MEU DIÁRIO (Parte 13) 1980

AQUI AS PESSOAS PODERÃO CONHECER A HISTÓRIA DE ALGUÉM QUE NÃO SE IMPORTA DE EXPOR SUA VIDA. AQUI TEM HISTÓRIA DE UMA GAROTA NORMAL. MUITAS PESSOAS NASCERAM, MORRERAM, CHORARAM, RIRAM. AQUI VOCE SENTIRÁ A EVOLUÇÃO DO PAÍS, DE SERES HUMANOS. MUITO SOFRIMENTO ENVOLVENDO DROGAS, ASSASSINATOS, AIDS, PRECONCEITOS, OPRESSÃO POLICIAL E TUDO QUE VIVI NESSES ULTIMOS 30 ANOS. VÃO RIR MUITO DOS ERROS DE PORTUGUES QUE PRESERVEI. Não deixe de ler os doze primeiros capítulos.

PARTE 13

09/02/1980 são 10 horas da manha.

Então quando cheguei meus irmãos estavam me esperando. Coloquei a neném no berço e contei tudo a eles.

Coitados, um ficou olhando pra cara do outro sem saber o que falar ou fazer. Ai eu falei que não ficassem preocupados. O que importava era que a gente estava juntos. Eles foram dormir. Eu fiquei deitada com a cabeça completamente cheia e fazia. Não conseguia associar as coisas. Não via o futuro um palmo alem. O que seria da nossa vida? O que iria acontecer?

Adormeci assim, sentada na cama e acordei com Suzel querendo descer do berço. Ela feliz da vida sem nada entender. Desci ela do berço e ela falou dama. Dama é Delma.

A Delma apareceu na porta do quarto e a Suzel deu uns passinhos. Está quase andando. Eu fiquei feliz por uns momentos e ate esqueci meus problemas.

O telefone tocou, fui atender e a pessoa não falava e depois desligou. Eu tinha certeza que era o Bem.

Fiz mamar pra neném e como um robô comecei a limpar o apartamento. O Eduardo ligou perguntando se o Bem tinha voltado, eu disse que não. Ele disse que achava que o patrão deles ia despedir o Bem. Ele faltou 3 dias com hoje.

No quarto dia o Eduardo ligou pra falar que o Bem apareceu e o patrão não mandou ele embora e que ele estava trabalhando e estava muito triste. Não estava falando com ninguém.

Eu sentei na cozinha e aquela sensação de impotência tomou conta de mim. Olhei a Suzel brincando com a Delma e criei forças novamente.

No dia seguinte, dia 05/02/80 o dia que comecei a te escrever novamente. Diário eu errei o mes que comecei a escrever. Foi em fevereiro e não em Janeiro. Agora eu estava dando uma repaginada e notei o erro. Desconsidere as data de mês 1 é mês dois.

Eu estava preparando o almoço quando a campainha tocou. Ando tão nervosa que levei um susto danado e queimei a mão.

Fui atender e era o Bem. Quase cai pra trás. Ele viu a minha mão vermelha e perguntou o que foi. Eu disse que havia queimado com susto da campainha.

A Suzel viu ele e correu feliz para perto e ele falou nossa, ela ta andando? Ele abraçou ela e depois falou que ia ali e já voltava. Eu não estava entendendo nada. Quando voltou foi com uma pomada, ele tinha ido na farmácia comprar. Ele mesmo passou na minha mão e perguntou. “Tem almoço? O cheirinho ta bom” Eu coloquei a mesa e ele ficou brincando com a Suzel. Depois foi almoçar e elogiou a comida falando que tava com saudades da minha comida.

Quando ele terminou falou se nós poderia conversar a noite. Que ele tinha que voltar pra galeria que a hora de almoço tinha acabado. Eu disse que sim. Eu estava morrendo de curiosidade de saber o que ele ia falar, fazer.

Esse dia não passava, fiz mil coisas para o dia passar mais rápido. Estava me sentindo tão perdida. E um filme passou em minha cabeça. Porque eu estava tão fraca assim? Que poder aquele homem tinha sobre minha pessoa?

Eu que desde pequena lutava como uma loba. As pessoas falavam que tinha hora que eu era mais adulta que minha mãe. Se faltava a comida, rapidamente eu arrumava algo pra fazer e trazer comida pra casa.

Com 8 anos eu cavava fossa, poço... adorava ir cavando até encontrar água. A água começar a brotar da terra era tão lindo. As pessoas não queriam deixar eu no fundo. Mas se eu queria não tinha jeito. As pessoas desistiam de tentar me convencer de algo. A água dava com uns 3 metros de fundação. Era geladinha e eu me orgulhava de ser a primeira a tomar aquela maravilha da natureza. Eu que sai da escola antes de terminar a quarta série primaria pra trabalhar de baba. Com 11 anos e baba. As pessoas falavam, babá bebê. Eu já não agüentava mais ver a mãe no canto triste sem dinheiro, sem esperança. Pedi a uma tia que trabalhava em casa de família pra arrumar um serviço pra mim e ela arrumou de babá. A única coisa triste era que eu só podia vir pra casa de 15 em 15 dias e eu sentia muita falta da família. Mas quando era dia de pagamento que eu via a mãe feliz ir na feira toda orgulhosa comprar as coisas. Comprar e não pedir. Eu via que valia a pena. Trabalhei dos 11 aos 12 anos. Até o dia que minha vô foi me buscar porque a mãe morreu. A mãe tinha uma ulcera e quando operou ela estourou e complicou tudo. A mãe antes de morrer fez um bilhete assim.

“ Se por acauso eu morrer. A Beth fica com a vô, o Cláudio e a Selma com a Margarida, e a Delma com a Nalva”

Coitada da mãe, ninguém ficou com quem ela queria. Eu fiquei com a vô ate meu vô morrer. Quando isso aconteceu, a vô com essa mania de gente atrazada, disse que o tio Zé era o novo chefe da família. Esse não perdeu tempo e já começou a espancar eu. Fugi de lá e fui morar com a tia Mercedes. Depois a tia Mercedes começou a encher meu saco pra ir pra igreja e eu nunca gostei de ser forçada a nada. Fugi e fui morar na casa da tia Zeca. O Zezé filho dela e meu primo, ficava querendo namorar comigo. Um tempo até que eu namorei, mas ele queria me tratar como mulher dele, cheio de ciúmes. Eu tinha 13 anos e ele 23. enjoei logo dele e comecei a namorar o outro primo o Zé, irmão do mingo. Fiquei com ele de 14 anos até 17 cansei dele também que era crente e queria que eu fosse também. Fui pra tia Mercedes denovo. Depois ele insistiu e fomos morar juntos novamente. Não deu certo porque eu já estava era de olho no Mingo o terceiro primo que eu queria namorar...

Pensando bem, eu também era bem saidinha né? Nesse momento a campainha tocou. Notei que essas lembranças fizeram o dia passar rápido. Já era noite. Abri a porta, o coração estava acelerado. O Bem chegou todo sério, me olhou profundamente e beijou meu rosto pedindo perdão.

Ele começou a falar então que aquela mulher tinha ligado pra ele e falou que tava em Itapecerica. Ele estava louco que perdeu a guarda do filho e tinha discutido comigo e foi pra lá. Quando chegou ela que tinha a chave da casa, estava lá toda de camisola e começou a provocar ele. Ela fez de tudo com ele e ele ficou esses dias com ela como se o mundo não existisse. So que ontem ela já estava cheia de exigências. Disse que era pra ele vir aqui em casa e botar todos pra correr que ela queria morar no centro. Ele disse que tinha contado tudo pra ela sobre nossa vida. Disse então que de repente acordou e notou que todos que falavam que ela queria era dar o golpe do baú nele, estavam certos. Ai ele notou a burrice que tava fazendo e percebeu que eu era a mulher certa pra ele. Ele pediu a ultima chance.

Eu disse a ele que sofri muito, não só por mim, mas pela família inteira. Falei que preciso cuidar dos meus irmãos, que eu sou a segurança deles e da Suzel. Eu disse que não poderia continuar vivendo essa insegurança.

Falei que amava muito ele, mas se fosse pra viver assim que eu preferia voltar tudo pra traz e começar minha vida novamente. Falei que bem ou mal eu tava na tia Mercedes com meus irmãos, trabalhando e um dia mais cedo ou mais tarde nós ia conseguir as coisas e ter uma vidinha tranqüila. Falei que mudei todos meus planos e sonhos e fiz tudo como ele queria e na primeira oportunidade, ele me traiu e estragou tudo.

Ele estavam com os olhos vermelhos em silencio me ouvindo e falou.

Eu sei de tudo isso mas vamos começar tudo de novo? Me da essa chance vai? Juro que não vai se arrepender.

Diário, pensei, repensei e aceitei. Eu amava aquele homem e queria muito que desse certo.

Passou 15 dias e tudo estava perfeito. Nunca mais brigamos. Diário uma paradinha. Depois continuo.

Diário hoje dia 11/03/80

Diário já passou mais de um mês e tudo está muito bem. Fiquei um bom tempo novamente sem escrever não é? Bem mais pelo menos te coloquei em dias dos acontecimentos. Adivinha o que estou fazendo? Preparando tudo pra o aniversario de um aninho da minha gatinha. Diário, ela está linda e danada que só. A Selma já está com um barrigão daqueles. O Bem está feliz eu muito mais. O Cláudio bem, e a Delma já começou a estudar num colégio aqui perto. Estou fazendo os docinhos. Convidei a minha família toda e o Bem vai ver se os pais dele deixam o filho dele vir também.

Ele está todo empolgado. Comprou tanta coisa e a tia Margarida que está fazendo o bolo. Ela veio um dia aqui e disse que somos parentes e não tinha porque ta de brigas e caras viradas. Por mim tudo bem. A Nalva também falou que quer batizar a Suzel. Eu deixei mas não ligo pra isso. Não sou batizada, nem eu nem meus irmãos. Mas se falam que precisa... CONTINUA NA PARTE 1

ELISABETHDOVITAL
Enviado por ELISABETHDOVITAL em 26/10/2009
Código do texto: T1888014
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