CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO JORNADA AO DESCONHECIDO
Vida que se segue, multiplanos sem fronteira, forças interagindo em consonância cósmica, seres que buscam algo que não sabem, prazeres passageiros, espíritos que vagam em busca da sua completude.
Assim somos, o outro e extensão de nos mesmos, alguns fazendo sua parte segundo seus desígnios, traçados antes da própria materialização, e aquele que estuda a evolução cíclica na sua jornada rumo ao desconhecido guiado por sentimentos inexplicáveis segue seu caminho solitário.
O andarilho segue na sua jornada tentando fazer o melhor possível para que reconexões restabeleçam vínculos que se partiram na continuidade de jornadas descontinuas.
O dia amanhece e o andarilho se encontra em outro lugar, pessoas transitam pelas ruas em suas rotinas robotizadas, assim é a mecânica do multiverso, não sabemos o que esta por vir.
Aquele que vaga não planeja ele apenas segue os desígnios do plano superior em um mundo transitório, frente a uma cultura cósmica em busca de sintonia com a vida superior.
Nosso apego nos torna maquinas sem função, temos as fermentas, mas não sabemos utilizá-las, a vida se repete por nossa própria vontade, tomamos decisões que já sabemos as conseqüências, mas esperamos resultados diferentes.
Os interesses são próprios, mas as conseqüências sempre vão alem de nos mesmos, o próximo e só degrau de sonhos transitórios, pois quando alcançamos perdem o sabor.
Andar e refletir e uma ótima atividade, pois o cérebro se oxigena e as idéias fluem e se multiplicam, recebemos e emanamos energia nesse simples exercício, o andarilho vê ao longe um homem que se debate em si mesmo em busca de soluções de problemas descontínuos.
O andarilho passa por ele e o homem olha em sua direção e diz.
Ta olhando o que vagabundo.
O andarilho sorri e continua seu caminho.
Novamente o homem lhe interpela.
Por que esta rindo de mim.
O andarilho calmamente lhe diz.
Dessa forma problemas não se resolvem.
Ai quem sorri e o homem, que dirige uma nova pergunta.
Então o que devo fazer.
O andarilho para e puxa conversa.
Meu caro temos respostas dentro de nos mesmos às vezes nos falta coragem para encarar aquilo que nos aflige com sabedoria.
O homem se aproxima e diz. Então me ensine.
O andarilho senta se em uma pedra e diz ao homem que sente ao seu lado.
O homem sente uma energia estranha percorrer seu corpo e se dobra frente à força espiritual de um ser que tem um aspecto estranho, o homem olha novamente para o andarilho e na consegue definir o que seus olhos lhe mostram.
O andarilho então começa a explicar o inexplicável.
Meu caro não devemos culpar a deus ou ao homem daquilo que causamos a nos mesmos, somos frutos de nossas escolhas o caminhar faz parte da evolução, pois estaticidade e o mesmo que ingratidão, pois o devir e o que nos move.
O homem ouve a tudo e também sente vontade de falar de si mesmo, e movido por uma força estranha que ele mesmo desconhece começa a contar sua historia.
Olha andarilho eu trabalhava de pedreiro, destruía e construía casas, ate que um dia peguei um imóvel para reformar, era uma casa antiga, de tijolo e madeira situada em uma antiga fazenda, e em dado momento quando quebrava uma parede descobri um compartimento secreto.
O andarilho fixa seu olhar em direção ao homem que continua seu relato.
Existia uma falha entre os tijolos e nessa falha encontrei uma caixa de madeira e dentro dela algumas moedas antigas e algumas jóias, fiquei sem saber o que fazer de inicio pensei em chamar o dono e entregar, mas resolvi saber da historia do local primeiro antes de tomar qualquer decisão.
O dia se passou tranquilamente e no final da tarde o homem chegou e eu como quem não queria nada iniciei uma conversa e ele naturalmente me contou como adquirira a propriedade.
Ele me falou que era advogado e pegou uma partilha de herança, e como eram muitos bens pegou aquela fazenda como parte dos honorários do serviço, os herdeiros aceitaram prontamente a escolha, pois nem sabiam da existência daquele bem e nem sabiam onde ficava.
Era uma grande fortuna, vinda dos antepassados maternos que eram italianos, e de todos que os sucederam, eles chegaram ao Brasil em navios e não trouxeram nada, lutaram e sofreram muito para adquirir os bens que construíram o patrimônio da família.
O advogado contava a história e sorria com tom de ironia, mas não adiantou muito o sacrifício dos velhos, pois a fortuna mudou de mão ate chegar nessa geração, ninguém quer trabalhar eles só pensam em usufruir o que foi construído pelos parentes do passado.
E só luxo e ostentação, carregado de vaidade e desprezando a luta dos antepassados, e como tive a oportunidade de pegar esta partilha também quero minha parte sem me esforçar.
O pedreiro olha para o advogado e sente nojo da forma que ele se remete a todos.
E assim o advogado continua.
Alem dessa fazenda peguei alguns imóveis, esta fazenda foi onde a história da família começou, quero que você de um novo visual a tudo que esta ai, pegue esta mobília velha e tudo mais que encontrar e ponha fogo.
O pedreiro humildemente diz ao advogado.
Olha patrão ainda tem muita coisa que se pode aproveitar, se o senhor não quer eu posso levar para minha casa.
O advogado falou para o pedreiro.
Suma com tudo não quero nada deste mausoléu abandonado, o que sobrar põe fogo, se quer fazer serviço de lixeiro fique a vontade, pegue o caminhão e leve o que quiser.
O andarilho estava começando a gostar da história e sabia que tinha muito mais por vir, e pede ao pedreiro que continue.
E assim o pedreiro continua seu relato.
Ouvindo tudo aquilo me senti aliviado, e assim continuei meu serviço, e a cada quarto que ia reformar sentia a presença dos donos da casa, o vento que entrava parecia soar como musica e aquilo me acalmava e me relaxava, trabalhava sem cansar.
Ate que fui reformar o quarto principal no final do corredor, senti grande paz e acabei por cair no sono durante o serviço, e enquanto dormia pareceu voltar no tempo.
Senti enorme alegria e ligação com o lugar, conversei muito com um casal de idosos, eles me contaram sua história e seu sofrimento, a casa era cheia de gente e alegre, me sentia como parte de tudo aquilo.
Andei a casa inteira e pude admirar a beleza do lugar, a harmonia conduzia minha alma, eu me sentia vivo, foram muitas horas de conversa, quando acordei já era noite nem senti o tempo passar, não parecia um sonho era uma realidade transtemporal.
O andarilho sente uma lagrima correr nos olhos, e diz aquele homem simples que parece não conhecer o mundo dos espíritos, olha meu caro você estava em viajem astral.
O pedreiro pergunta ao andarilho.
Como assim?
Meu caro quando você dormiu seu espírito separou do corpo e entrou na mesma freqüência espiritual do ambiente e assim você voltou no tempo no intuito de conhecer o lugar que você estava prestes a destruir.
Mas continue sua história amigo pois muito me interessa.
E o homem na sua simplicidade continua.
Já era noite quando acordei e decidi dormir por ali, esquentei o resto do almoço em um fogareiro improvisado e voltei para o quarto para descansar, não demorou muito para o sono voltar.
Acabei por voltar ao sonho anterior, ouvi muitas histórias as quais me sentia dentro delas, e em dado momento o senhor me mostrou pela janela um homem lavrando o campo, e me disse que aquele era meu parente distante.
Não o reconheci, mas o velho continuou.
Ele e você nos dias de hoje, deixamos com ele a missão de cuidar da casa e das terras, que ele passou de geração em geração para preservar nossa memória, pois sabíamos que iria chegar o dia em que isso se tornaria fruto do abandono das gerações futuras.
O pedreiro não sabe há quanto tempo sua família vive ali naquele vale, mas sabe que todos os antepassados seus viveram por ali.
O dia amanheceu com o orvalho cobrindo os pastos, e o serviço continuou, o pedreiro deixou de quebrar paredes, e assim o dia transcorreu normalmente, e ao chegar ao final de mais um dia à volta para casa se fez necessária.
Chegando a casa o pedreiro parecia saber o conteúdo da caixa, no dia seguinte não foi trabalhar foi ate a capital e procurou um antiquário que avaliou as jóias e fez uma oferta irrecusável.
O pedreiro nuca havia visto aquela quantia na vida, foi ate o banco e depositou o dinheiro.
Retornou ate a antiga casa e continuou a reforma, tinha muitos quadros da família espalhados pela casa, muita prataria, e mexendo em um antigo guarda roupas no quarto encontrou antigas fotos.
E ao se debruçar em um antigo álbum reconheceu os personagens dos sonhos, ficou estarrecido, tinha ate a foto do homem que sabia ser seu parente.
O andarilho a tudo ouve, o silencio entre os dois parece parar o tempo e a comunicação e feita pelo pensamento.
O pedreiro continua.
Peguei a foto do meu parente e levei ate meu avo, ele um homem quase centenário, que reconheceu um homem em uma das fotos como um parente, e me trouxe uma foto idêntica, toda amarelada e desbotada mas dava para ver que era a mesma foto, e me contou que nossos antepassados serviram aquela família por varias gerações sendo tratados como membros da família.
O pedreiro voltou para casa emocionado, e sentindo que a missão dos seus não deveria parar por ali.
No dia em que o advogado voltou para fiscalizar a obra ficou aborrecido, pois pouco tinha mudado, ele aos berros reclamou da distância que andou para não ver nada.
O pedreiro humildemente perguntou ao advogado se ele não tinha interesse em vender a casa.
O advogado sorriu e em tom de zombaria disse o valor ao pedreiro, era o dobro do que valia.
O pedreiro então disse ao advogado.
Concordo com o preço, vamos à cidade que eu lhe pago o combinado.
Assim entramos no carro do advogado e fomos ate o banco e depois ao cartório, o dinheiro daquelas jóias deu para comprar a propriedade e ainda me sobrou mais da metade do valor que havia recebido com a venda.
O andarilho sente as engrenagens do universo se moverem para preservar a paz daqueles que lutaram tanto para construir o que hoje e desprezado.
O pedreiro voltou para casa com sentimento do dever cumprido, e o advogado seguiu seu caminho se vangloriando de sua façanha de ter ganhado tanto sem o mínimo de sacrifício.
O advogado pensava onde um peão poderia ter conseguido tanto dinheiro, talvez tivesse roubado, ou talvez comprado para outrem, nada disso importava, o importante e que havia ficado mais rico.
O pedreiro retornou a casa e ali a tomou como lar, e com dinheiro suficiente para terminar a reforma que começara com as próprias mãos, os dias se passaram e a casa voltou a ser o que havia sido um dia no passado.
As viagens astrais continuaram acontecendo, havia muito mais coisa naquelas velhas paredes que eu poderia supor, as sabedorias dos antepassados fizeram com que eles se prevenissem e planejassem como as coisas poderiam acontecer.
O andarilho sentia se como parte da história e sua felicidade transbordava em seu espírito.
E o pedreiro sentia a felicidade do ouvinte e continuava a relatar os acontecimentos cada vez com mais emoção.
Olha meu caro viajante, com o passar dos dias recebi a visita de uma moça que era uma das herdeiras e que sentiu em seu intimo a vontade de conhecer as raízes dos seus antepassados.
Na tarde em que ela chegou senti meu corpo estremecer, recebi ela como se já ha conhecesse, e acomodei a moça no quarto em que funcionava para mim como uma maquina do tempo.
Jantamos, eu, ela, e minha família que estava morando comigo, foi um momento de grande alegria, como um reencontro multiplanico guiado por forças cósmicas, todos pareciam se conhecer e se reconhecer nas transições temporais que ligam os seres que estão na mesma freqüência.
Conversamos ate de madrugada, ela me falou do incomodo que sentia, devido ao desprezo de toda família pelas suas raízes ora esquecidas, e que no momento em que ficou sabendo da existência da casa em que moraram os seus antepassados sentiu grande necessidade de conhecer o lugar.
O andarilho fica cada vez mais curioso e não diz nada para interromper o locutor.
E assim sentindo tocado por grande energia o pedreiro continua.
Não me contive diante do relato da moça e acabei por lhe contar todos os acontecimentos, ela parecia não acreditar na força que aquela casa emanava, acabamos vencidos pelo sono que e inevitável ao corpo físico e acabamos por buscar o aconchego de uma cama.
Ela foi ao quarto que preparei para ela, o mesmo que me trazia tantos pensamentos bons, e acabou por cair em sono secular.
Acordamos tarde no outro dia, senti que ela precisava conversar comigo, lanchamos e fomos conhecer a fazenda, por onde passávamos ela sentia já ter estado ali, e quando chegamos à represa e sentamos em uma pedra ela me contou como foi sua noite.
Descreveu-me detalhes que eu mesmo já havia vivido em sonho, ela disse ter me reconhecido desde o inicio, no momento em que me encontrou na porteira da fazenda.
E que me procurava em sonho desde que era criança, eu também a reconheci como filha do casal que construiu tudo aquilo, pois eu era filho do peão da fazenda e acabei por me apaixonar pela filha do patrão no caminho da escola, em que íamos e voltávamos juntos todos os dias.
Senti-me tocado pela imanência cósmica que sempre une aqueles que foram feitos um para o outro, e que são separados para crescimento individual, mas que em algum momento se reencontram para finalizarem seu destino rumo ao plano superior.
E impossível descrever o sentimento de reencontro promovido pelo ser superior do pluriverso, pois o que e unido pelo criador não se separa por completo ele gira em círculos cíclicos ate o ponto de fusão e completude.
Saímos da represa de mãos dadas e seguimos rumo ao que sempre foi nosso sem dizer uma só palavra em sintonia perfeita e de almas uníssonas.
O andarilho sentindo tudo aquilo tomar conta do seu ser e dar sentido a sua jornada, pois aquele que vaga não o faz por opção e sim por missão, pois tem histórias que tem de ser registradas no livro da vida, pelo escritor da editora da criação.
A missão de quem vaga e observa, e que nada passe em branco, pois o tempo apaga tudo, ate mesmo memórias, mas a biblioteca do destino agrupa todas as histórias que dão sentido a vida.
E que em um momento ou outro usam um ser em carne tomado pelo espírito da criação para que se perpetue no imaginário e sejam exemplos em vidas futuras, pois apenas uma vida e muito pouco para que se vivam todas as experiências.
E que idas e vindas são o principio da criação, pois a arvore não vem pronta ela e a evolução de uma semente imantada pelo tempo, e que o ser que nos guia não esta entre nos.
Ele e presença viva em espírito, polinizando almas no alvorecer da transmutação multiplanica, não somos um, somos vários em uma jornada única, mudamos de corpo por necessidade temporal, mas a essência e única e um dia retornara a sua semente original em forma de raiz fixada em solo volátil de múltiplas dimensões.
O homem após a conversa com o andarilho pede desculpas pelo tratamento inicial e lhe diz que as explicações do viajante fizeram com que ele entendesse os acontecimentos e encarasse como uma dádiva divina do principio do saber cósmico.
E assim os dois seres se levantam e cada um vai por um caminho, mas o registro do encontro fica marcado com dia mês e ano no livro do universo.
E assim o universo cria, recria, e segue sempre rumo ao desconhecido de um dia que e só mais um na vida de muitos e único na vida de alguns.
O livro contos reflexivos do andarilho do pluriverso se encontra pronto, aguardando editora para publicação.
Paulo César de Castro Gomes.
Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)