Diário do Jovem Aventureiro
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Capítulo 1: A Maldição1.
"Por favor... M-mate-me..."
Seus dedos gotejavam sangue enquanto a espada de lâmina escura tremia em sua mão.
A batalha intensa havia despedaçado sua armadura e seu corpo, mas
ele ainda não soltava a espada. Com os olhos em lágrimas, ele mais uma vez implorava pela morte.
"Por favor! V-vamos acabar com isso! Mate-me!"
Um dos seus joelhos finalmente bateu contra o chão frio. Ele tentou se apoiar com
a espada, e seu rosto revelou sua angústia. Não consigo pensar nele como o homem
cujo sorriso me guiou para a luz da vida. Nesse momento, não consigo pensar nele como
um Lorde escolhido pela Valquíria. Eu apontei meu Katar para ele.
"*ofegante* Por favor... Me deixe morrer em suas mãos..."
"Você quer mesmo morrer?"
Ele respondeu minha pergunta seca com aquele seu sorriso por trás do sangue e das lágrimas
que cobriam seu rosto.
"*ofegante* Claro, por que não?"
Ele ergueu lentamente sua espada, com a ponta em direção ao meu coração. Ele arremeteu com
toda a força que tinha, mas eu me desviei rapidamente e bloqueei o golpe com
meu Katar. Aher olhou para a lâmina, sem acreditar. Tive certeza do que ele estava pensando:
"Não pode estar acontecendo! Não é o que eu queria! Pare!" Eu conheço ele bem demais.
"Desculpe. Desculpe!"
O vento espalhava suas lágrimas pelo ar. Nunca pensei que fosse ver Aher chorando e implorando
assim. Sempre lidei com a morte como algo trivial: quer implorassem por misericórdia,
quer pedissem para acabar com isso, eu só fazia meu trabalho. Mas dessa vez é diferente.
Não posso matar Aher. Não importa o quanto ele implore. Meu orgulho não permite.
"Não!"
Com esse grito, entendi que a espada maligna o dominara. Enquanto a espada brilhava e se sacudia nas
mãos de Aher, pude ver que ela estava sugando a energia vital dele.
A espada era lançada em minha direção com violência cada vez maior: quanto mais eu esperar,
mais perigoso Aher vai ficar. Não tenho muito tempo. Só consigo pensar em uma maneira de
tirar a espada maldita de Aher.
Odeio pensar nisso. Mas é isso que tenho que fazer.
ZAP! BAQUE!
"Argh!"
"Kshar!..."
Pude ver o terror tomando conta do rosto de Aher em câmera lenta. Sua mão ainda não largava
a espada enquanto sua lâmina se enterrava em meu coração. A dor de cada batimento dele
era uma tortura, eu só queria que tudo parasse. Estendi a mão para Aher
enquanto ele se aproximava. Vi sua mão tremendo, e a espada finalmente caiu de seus dedos.
Acho que ouvi Aher gritar meu nome, mas então eu caí para trás, para uma escuridão entorpecente.
Não havia mais nada. Mas acho que venci.
Parece que não me serviu de nada, mas mesmo assim, é uma vitória.
2.
"Kshar."
"Sim, mestre."
São poucos os que têm permissão para entrar no salão escuro. Escondido dentro
da base secreta da Guilda dos Mercenários no deserto, dizem que metade dos
segredos deste continente está guardada aqui.
Depois de um longo silêncio, Kshar cumprimentou com cortesia o mestre que o convocou.
"Ouvi dizer que você encontrou a Valquíria, a Dama da Guerra, há algum tempo."
"Bem... Não é algo tão difícil de acontecer."
" é verdade. Mas também não é nada que aconteça todo dia."
"Humm... Isso quer dizer alguma coisa?"
"Ah, por favor. Estou tentando te elogiar. Não precisa ser tão humilde.
Um pouco de orgulho faz bem."
"Por que me chamou? Espero que não tenha a ver com o Valhalla."
"Não, não se preocupe. Eu só ouvi dizer que você não recebeu nenhuma missão
desde que você se tornou um Algoz. Queria ter a honra de ser o primeiro a
lhe dar uma missão, pessoalmente."
O sorriso do senhor da guilda era contido e relaxado, mas o olhar de Kshar mostrava
desconfiança.
"Não é outra tarefinha insignificante, é?"
"Hahaha, vamos! O que faz você pensar isso? Você não acha que não sou mais confiável
como chefe, acha?"
"Está bem. Desembucha. O que você quer agora?"
"Você não muda, não é mesmo? Por que não diz alguma coisa como...
'Às ordens, senhor'? Mesmo que você seja um Algoz, ainda estou acima de você
na guilda. Entendeu?"
Kshar jurou em silêncio para si mesmo que cortaria o escalpo desse atrevido
algum dia, e abaixou o olhar.
"...Às ordens, senhor."
"Bem melhor. Sim, aqui está sua missão. Vou lhe dar alguns itens, e quero que você os esconda
dentro das arcas da pirâmide. Não precisa se preocupar muito com
onde você vai colocá-los. É só espalhá-los por lá. Isso é tudo."
"O quê...?"
"Sei que não parece ser uma missão importante agora, mas acho que você é
o melhor homem para a tarefa. Acredite ou não, ela servirá bem para o futuro
da Guilda dos Mercenários."
"Tá bom."
"Kshar?"
Kshar estava sem fala, mas o senhor da guilda o deteve enquanto ele se virou para sair.
"Você não devia dizer 'Sim, senhor!' antes de sair?"
"...Sim, senhor."
*BANG*
"Hehe. Que cara nervoso, não?"
"Humm... Tem certeza que isso está certo?"
Huey saiu de seu esconderijo, aparecendo próximo ao senhor da guilda.
"Hã? O que quer dizer?"
"Você está sempre provocando o Kshar. Não acha que ele vai acabar estourando de
raiva com você um dia desses?"
A resposta do senhor da guilda, que sabia bem da simpatia de Huey por Kshar, foi a esperada.
" é divertido demais provocá-lo. Não concorda?"
*BANG*
"Que droga!"
*BANG* *CRAC*
"Pro inferno! Maldito!"
*CRAC*
"Quem diabos é você, maldito?! Por que bateu em mim?!"
O acesso de raiva de Kshar, que derrubava cadeiras e mesas, foi detido por um homem
que o acertou nas costas. Kshar gritou, furioso, mas parou imediatamente quando se virou
para ver quem o acertara.
"Z-Ziklein?"
"Que diabos você pensa que está fazendo?"
"Eu... Desculpe."
"Está causando problemas para o gerente da taverna, não sabe? Gritando por aí, quebrando
coisas... Está espantando os fregueses!"
"Eu... Não tenho desculpas para isso. Deixei a raiva me dominar..."
Ziklein deu um tapinha no ombro de Kshar, que agora estava pálido e esvaziado depois da raiva.
"Sei que o senhor da nossa guilda tem uma atenção especial por você, mas..."
"Eu..."
"Isso não lhe dá o direito de destruir a propriedade da guilda. Entendeu?"
As palavras de conforto de Ziklein acalmaram Kshar, que respirou profundamente. Ele percebeu
o que havia feito quando olhou à sua volta, na taverna: uma cadeira de madeira quebrada no canto,
e mesas viradas e espalhadas pelo chão."
"Espero que você cuide da cadeira quebrada e das mesas."
Ziklein parou o que estava dizendo, e ergueu a perna esquerda perigosamente.
"He he... e isto é por me chamar de maldito!..."
"Ei, Kshar! Ouvi dizer que você estava aqui! Hã? O que está acontecendo?"
'Meu salvador!', pensou Kshar quando viu Aher entrando na taverna. Aher reconheceu
a bagunça no bar, mas não a sua causa, e se dirigiu aos dois. Ziklein desistiu do golpe,
tocou Aher na cabeça, e saiu do bar discretamente, mas não sem antes sussurrar
um alerta a Kshar: 'Nunca mais me chame de maldito!'
A atmosfera sombria do bar secreto subterrâneo de Morroc foi rompida imediatamente
pela presença de Aher. Seus cabelos loiros e brilhantes, seu rosto alvo e seu sorriso gentil não
combinavam com o lugar. A sinceridade no sorriso de Aher era o que deixava Kshar mais
sem jeito.
"Perdi alguma coisa? Parecia que Ziklein ia te dar um chute daqueles."
"Esquece, não tem nada a ver com você. Por que veio até aqui?"
"Hein? E preciso de motivo para vir ver você? Ei, Kshar, por que não olha para
mim quando falo com você? Até parece que estou falando sozinho."
"Estou ouvindo, e respondo para você ver que está enganado.
Repito, por que está aqui?"
Kshar ainda estranhava ver um Cavaleiro tão relaxado no esconderijo
dos Mercenários. Não só ele não devia estar ali, como também a maioria dos Cavaleiros
tremeriam de medo naquele lugar. Ainda assim, Aher era seu amigo, então ele sempre era
a exceção à regra.
"Bem... Não é nada assim tão interessante. Eu só preciso ir a um lugar."
"Está em uma viagem? Aposto que está procurando companheiros."
"Quer vir comigo?"
Kshar quase respondeu "Sim" ao olhar ansioso de Aher, mas então se lembrou
da tarefa do senhor da guilda.
"Tenho uma missão."
O desapontamento de Aher ficou claro em seu rosto por um instante,
mas ele recuperou o sorriso.
"Acho que foi você que fez essa bagunça. Você odeia tanto isso?"
"Isso mesmo! Putz, como eu odeio aquele cara!"
Kshar tomou o resto de sua bebida de um trago só, e bateu o copo na mesa.
"Bem, é verdade, mas... Não fosse por ele, a gente não teria se conhecido."
"Que seja."
"...Rapaz, lembra da vez que ele mandou você tirar penas de Pickys?"
" é, eu me lembro! E não fico nem um pouco feliz com isso! Agora--"
"Haha, e também teve a vez em que você estava cortando troncos de bambu, e carregando-os
por aí nos ombros!"
"Já chega, tá? Eu..."
"Ha ha! Ah, e teve aquela vez que ele fez você roubar as roupas da Sohee!"
"Você é surdo ou o quê?! É, eu fui forçado a tirar penas de Picky, e acabei
levando uma surra de você! Foi a mim que o senhor da guilda mandou cortar bambus,
secá-los na sombra e cortá-los em pedaços! Eu roubei as roupas de Sohee,
lavei e mandei para o senhor da guilda! Deuses! Por que está me lembrando
de tudo isso?! Quer mesmo que todos pensem que sou um Algoz patético ou
algo assim?! *ofegante*"
O sorriso peculiar de Aher não se desfez, apesar dos gritos enfurecidos de Kshar.
"Não... Não. Só queria que você descarregasse sua raiva. Não se sente bem melhor agora?"
Kshar se lembrou por que gostava tanto de Aher quando ele desvirou a mesa e
o fez se sentar. Ele sempre conseguia confortá-lo em momentos como esse. Mas quando Kshar
olhou em volta, notou os olhares dos curiosos. Oh, por Odin! Ele tinha
o que agradecer a Aher, mas agora todo mundo sabia as coisas vergonhosas que
o senhor da guilda o forçara a fazer no passado!
Aher dissipou o incômodo de Kshar com um tapinha estratégico no ombro.
"Mesmo que seja uma missão inútil, faça o seu melhor. Você sabe, pelo orgulho da sua guilda.
Quando você terminar, eu já serei um Lorde. Estou um pouco desapontado por
você não poder vir comigo..."
"Quê?"
Kshar parou de tentar tirar a mão de Aher de cima do seu ombro quando ouviu isso.
Agora ele sabia por que Aher estava viajando...
"Bem, decidi que já era hora, sabe? Meu amigo já é um Algoz, e eu ainda sou
apenas um Cavaleiro? É por isso que vou me esforçar para me tornar um Lorde. Por que você não
me deseja sorte?"
"Tá bom, entendi. Boa sorte, Aher."
"Obrigado. Então, por que não comemoramos agora? É um pouco cedo, mas podemos muito bem aproveitar
agora, já que você vai ficar ocupado com sua missão. É, vamos beber a noite toda!
Kshar, nem pense em ir dormir cedo! Mestre, duas canecas de cerveja bem forte, por favor!"
Naquele dia, Aher fez Kshar beber com ele até de manhã cedo.
- Continua
*Todos os personagens no Diário do Jovem Aventureiro são fictícios:
qualquer semelhança com eventos e personagens reais é mera coincidência.