MEU DIÁRIO (Parte 10) 1979
AQUI AS PESSOAS PODERÃO CONHECER A HISTÓRIA DE ALGUÉM QUE NÃO SE IMPORTA DE EXPOR SUA VIDA. AQUI TEM HISTÓRIA DE UMA GAROTA NORMAL. MUITAS PESSOAS NASCERAM, MORRERAM, CHORARAM, RIRAM. AQUI VOCE SENTIRÁ A EVOLUÇÃO DO PAÍS, DE SERES HUMANOS. MUITO SOFRIMENTO ENVOLVENDO DROGAS, ASSASSINATOS, AIDS, PRECONCEITOS, OPRESSÃO POLICIAL E TUDO QUE VIVI NESSES ULTIMOS 30 ANOS. VÃO RIR MUITO DOS ERROS DE PORTUGUES QUE PRESERVEI. Não deixe de ler os nove primeiros capítulos
E quando nóiz estávamos voltando pra casa ele falou se poderia ir no restaurante no dia seguinte almoçar e a noite me buscar. Eu disse que sim. Ele beijou meu rosto e foi uma sensação divina. Eu nunca tinha sentido isso. Uma mistura de carinho, tezão, e felicidade.
Agora cheguei e a Suzel está num sono só. A tia falou qualquer coisa que nem entendi direito, mas com certeza me xingou pelo horário. Eu estava tão sonhadora que nem liguei. Agora estou aqui vendo estrelas. Que homemmmm. Um mês atrás eu já tinha conhecido um outro cara, ele era lindo, chama Edson e trabalha no metrô. Tinha olhos verdes e um sorriso encantador. Pensei estar completamente apaixonada e depois de alguns dias descobri que o infeliz era casado. O amor acabou na hora e ele tinha também um defeito, era baixinho. Não gosto de homens baixinhos. Agora esse... é altãoooo. Bom, deixa eu dormir, to tonta do chop e de felicidade.
Diário, hoje é dia 5/01/80. passou tempo demais e historias mais ainda. Diário eu pareço outra pessoa. Demorei pra te escrever porque eu vim morar aqui no largo do Arouche e te deixei na casa da tia. Vou tentar colocar você a par do vendaval que foi a minha vida esses meses. Vou trocar a sua roupa. Essa é a ultima pagina sua. Você é verde e agora vou colocar uma roupa azul e preta em você. Gostava dessa roupinha sua. Tinha a cor da esperança, mais tudo na vida muda. Você vai apenas mudar de roupa mais continuará a ser meu melhor amigo. Vamos lá? Espere um pouco. Vou pegar sua roupa novinha e limpinha. Beijo.
05/01/80. Continuando e desejando em suas paginas escrever mais alegrias que tristezas. Porem você não terá uma boa estréia.
Como falava, vim morar aqui no Largo do Arouche no Edifício Arlinda.
No dia seguinte ao meu primeiro encontro com o Beto. Ele foi ao restaurante, depois do almoço ficou por lá mesmo. Disse que iria me esperar até as 9 horas. E assim fez. Ficou ali fazendo palavras cruzadas e sempre que eu estava desocupada. Falava um pouco com ele. Quando sai ele me levou novamente para o bar que fomos na noite anterior. Depois para casa e pediu na porta da tia. Para eu pegar a neném e ir com ele para Itapecerica da Serra. Ele queria que eu conhecesse sua casa e disse para eu não me preocupar que suas intenções comigo eram as melhores. Disse que eu era diferente. Era responsável, linda e carinhosa.
Eu como no dia seguinte estaria de folga, aceitei. Entrei, peguei a Suzel que nem acordou e sai de fininho, fiquei com medo da tia Mercedes não deixar.
Nossa mãe ele não morava, se escondia. Como era longe.
Quando chegamos não era uma casa, era um muquifo podre. Tinha uns 20 cachorros. Ele disfarçou e disse que não tinha tempo de limpar nada e também estava a fim de morar no centro perto do trabalho dele porque a casa estava em questão com a ex mulher dele. Ele disse que tinha que levantar uma grana para comprar a parte dela ou então vender e cada um pegava a sua parte.
Diário, nunca suportei nada sujo e quase pedi para voltar. Mas, a Suzel mamou e estava dormindo tão gostoso. Logo comecei a sentir umas picadas nas pernas era pulga, centenas delas pois os cachorrinhos dormiam dentro de casa pra todos lados. Eu tinha levado uns cobertorzinhos da neném e tratei logo de enrolar bem ela para aquelas pragas não atacar.
Fiquei ao lado dela e ele vendo televisão acabou adormecendo com tênis e tudo. Eu toda hora examinava a neném. Eu não via a hora do dia amanhecer. Acabei dando uma cochilada e acordei com a Suzel rindo e feliz. Um cachorrinho estava puxando a chupeta dela e ela achou muita graça. Eu que amanheci sem nem saber onde estava e tonta, gritei e o Beto acordou. Quando a cachorrada viu ele acordar vieram todos brincar e a Suzel ria e desceu da cama para gatinhar com eles. . o Beto riu e falou que eles se adoraram. Depois ele disse que iria comprar pão e leite. Perguntou se eu precisava de algo e saiu.
Eu corri la fora e so agora eu percebia como era lindo Itapecerica. Muito verde. Casas distantes e uns moleques magricelas soltando pipa na rua. Eu coloquei Suzel na grama e ela puxando o rabo dos cachorrinhos. Estava cheia de pintinhas, acho que quando cochilei, as pulgas atacaram ela. Os menininhos aproximaram e vieram brincar com ela que adorou os garotos. Aproveitei então para tentar dar um jeito naquela maloca. Procurei vassoura não tinha, procurei sabão pra lavar louça não tinha e nisso o Beto chegou. Ele comprou toddy, leite, pão e mortadela. Também trouxe copo descartavéu.
Dei graças aos céus. Já pensou se ele quer usar aqueles copos que vi na bacia? Cheio de mofo. Ai que nojo. Depois disso ele disse que iria trabalhar mais se eu quisesse poderia ficar e quando ele voltasse me levaria. Agradeci e falei que deixe para uma próxima vez porque eu não tinha falado com a tia e ela poderia estar muito preocupada. Também eu precisava arrumar umas coisas da neném que estavam bagunçadas. Na verdade eu queria era sair dali correndo. Mais pela neném que estava toda pintadinha. Ele falou tudo bem.
Quando cheguei em casa ele se despediu no portão e disse que iria almoçar no Dom no dia seguinte. Deu um beijo no meu rosto e foi. Quando notou a cara do pessoal, acelerou bastante o carro e saiu rindo. todos do quintal da tia já estavam fofocando. A tia veio louca pra cima de mim. Falando que sai sem avisar. E o que era isso na pele da neném. A tia conhecia picada de pulga de longe e perguntou se eu tinha passado a noite na favela com aquele hippie cabeludo. Ai meu deus! Ainda tive que agüentar as risadinhas das minhas primas tirando onda. Fiquei quieta porque afinal a tia tava certa.
No dia seguinte quando cheguei no Dom, ele tava na porta me esperando e lendo jornal. Falou vamos tomar um café? Ainda ta cedo, você entra as nove né? Eu falei sim e como ainda era 8 horas, aceitei.
Ele falou que desde que tinha me conhecido não parava de pensar em mim e queria assumir um compromisso serio. Fiquei sem palavras diário. Nunca ninguém quiz assumir porra nenhuma serio comigo. Ele disse que já que eu queria alugar um apartamento, que alugasse com ele e meus irmãos também poderiam vir morar com a gente.
Bicho... quase desmaiei. Era bom demais pra ser verdade. Eu falei pra ele que a neném também viria. Ele falou que era outra coisa que queria falar comigo. Ele disse que se a Selma e o Cláudio ajudassem nas despesas, eu não precisava trabalhar fora. Eu cuidava da casa e da neném e tava tudo certo e que ele ia ver se trazia o filho dele também pra morar conosco. O Junior estava morando com os pais do Beto e ele amava muito o filho e já que a mãe do moleque deixou com os avos que ele ia pegar o filho. Eu falei que estava tudo bem. Que íamos ser uma família de verdade. Diário eu não tava acreditando. Será que finalmente Deus resolveu me ajudar? Depois de eu ter xingado tanto ele? Ele me abraçou forte e disse que encontrou a mulher certa. Ele me levou até o Dom e foi pra galeria.
Quando a Selma chegou corri contar pra ela e ficamos as duas pulando e rindo de felicidade. Até levar uma bronca do seu Vitório, gerente do Dom. ele novamente veio me buscar e falou que no dia seguinte mesmo iria ver um apartamento que um amigo dele indicou. Eu nem consegui dormir essa noite. Olhava pra Suzel dormindo e pensava como seria bom poder cuidar da minha filha. Lar, família, meus irmãos...Perfeito demais.
No dia seguinte fui trabalhar mas não antes de discutir com a tia. Ela falou durona pra eu tomar vergonha na cara e segurar as beiradas senão daqui a pouco eu tava grávida denovo.
Pode diário, falando comigo como se eu fosse uma putinha qualquer. Ai falei pra ela que eu tava cuidando do meu futuro e dos meus irmãos e da minha filhinha e pra ela não esquentar não que logo, logo nóis ia sumir dali para a alegria geral da galera. Depois me arrependi mais porra, que porra!
Fui trabalhar meio chateada mais logo passou... Eu não via a hora da hora do almoço chegar e eu ver meu grande amor. Não só a hora do almoço chegou, como também a da janta e nada dele. Fui embora triste, ele nem ligou pra mim. Eu tinha o telefone da galeria mais tinha também orgulho. Se ele não se preocupou de ligar, porque eu ia rastejar? Quando cheguei em casa pra completar a minha prima Maria tava no portão e falou se meu príncipe não foi me levar ou já tinha enjoado da minha cara de bocô mokô. A diário eu já tava puta da vida. E dei um soco na cara dela e arranquei todos bobes que ela tava na cabeça. E falei pra ela ir cuidar do sapo do marido dela e da gia do filho dela. A tia saiu correndo e a vizinhança toda. Eu mandei todos tomar no cu e fui brincar com Suzel que também acordou assustada com a baixaria.
Vão tudo se foder que merda.
Na manha seguinte fui trabalhar e mais um dia passou e nada do Beto. no sétimo dia eu já nem tinha mais esperança. Eu passei em frente a galeria umas 4 vezes e nada dele. Quando foi de noite do sétimo dia. chegou um amigo dele o Eduardo que trabalha na galeria e falou que o Umberto pediu pra ele me levar até Itapecerica. Eu falei com raiva que não ia que de safado eu tava cheia. O Eduardo então explicou que o Beto tinha sofrido um acidente no dia em que foi me levar na casa da tia e ficou uns 3 dias desacordado no hospital e uma semana internado. Que nem era pra ele ter alta e ele assinou a alta. Disse que ele tava com platina na perna e o Bug virou pó. Disse que todos falaram que foi um milagre ele ter vivido, bateu e derrubou o poste na descida. O Eduardo falou que ficou sabendo disso também no dia anterior. Porque voltou de férias e ficou sabendo que o Beto havia abandonado o serviço. Ele então achou estranho e foi até a casa do Beto e quando chegou la ficou sabendo de tudo. Disse que ele ta até usando bengala. Ele disse que o Beto a primeira coisa que pediu foi pra ele vir me buscar e explicar tudo.
Diário eu me senti a pior pessoa do mundo. E falei pra o Eduardo me esperar que eu iria sim.
Pensei em ir buscar a neném, mas lembrei das pulgas e ter que dar explicação pra tia. Desisti e fomos pra Itapecerica.
Cheguei la e o Beto estava deitado e todo arrebentado. Chorei de dó e ele falou que estava bem. Que mais uns dias e ele estaria novinho novamente.
Na manha seguinte acordei e chamei um dos moleques da rua e perguntei onde tinha um mercado. O moleque foi comigo. Comprei vários produtos de limpeza, vassoura, coisas pra fazer sopa. Quando voltei o Beto estava sentado no quintal e o outro menino já tinha falado pra ele que eu fui no mercado. Ele riu quando me viu cheia de pacotes e o menino também. Dei uns trocados para os garotos. Fiz café pro Beto e ele falou quanto eu gastei que ele ia devolver. Eu disse que não precisava. Comecei então uma faxina geral. Fiquei o dia inteiro. Coloquei uma madeira na porta pra os cachorrinhos ficarem pra fora e fiz uma casinha pra eles também. Gente do céu...nunca vi tanta sujeira a noite eu tomei um banho que queria lavar a alma. A casa estava cheirosa tudo limpinho. Senti saudades da Suzel. Era a primeira vez que me separei dela, mais era por uma boa coisa, eu tava cuidando do futuro papai dela. Esse dia era minha folga, mais no dia seguinte eu ia faltar, não podia deixar o Beto só. A noite chamei o moleque, o nome dele era Antenor e perguntei se sabia de um orelhão ele disse que só na avenida. Ele foi comigo e liguei pra uma vizinha da minha tia e falei pra ela passar o recado que eu estava bem mas não podia ir embora só no dia seguinte ou o outro. Falei que o Beto tinha sofrido um acidente e eu tava cuidando dele.
Agora mais tranqüila voltei dei o remédio pro Beto e cai na cama cansadíssima.
Na manha seguinte...
CONTINUA NA PARTE 11.
MINHA VIDA VAI MUDAR MUITO, ALIAS, A VIDA DE TODOS