POR FAVOR, MATAIS-ME!
Por favor, matais-me, pois não aguento olhar para vós e sentir asco e desprezo.
Eu vos rodeio como as trevas rodeiam a luz!
Eu vos escuto cochichar, vejo-vos sorrir, acompanho vossas bocas imundas mastigar a imundície humana: vós mesmos.
Isso me afeta, fere-me. Não por me importar com vós, mas por não aguentar mais vossas presenças.
Cumprimento-vos, confraternizo-vos, sorrio-vos, mas, na verdade, nessas horas, igualo-me ao personagem de Maupassant, Georges Duroy: nada mais importa do que o meu bem-estar.
Estou cansado!
Por isso, imploro-vos, matais-me!
Matais-me pelas costas, pois eu sei que sois covardes!
Contudo, utilizais um revólver, pois, com um tiro, deixo este mundo como um estampido. Assim, não terei como me arrepender ou pensar em minha vida.
Peço-vos isso, pois minhas várias tentativas de vos tolerar foram infrutíferas. Não posso viver em um mesmo mundo que vós, pois minha mente egoísta e minha alma grandiloquente destroem tudo e consomem a vós como uma cigarrilha: fuma-vos até o fim e quando não há mais nada para tragar, joga-vos no chão e pisam, depois soltam a fumaça para o ar... dispersando-vos.
Confesso: eu vos odeio.
Matais-me, matais-me...
Não quero mais olhar-vos.
Se, ao menos, eu morrer saberei quem me matou.
"A morte parece menos terrível quando se está cansado". Simone de Beauvoir