MEU DIÁRIO (Parte 12) 1980

AQUI AS PESSOAS PODERÃO CONHECER A HISTÓRIA DE ALGUÉM QUE NÃO SE IMPORTA DE EXPOR SUA VIDA. AQUI TEM HISTÓRIA DE UMA GAROTA NORMAL. MUITAS PESSOAS NASCERAM, MORRERAM, CHORARAM, RIRAM. AQUI VOCE SENTIRÁ A EVOLUÇÃO DO PAÍS, DE SERES HUMANOS. MUITO SOFRIMENTO ENVOLVENDO DROGAS, ASSASSINATOS, AIDS, PRECONCEITOS, OPRESSÃO POLICIAL E TUDO QUE VIVI NESSES ULTIMOS 30 ANOS. VÃO RIR MUITO DOS ERROS DE PORTUGUES QUE PRESERVEI. Não deixe de ler os onze primeiros capítulos.

PARTE 12.

Perdoei mais fiquei preocupada. Mais tarde todos levantaram e parece que tudo voltou ao normal. O Bem havia saído, disse que ia comprar uns frangos pois o gato estragou o nosso almoço. Eu tirei a parte que o gato pegou e foi uma pequenina parte pois estava bem coberto com a toalha. Coloquei no forno e esquentei. Quando ele voltou e viu a mesa arrumada elogiou mas falou que não precisava comer o resto do gato. O Cláudio disse que o gato só pegou um pedacinho e que era pecado jogar a comida fora. Eu disse ao Bem que passamos muita fome e era proibido estragar comida. O Bem falou que entendia e alegremente ceamos e deixamos os frangos para o jantar. O dia 25 de dezembro foi ótimo, tirando o desconforto da manha. Agora faltava só 5 dias para o ano novo que seria tudo novo e feliz.

Já era tarde da noite quando o telefone tocou. O Bem foi atender e de novo ouvi aquela vós de irado. Depois ele falou que já ia. Quando desligou disse que o Antenor ligou pra falar que a ex mulher dele estava tocando fogo na Isabela lá em Itapecerica. A Isabela é um dos carros antigos do Bem. Ele tinha vendido os outros pra conseguir dinheiro e comprar a parte da casa da ex mas da Isabela ele tinha um carinho especial. Ele falou “Vamos Beth, vou tomar um táxi porque pra dirigir tão longe é arriscado ainda com a perna assim e preciso chegar lá voando. Aquela desgraçada vai ver” eu acordei a Selma e disse pra ela dar uma olhadinha na neném que eu ia sair com Bem e não sabia a hora que voltava e que depois eu explicava pra eles o motivo. Saímos correndo e o Bem deu sinal pro primeiro táxi que apareceu e falou pro motorista que pé na tabua pra Itapecerica que era um assunto de vida ou morte. Diário, quase morri de susto. O táxi voava mesmo e sem transito pelo horário... acho que chegamos em uns 25 minutos. Imagina do centro até Itapecerica em 25 minutos. Dava 1 hora mais ou menos.

Quando chegamos a mulher estava agachada do lado do carro que estava queimando os bancos. O Bem pulou do carro e deu um soco nela. Ela chutou a perna dele machucada e começou a arranhar ele todo. E os dois rolaram a rua de pedregulho e eu chorava e o motorista estava mudo de boca aberta sem entender nada. De repente a mulher olhou e viu eu no carro. Pegou um paralelepípedo e veio em nossa direção. Eu senti o que ela ia fazer e falei ao motorista.” Moço, o senhor tem amor em seu carro?” ele disse sim. Eu falei. “ então vai de ré que essa mulher é louca” o homem não pensou duas vezes e arrancou e o paralelepípedo não acertou por pouco o carro. Depois ela saiu correndo pelo lado oposto da rua e o Bem disse. Vamos pra 47. eu perguntei, e o que é isso 47? Ele disse que era a delegacia e que certamente ela foi pra lá. Quando chegamos ela chegou logo atrás. Fiquei no táxi esperando e baixei quando a vi passar. Ela passou rasgando mais ainda a roupa. Era pra falar que foi o Bem.

Depois de quase 2 horas ele voltou. Ele nervoso que só. Disse que ela tinha mentido muito e o delegado sacou que ela era baixa e tava mentindo. Ele dispensou os dois mais ela ficou lá falando ainda. Fomos pra Itapecerica e o Bem pediu ao Antenor pra ficar de olho que depois ele dava um agrado. Chegamos em casa de manhã. Tomamos banho e caímos na cama. A Selma disse que era folga dela e que ia levar as crianças pra passear na praça e ela ia cuidar delas o dia inteiro. Era tudo o que eu queria, dormir o dia inteiro.

Acordei umas 3 horas da tarde e deixei o Bem dormindo. Não tinha ninguém em casa e eu fui lavar umas roupinhas. Umas 6 horas da tarde a Selma chegou deu banho na Suzel que caiu que nem uma pedra. Eu sentei na sala com Selma e Delma e comecei a contar o ocorrido. O Bem acordou com cara fechada e disse. “tem coisas que você não precisa contar pra todos. Tem que ter um pouco de privacidade, seus irmãos não precisam saber tudo o que acontece na nossa vida. Daqui a pouco você vai falar até o dia e como transamos” ele disse isso e foi pra cozinha comer pudim. Ficamos paralisadas, ninguém entendeu nada e sem uma palavra as meninas entraram no quartinho delas e ficaram lá em silencio. Eu fui até a porta da cozinha e falei pra o Bem o que tava acontecendo com ele? Porque de repente ele parecia ser outra pessoa e maltratava assim a todos? Ele pediu desculpa e eu falei que desculpa não resolvia o problema. Falei que no dia anterior ele já tinha falado aquelas coisas pra mim . mas maltratar meus irmãos... ele pegou o pudim e disse. “ já não chega aquela vagabunda enchendo o saco dele agora eu também?. Ele entrou no quarto e bateu a porta em minha cara. Eu me tranquei no banheiro e chorei demais. Só sai dali quando ouvi a Suzel chorando no berço. Entrei e ele tava assistindo tv e rindo. Peguei a neném, preparei mamar e sai. Tava uma linda noite e eu sentei na praça. Minha cabeça tava a mil por hora. A Suzel brincava na areia com outras crianças. Era umas 10 horas da noite quando senti uma mão no meu ombro. Era o Bem com olhos vermelhos, ele me abraçou e disse para eu tentar perdoar ele. Diário vou dar uma parada e amanhã escrevo. Já são umas 3 horas da manhã.

Hoje dia 08/01/80, são 6 e meia da tarde. Eu tava fazendo janta. O Bem voltou a trabalhar hoje. Ele tava todo empolgado. Quem sabe assim acaba esse nervosismo dele. Fiz o prato que ele adora, feijoada. Ta um friozinho gostozo.

Então... ele pediu pra eu perdoar, era a situação e que a ex tava deixando ele louco. Que na delegacia ela disse que ele pode tirar o cavalinho da chuva que jamais ela deixará o Junior com ele. Que ele vê eu e meus irmãos tão felizes e a Suzel comigo e ele até sente uma ponta de inveja. Que so ele não tinha a família completa. Ele disse que logo que tudo tivesse resolvido, que a gente ia ser feliz. Depois falou pra gente ir comprar uma lata de sorvete. Ele comprou duas. Quando voltamos pra casa os meninos estavam ainda quietinhos no quarto. O Cláudio também tinha chegado do trabalho e ele saiu desconfiado e entregou um dinheiro pro Bem. O Bem disse pra todos vim tomar sorvete e ficamos todos juntos assistindo tv. Essa noite também não dormi. Todos dormindo e eu passeando na casa que nem um zumbi. Pensei, pensei, analizei e acabei achando que o Bem tava certo. Pensei que eu que estava errada de não compreender. Os dias passaram tranqüilos. Passamos o ano novo na Nalva. Ela fez questão e eu até gostei assim o Bem conhecia de uma vez toda a raça. Foi gostoso demais, que dizer, tirando o Binho que quando bebe fica insuportável.

No dia 1 de janeiro de 1980 depois do almoço, viemos embora. Todos felizes.

Chegamos. E todos foram tomar banho e dormir. No dia seguinte iam trabalhar.

No dia 3 o Bem tinha audiência e ele se arrumou e foi. Desejei boa sorte. O juiz ia falar se ele ficava com o filho. Fiquei resando. Quando ele chegou foi arrancando a gravata e chutando tudo pela frente. Eu perguntei o que era e ele falou se eu era tão burra que se eu tava vendo ele festejar que ganhou. Eu fiquei quieta. A Suzel começou a chorar e ele mandou eu fazer ela calar a boca. Diário eu tremia, me senti só e infeliz. Fiquei com a Suzel no quartinho dos meus irmãos. Ele tomou banho e saiu batendo a porta. Eu desesperada e sem saber o que fazer. Meus irmãos chegaram do trabalho e ouvi a Delma contando pra eles o que tinha acontecido. Eles vieram e me abraçaram pedindo pra eu ter calma. Calma, calma. Era só o que eu ouvia nos últimos dias. Tive uma crise nervosa. Bati a cabeça na parede como que pra acordar daquele pesadelo. A Delma tava na lavanderia com a Suzel. Todos me olhavam. Senti nesse momento que não podia perder a calma e que precisava passar segurança pra todos. Disfarcei e dei janta pra eles. Eles foram ver tv e depois foram dormir. A Suzel até dormiu com a Delma na beliche. E nada do Bem. Arrumei a casa e deitei no chão da sala preocupada meu deus. Cadê o homem? O dia amanheceu. A Selma e o Cláudio foram trabalhar. A Delma e Suzel estavam dormindo e eu fui até a galeria de arte. Era pertinho alguns metros. Vi o Eduardo e perguntei do Bem. Ele disse não saber. Voltei pra casa na esperança dele ter voltado. O dia passou e nada. A noite o Eduardo passou em casa e eu expliquei o que tinha acontecido. Ele disse que só tinha um lugar que ele podia ta. Em Itapecerica. Eu falei se ele podia me levar lá. Ele disse que tudo bem. Esperei a Selma chegar e fui. Preparei uma mamadeira pra. Quando chegamos ouvimos o Bem rindo e falando com alguém. Entrei e quase desmaiei. O Eduardo segurou a neném pois quase derrubei ela. O Bem estava na cama com outra mulher. Eles nem se abalaram. Ele disse essa é a Beth e Beth, essa é a Ita. O Eduardo foi pra fora com a neném e o Bem perguntou pra mim o que fui cheirar lá. E se o gato tinha comido minha língua.

Era uma dor tão grande, tão grande que eu cai em um canto sem forças. Ouvi de longe a Suzel chorar e isso me chamou pra realidade novamente. Realidade dura. Eu preferia morrer mil vezes. Peguei a neném e pedi pro Eduardo me levar de volta. A mamadeira tava fria e pedi se eu podia esquentar. A mulher disse que ela mesma esquentava. O Bem nem na minha cara olhava. Ela esquentou eu agradeci e fomos embora. No caminho o Eduardo me contou que aquela mulher o Beto conheceu logo depois que se separou e eles tiveram um caso. Mais ela só queria rançar dinheiro dele e queria que ele reformasse a casa e só pedia tudo. Fazia dele gato e sapato e o Beto acabou deixando ela e voltando varias vezes. Depois ela tinha sumido e o Beto so parou de ir atrás dela quando me conheceu. No mínimo ela voltou a procurar ele. Daí eu lembrei que o telefone tinha tocado antes dele sair de casa ontem. Alguém deve ter dado o telefone pra ela e ela ligou e marcaram encontro.

A neném tava com fome e dei o mamar pra ela. Tava muito quente. Aquela cadela ferveu o mamar e eu queimei a boquinha da neném. Também porque eu não experimentei? Comecei a chorar junto com a neném. Graças a deus que não queimou muito eu tinha tirado rápido. Dei água pra ela e ela dormiu. Quando esfriou eu dei.

Quando cheguei agradeci o Eduardo e entrei no prédio. Meus irmãos tavam esperando.

DIARIO VOU PARA DE ESCREVER UM POUCO. NÃO ESTOU BEM E FAZ DIAS QUE NÃO COMO. SÓ FUMO.

CONTINUA NA PARTE 13

ELISABETHDOVITAL
Enviado por ELISABETHDOVITAL em 24/10/2009
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