AOS REIS TUDO AOS SÚDITOS NADA
A O S R E I S T U D O A O S S Ú D I T O S N A D A
- Tu não dizes senão tristes verdA'des, oh homem de Deus!
Aos reis tudo que é bom, gordO' e saboroso;
as mesas deles são espaçosaS' e fartas;
nos seus exércitos os mais bR'avos soldados;
nas suas camas as mais bE'las mulheres;
nos seus sonhos arroubos de vI'tórias;
os seus deuses recebem oS' louvores;
nas suas T'ranqüilas horas de lazer: gargalhadas;
nas sU'as músicas maviosas melodias;
os seus entenD'imentos são falas sem gritos;
os seus filhO's serão futuros príncipes;
e aos seus mortos dignA's mortalhas.
- Digo ainda: deixam-nO's respirar com hesitação;
só para suportarmoS' o trabalho de escravos;
sobre nossos ombros cargaS' insuportáveis;
nas nossas mesas, as Ú'ltimaos misérias das sobras;
para nos defenD'er, nossas próprias mãos;
em vez de sorrI'rmos, choramos;
nossos coberT'ores, palhas e folhas;
como deuses temO's o sol e a chuva;
no descanso noS' consolamos uns aos outros;
não sonhamos, N'ossa vida é repleta de pesadelos;
para os nossos filhos A' mesma herança;
se falamos não somos ouviD'os, se fazem de surdos;
e por fim, aos reis tudo e A' plebe nada.
(fevereiro/2003)