N2
.:.
Nasce a mulher do século.
Esperada, o mundo aos seus pés se curva.
Ganhamos um presente, uma deusa, uma musa...
Inimaginável àqueles pífios e céticos mortais.
Amantes mesquinhos, tolos homens sem fé.
Não percebem a diva contemporânea que aflora?
Esqueçam-se das outras... Que outras? Ela é demais!
Canalizo minhas atenções para o dorso.
Olhem que umbiguinho lindo ela tem!
Sinto em meu corpo o torpor sem remorso,
Tateando minha devassa ira – puro desdém!
A magia e o encanto resultam do que não posso.
Cada sorriso externado, mesmo os desenxabidos,
Levanta almas pagãs, dá tesão, ergue a libido.
E na simetria das formas – o que tem de perfeição!
Metades que se completam: coxa, seio, perna, mão...
Esqueço as metades, quero tudo e em dobro, ora!
Nasci atrevido, errante homem, buscando afora,
Todo dia e a todo instante encontrar,
Imagem sem retoques mundanos, que a pintura dá.
Nessa escultura, forjada com dedos d’ouro,
O homem não põe a mão – ela é o próprio tesouro.
Fortaleza-CE, 15 de fevereiro de 2006.
23h59min