I100
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Investigar o mundo com a retina obliterada
Não nos dá a perfeita dimensão da vida, do amor.
Doida e tresloucada, cheia de encanto e dissabor,
Inverta o polo da visada e perceberá saídas...
Rindo agora depois que o olhar descerrou o medo?
Ah que alegria! É nessa busca que está nosso segredo.
Fechei os olhos – da ilusão brotou encantamento.
Entre uma e outra quimera, em cada devaneio, silente,
Invadiam-me os raios do torpor e da lassidão plena.
Toques, abraços, carícias... Corpos careciam na cena.
Ousei e minhas mãos descobriram o acasalamento.
Sonhos, ah quantas tolices nos fazem desejar, tormento!
Alivio a realidade, todavia, a cada frustração da pena...
Sem o toque, imaginando apenas o sutil e pleno contato,
Ignoro o medo, desdizendo as previsões dos tratos sociais.
Exultarei no meu versejar, desejando o que não posso...
Buscar na fantasia os recursos singelos e puros da poesia,
Resgata a dignidade de atos proibidos, ameaçando casais.
Aqui e ali, entre um e outro verso, serei absolvido com razão.
Deus!
Eis que me aflige o despudor de escrever o que não deveria...
Honro as famílias, prezo cada gota que flui no coração que amo.
O que busco aqui, neste intenso soletrar de extravasamento,
Levar-nos-ia aos tribunais se verdade fosse... Mas no meu transe,
Algemado pela intangibilidade que somente o virtual nos pode dar,
Não temo o clamor da justiça nem a censura dos que me puderem ler.
Deus, absoluto e soberano, criva-me na pele o perfume santo,
Alterando, na alteridade, a pluralidade das buscas do pensamento.
Crato-CE, 17 de junho de 2012.
04h23