O Evangelho segundo a Gula
Para saciar o faminto desejo, qual oleiro,
A mão modela a massa com água quente e prazer:
Olaria, padaria, fantasia, quem diria, se faria à semelhança e imagem nascer.
Derrama a água, batiza, farinha a unção, sacraliza.
Esta é a delícia mui amada em quem ponho minha refeição.
Quem nunca provou, rejeite a primeira mordida.
Uma boca nega o pão que aos céus eleva o aroma
E que partido, dividido, sacia e alegra a vida.
Imolado o queijo, derramado o leite, não há quem não o coma
Junto, perto, dentro, vivo, sacrário, reside o pão
Outro dia, olaria, nova mão à massa, ressurreição.