Acróstico
Assim seja (oh meu bem!) essa cândida face
Numa imagem a assomar o purpúreo matiz;
Assim seja o pincel cuja tinta ultrapasse
Com a ponta o estopim do miúdo nariz;
Assim sejam, ademais, esses úmidos lábios,
Rasos mares de sal a lamber os abrolhos;
Livro mudo que aduz o saber aos mais sábios
Através do sinal que transmitem os teus olhos...
Assim seja o rubi, mesmo o jaspe mais caro,
Negros cachos os teus, atavios do carvão;
Assim seja o cabelo, que em muito comparo
Como a tufos de fios, entrançados ou não;
Assim seja a penumbra que esgota a candeia,
Realengo de cães o ladrar da matilha;
Longos ecos de voz cuja música ondeia
Até a rápida mão que a guitarra dedilha...
Assim seja o punhal cuja lâmina impele
Normalmente da pálpebra o talhe dos cílios;
Assim seja o arrebol que esbraseia essa pele
Contra o frio tilintar de metais e utensílios;
Assim sejam as marés, ardentias da Lua,
Repetidas no embalo em que um barco se apalma;
Lindos versos de Amor, que a matéria cultua,
Assim seja o poema que exprima a tua alma...
Assim seja esse tronco espiral e pequeno
No horizonte da colcha bordada em cetim;
Assim seja (oh meu bem!) esse hálito ameno
Cuja boca emudece em sorrisos a mim;
Assim seja do prado o animal pastoreio,
Relva verde ou capim que o rebanho desata;
Livres dedos que afagam a minúcia do seio
Ante as águas azuis do tombar de cascata...
Assim seja da face esse terno semblante
Nos espelhos dispondo os seus pálidos tons;
Assim sejam os corcéis, num galope distante,
Cuja crina semelha a teus olhos marrons;
Assim sê, afinal, como a flor entreaberta!
Rosa bela ao jardim onde Deus a plantou...
Leva em ti o esplendor à mais terra deserta;
Ao Amor que tu queres o Amor que te dou!