CONTOS REFLEXIVOS DO ANDARILHO. O ANDARILHO E O CADEIRANTE.
O caminhante solitário que transita por esse universo, vivendo para além do imediato, guiado por uma realidade distinta, em busca do seu refinamento espiritual.
Onde e embalado por uma frequência superior, esta em busca de novas experiências. Assim e sua vida, as experiências se somam. O porquê de tudo isso nem ele sabe, a cada objetivo alcançado uma realização, mas a vida continua por isso os objetivos são a soma de uma vida, e sempre teremos outro, o ideal e nunca parar, e a meta e nunca se ter uma meta, e sim viver uma vida plena e cheia de realizações.
E mais um dia, o tempo esta muito quente, o céu acinzentado, os ponteiros do relógio marcam duas horas da tarde. O andarilho para em frente a uma distribuidora de bebidas, compra um refrigerante, não pela sede, mas para apreciar agradável sabor, que a muito não sentia. Atravessa a rua, senta se em um banco no interior de um posto de combustíveis, ao seu lado também usufruindo do mesmo espaço de abrigo do sol um cadeirante. Os dois passam despercebidos, todos desviam o caminho, ninguém quer saber se aqueles seres precisam de algum tipo de ajuda, são invisíveis perante a sociedade.
Eles se cumprimentam, e iniciam uma conversa sobre o aumento de temperatura nos últimos anos, lembram se que no passado as chuvas eram mais frequentes e duradouras. E mais uma conversa típica que acontece entre os seres, que buscam um espaço para se iniciar uma conversa, para fugir da solidão O homem parece sentir saudade quando fala do seu passado, baixa a cabeça, como se aquele momento de concentração pudesse levalo ao passado, mas sua tranquilidade deixa o ambiente mais leve, o homem diz ter 67 anos, solta um sorriso e olha em direção ao andarilho.
O andarilho o observa atentamente, voz calma compassada não parece ser uma pessoa triste. E um homem de cor negra um chapéu na cabeça, óculos escuro na face, um crucifixo no pescoço e alguns anéis nos dedos, carregando uma mochila no colo. Apos breve momento de silencio a conversa vai fluindo normalmente. E o andarilho pergunta o que ele faz para sobreviver.
Ele diz que recebe uma pequena aposentadoria, e também faz garrafadas usando vinho misturando folhas e raízes que a natureza lhe oferece, e a noite faz colher de pau. Soltando um grande sorriso mostrando os poucos dentes que ainda lhe restam na boca. E que aos finais de semana vigia carro.
O andarilho também sorri, e os dois se confraternizam naquele momento que nada tem de especial, mas só de estarem vivos já e motivo de comemoração, pois a vida sempre da mais do que necessitamos.
O andarilho pergunta o porquê da cadeira de rodas. Se o homem nasceu daquele jeito ou foi algum infortúnio surgido no decorrer de sua existência.
O homem solta mais um sorriso e inicia sua história. Conta que era mestre de obra, não lhe faltava trabalho, tinha uma vida boa, era cheio de amigos, assava carne todo final de semana.
Mas um dia caiu do andaime em uma obra, foi socorrido pelos colegas de serviço e levado ao hospital, devido à queda quebrou a bacia, mas o osso colou errado.
Paralisando uma das pernas, e a outra acabou se atrofiando por falta de movimento, mas o pior de tudo e que a cirurgia não fica Tão cara, porem ele não tem dinheiro suficiente para arcar com os custos.
O Cadeirante continua seu relato ao novo amigo, que não deixa passar nem um detalhe. No inicio foi difícil, sem dinheiro a casa perdeu a alegria, era insuportável ver tudo acontecer a minha volta e eu sem poder fazer nada, começou a faltar às coisas. Nos primeiros dias os colegas me ajudavam, era um entra e sai constante, mas com o passar dos dias foi sumindo um a um.
E a esposa que parecia não aguentar mais aquela situação, e motivada pelas amigas que outrora não saiam da nossa casa, começou a ir ao forro em companhia das amigas, voltou a vaidade ha muito perdida, cortou o cabelo, começou a se maquiar,mudou o jeito de se vestir, parecia ter rejuvenescido novamente, ela deve ter encontrado um novo sentido para viver.
Ou então estava fugindo da situação de forma fantasiosa, as saídas se tornaram cada vez mais frequentes. A situação foi ficando insustentável, pois ainda tinha que cuidar de um casal de filhos menores, sem ter o mínimo de condições, pois mal dava conta de cuidar de mim mesmo.
Ate que um dia chegou no meu limite, não sei se movido pelo ciúme, ou por não aguentar aquela situação, eu disse a ela, que se saísse naquela noite, quando voltasse suas roupas estariam em uma sacola no portão. Ela não me deu ouvidos, parecia não acreditar que eu fosse capaz de fazer aquilo, o que falei foi em vão.
Ela acabou saindo, foi para festa e voltou no final da madrugada, o dia já estava quase clareando, eu já tinha deixado tudo pronto, tinha arrumado todos os seus pertences, ela se manteve em silencio, pegou suas coisas, e saiu, parecia concordar com aquela situação pegou as sacolas e se foi, dai em diante fui obrigado a me desdobrar pois tudo ficou mais difícil.
O andarilho percebe naquele ser muita harmonia, e diz ao homem, amigo tudo na vida tem um propósito superior. Os guardiões do destino nunca dormem nada passa despercebido diante do criador, nada na vida acontece por acaso, e mesmo que no momento que as coisas acontecem, se não descobrimos o por que no hoje e porque a resposta surgira no amanha.
Você parece uma antena que recebe energias superiores o tempo inteiro, isso não e uma coisa comum, você deveria se sentir um privilegiado das forças divinas, todos têm dons, mas poucos sabem que tem, e os que descobrem o dom que tem, em sua maioria não conseguem usa los no bem comum.
O cadeirante olha para o andarilho, e diz, agradeço a deus pela minha vida, pois da altura que cai não era nem para estar vivo. E apesar de todas as dificuldades, as quais, tive que ir superando no decorrer existencial, ainda consegui formar meus dois filhos, que hoje me dão muito orgulho.
Não descobri ainda minha missão, sei que a vida tem propósitos específicos na vida de cada habitante deste planeta, pois somos instrumentos criadores a disposição do sopro divino, não temos idéia do que ainda esta por vir. A própria bíblia nos diz que a casa do pai tem muitas moradas, mas acredito que em um futuro não tão distante daremos um salto evolutivo.
O andarilho fica surpreso com o conhecimento do novo palestrante.
E vendo o interesse e a disposição do ouvinte, o homem segue filosofando sobre fatos que cercam nosso cotidiano e nem percebemos, amigo a certeza deixa a pessoa onde ela esta, e a dúvida e as incertezas que nos fazem mover.
O andarilho toma aquilo para si, e diz para o homem continue estou gostando de lhe ouvir.
Aquelas palavras fazem o locutor se sentir Importante. Pois raramente alguém doa uma parte do seu tempo para ouvir o que ele tem a dizer, e o homem continua.
Não estamos vivendo uma era de mudanças e Sim uma mudança de era, isso e incontestável, quando era jovem as alegrias eram muitas, tínhamos o que fazer, não éramos platéias dos acontecimentos, jogávamos bola em ruas poeirentas, bolinha de gude, construíamos carrinhos de rolimã, íamos banhar no córrego, afiávamos pontas de ferro para brincarmos de finca.
Era uma vida onde o compromisso dos pequenos era consigo mesmo. Todos começavam a trabalhar logo cedo, quem quisesse ter uma bicicleta tinha que ralar, e muito.
De um natal a outro era uma eternidade, pois não tínhamos tantos compromissos. Todos acordavam cedo. Os prazeres da vida eram situações totalmente contrarias aos dias de hoje.
Quando meu pai comprava um disco novo ouvíamos repetidas vezes, e ninguém reclamava, era motivo de festa, uma menina de doze anos brincava de boneca, um menino de quatorze anos de carrinho.
Hoje o mundo em seu ritmo acelerado, nos consome pois o tempo nao sobra.
Não nos damos conta do ontem, o amanhã já e hoje, vivemos presos a nos mesmos, sem nos darmos conta que o tempo não retroage.
O andarilho percebe que o homem apenas quer um ouvinte, o interesse pelo ser humano só surge em tempos atuais quando e levado à mídia, um terremoto, um naufrágio, uma situação que gere comoção, mas quem esta na sua zona de conforto não se importa com o próximo.
Mudanças trazem medo e desconfiança. Fechamos os olhos àquilo que não nos pertence, a conversa foi agradável, o tempo correu, e assim a vida segue, dois seres satisfeitos, um por que falou, e outro por que ouviu.
O andarilho sente que veio ao mundo para servir. Ouvir ao próximo também e fazer caridade. Os dois se despedem o viajante segue seu caminho, sempre em busca de novas histórias.
Talvez essa seja sua missão, apos cada história uma reflexão, alma leve, a tarde chegou o andarilho nem percebeu, um vento fraco, pensamentos borbulhantes, a alma cruza mais um meridiano de luz. E o viajante segue com seu testemunho silencioso do próprio destino, sempre pronto a seguir em frente, pois o tempo não permite andar para trás.
Paulo César de Castro Gomes.
Graduado em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós-graduado em docência universitária pela Universidade Salgado de Oliveira Goiânia, pós graduando em Criminologia e Segurança Publica pela Universidade Federal de Goiás. (email. paulo44g@hotmail.com)
LIVRO PRONTO AGUARDANDO EDITORA PARA PUBLICAÇÃO