Acróstico

Ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens;

Bebesse do vinho dos deuses ou do fel dos demônios;

Comesse entre príncipes e mendigos;

Desse minha alma em nome da caridade;

Entregasse meus bens para serem repartidos;

Fizesse e cumprisse sete votos, setenta promessas;

Garantisse o direito à vida a cada feto, a todo ser que respira;

Humanizasse a mais violenta besta-fera irracional;

Instigasse os ladrões e assassinos ao arrependimento;

Juntasse as religiões numa só fé;

Levantasse uma só bandeira para todas as nações;

Movesse todos os corações para o lado da luz e do bem;

Negasse aos meus olhos o direito de não ver o que não presta;

Ouvisse o clamor de quem chora na escuridão das ruínas;

Ponderasse melhor todos os meus gestos e atos;

Queimasse todas as provas que condenam os inocentes;

Rumasse todo navio negreiro de volta para suas famílias;

Sustentasse com intrepidez toda verdade, ainda que fosse contra mim;

Transformasse pedras em pães e tirasse água das rochas;

Unisse tribos, povos e raças;

Visitasse órfãos, viúvas e encarcerados;

Xeretasse os infinitos e explicasse os "porquês";

Zombeteiro eu seria se não tivesse em mim a razão do amor.

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 02/01/2013
Reeditado em 26/04/2023
Código do texto: T4064023
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