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Amarela... Essa cor tem a languidez da fêmea.
Na janela inconsciente de mim, pífio poeta,
Navego junto às silhuetas que a visão ofusca.
Entre as alças, sutil, esse caminho é mortal.
Prefiro os olhos cerrar para melhor desnudar
A madeixa exuberante que o amarelo esconde.
Um, dois, dez, mil fios de lã, pêlos... sei lá!
Louco estou com a proposta indecente que faço
A mim mesmo, cruelmente e num fiasco.
Fantasiar imaginando um corpo intangível
Revelaria demência,desvario ou pouca sorte.
Entrementes, para mim, é privilégio bem real.
Inventado, claro, sou mesmo um altista e daí?
Raiva deve ter quem sequer essa ilusão tem!
E ser alvo de alucinações nessa hora faz bem.
Mas... uma perguntinha. Poderia responder?
O que fitam esses olhos assustados e sedentos?
Recostado à parede, tento deles conseguir,
Esperançosamente, um pouco dessa volúpia...
Intriga-me todo o conjunto: rosto, olhos, boca...
Resta-me sonhar, imaginando o restante:
Alma, espírito, sexo... Devem ser extasiantes!
Deveras encantado você me deixou agora.
Antecipadamente eu revelo: não deveria!
Seria fuga e disso não gosto, entretanto,
Interceder comigo mesmo noutro sentido
Levando-me a correr de você, um perigo,
Visando a nunca mais recorrer ao encanto
Antagônico e mágico que você me traz.
Fortaleza-CE, 14 de setembro de 2005.