AdeMB

.:.

A paisagem que se desenha livre ao rés do chão –

Dengosa e faceira –, ressente-se docemente...

Reluzir, na tela exposta, restringe-se à deusa viva:

Invariavelmente linda, és esplendorosa, mulher plena!

Ah! Natureza morta, praia insípida que me cega...

Não tenho olhos para ti, porque meu casto sentido,

Avariado pelo furor da vermelha boca, é tentação.

Deus, ó Deus! Mereço tanto encantamento?

Esse olhar que a lente me esconde é um tormento!

Movam-se ondas, avance impiedoso mar ardente...

O que meus olhos vislumbram e desejam e sentem...

Reflete em mim, em cada parte que vibra e veleja.

Abraço o meu sonho, em seda branca, cabelos ao vento.

Esperando que o tempo, senhor dos devaneios,

Sinta compaixão e me presenteie, após tanto tormento.

Beijo a tela, buscando um singelo toque... Devaneio tolo!

Errei o tempo do espanto, mas o que me custa tentar?

Zombaria de mim, ó deusa misteriosa, apenas por que sofro?

Estaria eu, pobre mortal enxertado de encantamento,

Reproduzindo a insensata e tortuosa sina dos poetas?

Recuso-me crer nisso - no mistério que minha fantasia pede!

Acordei do delíro, mas sua imagem, irretocável, persiste em mim.

Crato-CE, 24 de setembro de 2012.

17h42min

.:.

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 25/09/2012
Código do texto: T3900755
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.