VELHOS AMIGOS

Ela me abraçou.

Quase não contive

As lágrimas que queriam rolar

Despretensiosas pelo meu rosto.

Perguntou como estava,

E disse que a nossa filha

Voltaria no domingo

Da casa dos seus pais.

Quis saber dos roteiros,

Se me alimentava bem,

Se agora dormia normalmente

E se havia parado com os comprimidos.

Elogiei os seus trajes,

E me fortaleci

Com o seu sorriso

Que continua forte e sublime.

Não perdeu os gestos,

A implicância com a minha barba

Nem a fragrância alucinógena Emanada pela sua pele.

Requisitou os seus livros do Neruda

Os vinis da Mercedes Sosa

Que comigo ficaram

Após a nossa última separação.

Três anos.

Perguntei se guardava

As minhas poesias antigas

Escritas no outono de 2001,

Inspiradas na nossa primeira paixão escolar.

Falei sobre o meu último documentário,

Falou da última exposição que organizou.

Convidou-me para ir à Bolívia,

Lembrei que o nosso retrato ainda estava

No mesmo lugar no nosso apartamento.

Nos beijamos,

Como não nos beijávamos desde 2000.