Acróstico
Ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens;
Bebesse do vinho dos deuses ou do fel dos demônios;
Comesse entre príncipes e mendigos;
Desse minha alma em nome da caridade;
Entregasse meus bens para serem repartidos;
Fizesse e cumprisse sete votos, setenta promessas;
Garantisse o direito à vida a cada feto, a todo ser que respira;
Humanizasse a mais violenta besta-fera irracional;
Instigasse os ladrões e assassinos ao arrependimento;
Juntasse as religiões numa só fé;
Levantasse uma só bandeira para todas as nações;
Movesse todos os corações para o lado da luz e do bem;
Negasse aos meus olhos o direito de não ver o que não presta;
Ouvisse o clamor de quem chora na escuridão das ruínas;
Ponderasse melhor todos os meus gestos e atos;
Queimasse todas as provas que condenam os inocentes;
Rumasse todo navio negreiro de volta para suas famílias;
Sustentasse com intrepidez toda verdade, ainda que fosse contra mim;
Transformasse pedras em pães e tirasse água das rochas;
Unisse tribos, povos e raças;
Visitasse órfãos, viúvas e encarcerados;
Xeretasse os infinitos e explicasse os "porquês";
Zombeteiro eu seria se não tivesse em mim a razão do amor.