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Porque tem momentos que são assim mesmo, tudo dá errado, tudo desanda, tudo tá uma verdadeira bosta e não tem como evitar ou tentar disfarçar: É aquela merda mesmo e pronto! É, fodeu mesmo, danou-se, avacalhou, apelou para a baixaria, lascou o cu com a pedra, é furico virado, é crise de priquitiu, é falar palavrão até enjoar, na tentativa de livrar-se da raiva, é vontade de matar, de morrer ou simplesmente sumir. É vontade de voltar no tempo e tacar uma tamancada na testa do filho da puta e gritar:" -Hei, devolva-me os quatro anos!", mas não dá. É chorar com desespero: "- Um cafuné, por obséquio", mas não se pode dar urgência aos sentimentos, é preciso fôlego, calma e domínio nos nervos para deixar as coisas irem embora, ou então derramar rios de lágrimas até os olhos ficarem inchados, parecendo duas bolas de gude cinzentas, quem sabe penar no ombro de um amigo, não dormir algumas noites, perder alguns quilos e perceber que é uma besteira tudo isso, se revoltar e fazer aquelas extravagâncias que no outro dia nos dá uma vergonha e aquela velha vontade de voltar no tempo. Fazer tudo de errado, arrepender-se, essas coisas típicas de quem pensa que o mundo acabou naquela noite quando a última palavra dita foi um "adeus", murcho de dar dó. É o medo de estar sozinha para sempre, duvidar de quem está perto, achar que estar trancada dentro de si mesma é a solução, ou preferir ser criticada por falar insistentemente dos calos, dor nas costas ou alguma pontada no coração, um furo na alma, um tiro na testa, um soco no estômago. É hora de admitir que perdi, que só fiz bobagens, que só fizeram bobagens, que esperei demais, apressei, tive razão e calei, briguei por nada, brigaram comigo, achei que poderia ir mais longe e não saí do lugar, admiti barbaridades acreditando que as coisas mudariam e mudaram: agora estou aqui, sem uma parte do que fui um dia, resta-me o medo de preencher-me com novos fatos. É, meus amigos, lasquei-me, e não há esparadrapo que dê jeito nessas perebas. A sorte é que eu tenho consciência de que caí da bicicleta porque fui empurrada, dói menos quando temos uma desculpa, dói mais quando quem empurrou foi nosso companheiro de passeios.

Larissa Cavalcante

Lari Cavalcante
Enviado por Lari Cavalcante em 07/03/2007
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