhar de reprovação dos frequentadores, pois não e comum um maltrapilho adentrar aquele lugar, a não ser para pedir ajuda.

Mas não importa todos permanecem onde estão, fazendo comentários sem sentido, quando achamos alguém inferior não o vemos dignos nem do nosso desprezo.

O andarilho já se acostumou com o olhar de reprovação em sua caminhada, quem despreza os inferiores não tem dignidade nem para consigo mesmos.

O andarilho sentindo o olhar de indagação do escritor pergunta-lhe.

Pode me contar sua historia.

O escritor com um sorriso discreto diz ao andarilho. Claro que posso, mas por que deveria.

O andarilho batendo em seu ombro lhe diz, e para que se registre no livro da vida e sirva para que aqueles que busquem tenham sempre sua esperança renovada e um direcionamento a ser seguido como exemplo.

Movido por uma força inexplicável o escritor não da conta de negar ao pedido de ser que vive de forma tão humilde.

O escritor então inicia a sua história.

Tinha quatro anos quando meu pai perdeu o emprego e se entregou a bebida, minha mãe já cansada daquela vida sem perspectivas nos abandonou e saiu pelo mundo.

A vida que já era difícil ficou pior ainda, e meu pai se desgostou e acabou vendo a bebida como fuga e acabou por não resistir e beber ate a morte, pois a vida para ele não tinha mais sentido.

Eu e meus irmãos ficamos sozinhos e entregues ao mundo, a infância foi longa, acabei por perder meus irmãos, que eram muito jovens e passaram a viver de lar em lar ate irem para as ruas, onde cada um luta por si próprio, eu me acostumei a viver nas ruas por necessidade.

Tentei ajudar meus irmãos, mas com o passar dos dias acabamos por nos distanciar.

Quando tinha quatorze anos estava passando em frente a uma academia próximo a um condomínio luxuoso, como estava com fome resolvi vigiar carros dos frequentadores para ver se ganhava uns trocados para prover meu pão de cada dia.

Tinha medo, pois sentia que todos me olhavam estranhamente, mas ficava de longe sentado a sombra de uma pequena árvore, e de longe fazia um gesto com as mãos e aqueles que sentiam vontade me chamavam e me davam moedas .

Os dias foram se passando e os frequentadores do local acostumaram com minha presença por ali.

Ate que um dia em uma confraternização na academia um homem se aproximou de mim e entregou um pratinho com salgados e um copo de refrigerante.

E enquanto eu comia ele foi conversando comigo e eu lhe contei minha história, ele se comoveu e me convidou para trabalhar ali com ele, no intuito de tomar conta do estacionamento.

Foi construída uma pequena guarita e foram colocadas correntes no estacionamento, com o tempo alem do salário também ganhava gorjetas.

Como não tinha onde ficar eu comecei a dormir na guarita, era pequena, mas eu me ajeitava muito bem lá dentro, de dia fazia calor mas a noite me servia de abrigo que eu nunca tivera pois sempre dormi na rua.

Eu economizava cada centavo, pois meu sonho era um dia ter suficiente para comprar um lote em um bairro mais afastado.

Sempre ganhava roupas usadas e alguns livros dos frequentadores, com o tempo o espaço que já era pequeno foi diminuindo, pois os livros tomavam meu espaço, mas não me importava era um tesouro inestimável ter tanto ao meu dispor.

O banho eu tomava entre os intervalos das aulas no banheiro da academia, estava sempre limpo, apresentável, e uniformizado, as roupas eu lavava em um intervalo entre uma aula e outra durante a madrugada.

E assim fui me virando, escola eu não frequentei, aprendi a ler por necessidade da vida, e acabei me tornando um autodidata, sabia praticamente de todos os assuntos, mas o que mais me interessava eram filosofia e literatura espírita.

E quando tinha tempo estava escrevendo em cadernos que eu achava na rua, dos cadernos eu retirava as folhas que já haviam sido escritas e usava as folhas em branco.

Era querido por todos, sempre que podia ajudava aqueles que necessitavam, e nada do que a gente faz passa em branco no livro da vida meu caro andarilho.

Ate que certa vez uma mulher que era frequentadora do local foi fazer seus exercícios na noite de natal, ela quase sempre me cumprimentava, parecia ser sozinha e sempre se isolava.

Quando ela foi tirar o carro do estacionamento me olhou com olhar de piedade e me perguntou onde eu passaria o natal, eu apontei para a guarita e lhe disse, será ali senhora.

Ela saiu andou um pouco e depois deu marcha re no carro e me perguntou?

Não quer passar com minha família.

Fiquei sem saber o que fazer, mas como tudo estava parado e eu nunca tinha tido uma noite de natal resolvi aceitar.

Pedi a ela que me esperasse um minuto e fui correndo ate o banheiro da academia e coloquei a melhor roupa que eu tinha, pois tudo que ganhava ali era coisa pouco usada, e eu tinha ate perfume que os frequentadores me davam, pois compravam e não gostavam.

Gastei menos de quinze minutos para me arrumar, saímos em direção a uma rodovia, o silencio era profundo escutava-se apenas o radio do carro, que estava em uma estação nostálgica, a música era quase inaudível e muito antiga.

Não demorou muito e chegamos ao destino, era uma chácara aos derredores da cidade, ao chegarmos todos me cumprimentaram com educação, ela adentrou a casa e conversou com seus pais, pouco depois o pai dela veio conversar comigo e me disse que sua filha já havia falado de mim e foi ele que me convidou para ceia de natal.

Entrei e fiquei meio ressabiado com a situação, mas todos me trataram com muita educação.

Os jovens se reuniam em um local onde tocava uma musica que não me agradava, o pessoal de mais idade se reunia nos fundos da casa, era tudo muito bonito.

Os moveis tinham uma aparência antiga, os detalhes da casa eram muito rústicos a musica ali naquele local era calma e envolvente, fiquei isolado em uma pequena mesa em um dos cantos.

Mas o pai da mulher me chamou para sentar com os amigos dele em uma grande mesa, agradeci e disse que estava bem ali. Mas ele insistiu e eu acabei por aceitar o convite.

E ali junto a desconhecidos em meio a uma conversa muito culta um dos senhores pediu minha opinião em determinado assunto, de inicio fiquei meio acanhado, mas senti algo estranho dentro de mim e disparei a falar.

Não percebi, mas todos se aproximaram, os debates começaram e eu usei palavras que não eram minhas e ao final todos me cumprimentaram.

Um dos senhores me perguntou em qual faculdade eu havia me formado.

Eu disse a ele que nunca havia estudado, pois me criei nas ruas e nunca tive acesso a educação.

Ele se admirou e me perguntou como eu havia adquirido todo aquele conhecimento, eu contei então minha história de vida, e que sempre ganhava livros e no tempo vago me dedicava ao saber.

Todos ficaram pasmos.

A noite prosseguiu, e ao fim da reunião um dos senhores pediu meu cartão eu sorri e disse que não tinha mas lhe passaria o número do telefone que ele poderia entrar em contato comigo, peguei um guardanapo e escrevi meu apelido e dei o numero da academia.

No outro dia a mulher me levou logo cedo ao meu serviço, voltamos do jeito que fomos não trocamos uma só palavra.

Quando desci do carro agradeci pelo privilegio dela ter me colocado entre os seus, ela só balançou a cabeça e seguiu seu caminho.

Depois daquele dia nunca mais a vi. E passado algumas semanas me chamaram na recepção da academia, pois tinha um homem ligando para mim.

Ele me perguntou se eu poderia dar uma palestra em um encontro ao qual ele estava organizando, de inicio não aceitei pois não me sentia capaz de falar a uma platéia, mas ele acabou me convencendo, disse que me levaria e me traria de volta.

Não teve como recusar, e no dia da palestra estavam quase todos que conheci na noite de natal e varias outras pessoas em um auditório lotado, a palestra foi um sucesso, e ao final me pediram para que eu escrevesse um livro.

Eu lhes contei dos meus escritos nos cadernos que eu encontrava pelas ruas, um deles me pediu para que eu lhes desse os escritos, e eu os entreguei no momento em que me levaram de volta a minha morada.

Passaram se quatro messes ate que chegou um homem para conversar comigo sobre a publicação do livro, fomos ate seu escritório e passei todos meus dados e acertei o valor.

Achava que não estava passando tudo de uma brincadeira, além do que, o valor era muito alto, assinei tudo e fomos ate um banco abrir uma conta.

O valor foi depositado, e combinamos a tradução do livro em outras quatro línguas, pedi ajuda para que me indicassem uma casa que seria a realização do meu sonho.

Acabei por comprar a casa que era muito alem do que um dia tivera sonhado, e ainda me sobrou uma quantia que para mim era uma pequena fortuna, e combinei de escrever mais um livro.

Voltei para academia conversei com o proprietário que era meu amigo e lhe agradeci por tudo que fez por mim, ele ficou comovido e chorou junto comigo, me pediu perdão por não ter feito mais.

Foi uma despedida triste, pois eu já havia me acostumado com tudo aquilo, sai de coração partido, mas com um sentimento de ter dado o meu melhor, nos abraçamos ele se colocou a minha disposição e eu segui meu caminho.

Três messes depois eu entregava outro livro, já haviam vendido mais de um milhão de exemplares do primeiro livro, e as vendas continuavam aumentando, eu já podia sobreviver com o que ganhava escrevendo.

O fato de eu não ter estudo me tornava mais interessante ainda frente aos comentários da mídia, e a cada programa que eu ia a audiência dava picos, me tornei popular mundialmente.

Essa e minha história caro viajante, não e muito diferente dos habitantes desse orbe, de uma hora para outra encontramos o caminho que nunca buscamos.

O andarilho se da por satisfeito agradece ao novo amigo se despede, anda alguns metros e percebe que uma mulher se aproxima do escritor e fica parado ha observa-los.

Pois ao sair do Brasil e passar alguns anos fora, e ao voltar para o lançamento de um livro acaba por encontrar aquela que em uma noite de natal lhe proporcionou a oportunidade da sua vida.

O escritor Sente-a diferente, havia algo que nos unia, foi um reencontro.

A vida cria situações inexplicáveis, une seres que o tempo desviou do caminho original para busca da completude existencial.

Do nada temos encontros e desencontros, muitas vezes agimos por vontade própria, outras são acontecimentos inexplicáveis.

Pois como uma mulher de classe diferente poderia se aproximar de alguém que foi guiado pela vida, e nunca teve oportunidade de criar seu próprio destino, a vida e assim algo imprevisível, e nem sempre o que queremos e nossa verdadeira missão.

E ali estavam dois seres que nunca pensaram em ser uno ate aquele dia, apesar de se conhecerem não sabiam da existência real do outro, ela nunca o vira com olhos de amor.

Mas a distancia fez seu papel de cupido e aproximou dois seres que vagavam a própria sorte, pois ela apesar de ter estudado nunca encontrou seu caminho, sempre esteve próxima aos pais e nunca se preocupou com a própria subsistência.

O andarilho olha a situação de longe, pensamentos, apenas pensamentos as diretrizes da vida nem sempre são previamente traçadas, mas pouco importa os acontecimentos colocam as virgulas e os pontos finais por etapas.

Quando redigimos um texto a intenção e narrar história real ou fictícia, e a forma que pontuamos e que traz o sentido.

O escritor amadureceu muito com suas próprias palavras, criou seu destino através de uma oportunidade vinda do acaso, foi sua forma de se comunicar que criou a freqüência de união com sua platéia.

E assim a vida segue, destinos se unem e se separam conforme necessidade mutua de crescimento, à noite e fria, mas o calor no coração do andarilho aquece sua alma.

A sensação do dever cumprido sempre o leva a múltiplos caminhos, tudo em nome da evolução cósmica, nem sempre podemos prever o amanhã, mas construí-lo e nossa obrigação.

E assim a multiplicidade existencial guia o viajante para a próxima missão, onde criar novas estradas faz com que o arquiteto do universo sempre planeje onde seu construtor vai estar no caminho da criação.

O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.

Paulo César de Castro Gomes.

Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)