Dialogo com o Pai
DIALOGO COM O PAI
Seria realmente uma conversa salutar e rica em idéias e detalhes se pudéssemos ter... Infelizmente soará como monologo ou até uma representação melancólica de um ventríloquo aprendiz.
Nada como o tempo para nos dar uma visão lógica da vida, assim como a experiência vivida pelos nossos pais para nos ajudar a atravessar caminhos tortuosos e barreiras quase que intransponíveis que sempre deixam marcar indescritíveis em nossas trajetórias de vidas...
Mais hoje eu acordei sob o signo da coragem, da firmeza, da moralidade e do conhecimento e trago comigo armas poderosas para enfrentar, mais o que? Eu travei batalhas fenomenais e fui vencido em quase todas porque os meus enfrentadores eram mentirosos, ardis e a pior escória que a sociedade moderna pode ter...
Desse entendimento surge as reminiscências de um passado não longe dos aconselhamentos paternos, as palavras de advertência que um dia mal julguei e ao passar pela rua onde vivi com meus pais, sinto que até mesmo os lugares, especialmente a casa onde nasci, cujo ar é carregado de passado, a família que me sustentou aqui, assim como os alicerces de pedra, cal e óleo de baleia sustentam ainda aquelas paredes seculares, um senso de história.
Meus avôs, com quem tive uma experiência fantástica de vida, tiveram que viver ao seu jeito de um mundo para outro, ou para diversos outros, criando o novo a partir do velho, à maneira dos corais vivendo recife acima. Eu estou do lado de meus avós. Eu acredito no tempo como eles acreditaram, no cronológico da vida mais que no existencial da própria vivencia. Nós vivemos no tempo e através dele, construímos as nossas cabanas com suas ruínas, ou costumávamos, e não podemos arcar com todos esses abandonos.
Eu tenho um filho que vive comigo que, embora tenhamos recíproca afeição, é tão verdadeiramente meu filho como se respirasse pelas guelras. Não há um abismo entre gerações, aquilo é um golfo. Os elementos mudaram, há ordens de grandeza e espécie totalmente novas. Este presente de 1980 não é mais uma extensão do mundo de meus avós...
Pai, eu sinto saudades, falta de tuas palavras, do teu apego moral e da tua proteção porque eu estou só, não tenho ninguém que olhe por mim, que vele os meus passos e às vezes adormeço só para sonhar e nos sonhos viver aquela vida que passamos juntos e, nessa hora de angustia que me toma o corpo, eu sinto a minha mão solta, o meu peito arfa com falta de ar e o meu coração acelera... Emoção? Não! Eu sinto medo, pela primeira vez na vida eu vi que o mundo é mal e me olho com os olhos fumegantes de ódio, um furor que aconselha a prudência. Eu saí dos pesadelos rapidamente e voltei aos sonhos, neles eu sou verdadeiramente feliz. Obrigado papai, pelo teu amor, tua compreensão e por ter me dado a verdadeira felicidade.
Teu filho que só agora descobriu que te ama de verdade, Airton