TREM DE FERRO

TREM DE FERRO

Silva o apito na quebrada da serra, magestoso o trem chegando vem, ansioso vem o trem, ansiosas pessoas se movimentam na sala de espera da estação, é a hora das partidas e das chegadas, hora do adeus e boas vindas programadas...

Não vou mudar, não vou ficar, não vou gritar, não deixar que a tristeza me dane, saudade deixo, como o freixo, resisto à maciez de teu rosto que chora. Parte o trem levando-me no embalo do adeus, parte reparte de tal jaez, parte minha que fica nos olhos teus, parte tua que levo nos olhos meus. Um enredo ingênuo tomou-me a vida, desde a hora decisiva que no compasso de espera entraste, em contraste com o dia que nascia, eu me lançava, destemido à porfia.

Era assim a despedida na gare da estação do adeus, remontando idos tempos de outrora, onde o amor distâncias vencia, ia além momento, se eternizava, no morse confiava, saudosas letras de uma alma que sangrava. A tudo isto, movimento sacrossanto, seu Barroso, da estação o chefe, tornava-se presente, de bem querer infindo, nobre homem memorável no coração de toda gente...

Desliza preguiçoso o trem que traz a vida, leva vida sem parar por onde passa, e fumaça vomita, feito de ferro torna-se mistério quando da noite, na escuridão infinda, lança luz sobre terra que dormita.

O trem já vem meu amor, meu bem! Se bem que o trem vem e parte num espaço de minutos marcado, o desalmado da estação parte, por que partes desalmado trem? . Trem noturno, trem diurno, trem da vida, trem da morte, que por sorte vai e vem. Rolete de cana encanado, menino pobre motivado, vende amendoim cozido, doce de leite é vendido, coco, cocada,manguzá e pamonha, tudo sem cerimônia, a fome vai saciar.

-Vendo salgados, doces, guloseimas; vendo sonha prá quem gosta de sonhar...

Grita insensível menino condoreiro, que nem sente jovem moça chorar, gritam todos os vendeiros em surdina prá quem possa mercadoria comprar.

Trem de ferro, comboio sobre terra estendido, destemido sobranceiro gigante à vapor movimentado, pelas ventas fumaça e fogo condimentado, por onde passa duas missões são cumpridas: traz a vida de quem vida traz prá cá, e leva a vida de quem vida leva prá lá.

Era assim o trem de outrora que foi s'imbora prá nunca mais voltar. Ficamos nós, os saudosos da longa nota, roucos sustenidos perdidos no ar...

Trem na estação, seu Barroso, os passageiros, as saudades e tudo mais, impressos ficaram num passado que vale a pena lembrar.

CLira

clira
Enviado por clira em 07/05/2012
Reeditado em 23/08/2017
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