Saigon
Entre os cacos que ele deixou, quebradas louças, quebrados sonhos.
Na penteadeira encostada, a
umidade toma conta da tela de uma moldura já quase sem cor.
Numa fresta amiga um intrépido raio de sol brinca, iluminando o quarto
cruzado por vultos e sombras. Memórias más moram em mim.
Agora estou exausto pela guerra. Cem lágrimas para cada homem.
Morteiros, morfina, saudades de casa, fantasmas rondando meu sono.
Alguma dor é pior que a desesperança? No meu sonho não haviam
irmãos matando irmãos. As almas rebeldes se encontravam com a
salvação e nós esqueciamos esse 1965.
Eliciei a casa inteira. Dei de ombros, segui.
Lucidamente, obriguei-me a não pensar nisso. Nem chorei, nem sorri.
Anjos digam amém. Os helicópteros estão voltando..
Vai minha estrela, tu encontrastes a paz. Um dia te alcanço!
Olho pro céu tendo a impressão de que um dia estaremos juntos
longe dessa loucura.
Tomo meu fuzil num rápido movimento, várias noites que não durmo.
Observo os aflitos ao meu redor, todos com medo, eu, com seu sorriso.
Uma pista que você deixou para eu lembrar que a felicidade existiu.
Paro um segundo na mira, fixo, flerto com a consciência... Disparo uma
rajada, escondo-me detrás de uma árvore. Granadas caem
aleatoriamente procurando os homens-fantasmas-da-floresta.
Sussurrei uma oração: Sustentai-nos, Coragem, vitória ou morte nos
abrace!
Inimigos sem rostos, abatidos aos montes, sem chances. Triste e real.
Guardei meu coração bem longe daqui. Que eu lembre!
Ontem eu era um menino, hoje não. Guerra feita! Mas,
nunca me deixarão te esquecer, as estrelas e os vagalumes.