Cinquenta e poucos anos
Cinquenta e poucos anos.
Não há mais que se planejar o futuro, pois
Nele estou; não há mais que se temer a morte,
Essa estranha senhora que vai me desposar, sem
Se se apresentar por inteira.
Não há mais que desprezar a liberdade, pois sem
Esta, morte e futuro se atracarão em disputa covarde....
Não há mais que se querer menor e nem maior, tão somente
A estatura exata dos anos existidos.
Sem o mar, o vinho e o sol, não existirá o verso,
Que me perca então nos desvarios dessa tríade, atraído
Pela força inexplicável de saborear cada ato de vadiagem,
Cada passo impensado.... assim sendo, perpétuo.
O sorriso está aberto na flor vadia e cancioneira
Do caminho a se criar
Tornando-se húmus...
Rota de um cálice, contíguo à certeza
De mais nada temer.
Dedicarei então um verso à vida, em cada
Dia que me sobrar, em cada segundo de ar,
Cada noite em que vier a saudade...passada
E futura, pelas mãos da mulher companheira,
Amando, amando, amando.