O Espelho
O ESPELHO
O homem se viu pela primeira vez em qualquer superfície que refletia a imagem, seja em água parada ou em outra superfície lisa com poder de reflexão.
Naquela época, o homem se assustou com a imagem e colocou, ali, um inimigo em potencial.
Hoje o inimigo continua ali presente, refletindo uma imagem que o refletido não quer ver.
A verdade é que nunca aparentamos para os outros, o que sentimos e o que imaginamos que o outrem esteja vendo, ou seja, a imagem que gostaríamos de ter e a imagem que, realmente, sentimos ter.
A idade vem chegando e, ilusoriamente a enganamos, pensando que tudo podemos e tudo fazemos.
Para o homem, a desculpa é que “estourou o joelho”, ou “estou com uma fisgada na coxa”, e assim não jogar aquela “pelada” de fim de ano.
O problema é que ao chegar frente ao espelho, ele vê uma pessoa estranha, envelhecida, sem potencial e feio.
Feio sim, porque a velhice traz rugas, bolsas nos olhos e menos cabelos.
Imagem ridícula, pois, quando o homem não está à frente do espelho, se vê um rapaz atraente e capaz.
Mas o espelho não nega: você está ficando velho.
É difícil, para o homem, assumir que a beleza da juventude se esvaiu e foi-se com o tempo.
É difícil, para o homem, assumir que outros valores virão. Que está no tempo de ensinar e orientar. No tempo de lembrar as boas coisas da juventude sem se magoar.
Espelho, espelho meu, minta para mim e diga que sou jovem e o que me reflete não sou eu. O espelho não mente: “és um coroa”
Assimilar estas idéias é de tempo extensivo.
Aceitar que a vida mudou é sofrível.
Ver um futuro, até então longínquo, chegar de repente é surpreendente.
Mas, tudo bem. A vida continua, e, como sempre, nos reservando boas e novas surpresas.