O Espelho

O ESPELHO

O homem se viu pela primeira vez em qualquer superfície que refletia a imagem, seja em água parada ou em outra superfície lisa com poder de reflexão.

Naquela época, o homem se assustou com a imagem e colocou, ali, um inimigo em potencial.

Hoje o inimigo continua ali presente, refletindo uma imagem que o refletido não quer ver.

A verdade é que nunca aparentamos para os outros, o que sentimos e o que imaginamos que o outrem esteja vendo, ou seja, a imagem que gostaríamos de ter e a imagem que, realmente, sentimos ter.

A idade vem chegando e, ilusoriamente a enganamos, pensando que tudo podemos e tudo fazemos.

Para o homem, a desculpa é que “estourou o joelho”, ou “estou com uma fisgada na coxa”, e assim não jogar aquela “pelada” de fim de ano.

O problema é que ao chegar frente ao espelho, ele vê uma pessoa estranha, envelhecida, sem potencial e feio.

Feio sim, porque a velhice traz rugas, bolsas nos olhos e menos cabelos.

Imagem ridícula, pois, quando o homem não está à frente do espelho, se vê um rapaz atraente e capaz.

Mas o espelho não nega: você está ficando velho.

É difícil, para o homem, assumir que a beleza da juventude se esvaiu e foi-se com o tempo.

É difícil, para o homem, assumir que outros valores virão. Que está no tempo de ensinar e orientar. No tempo de lembrar as boas coisas da juventude sem se magoar.

Espelho, espelho meu, minta para mim e diga que sou jovem e o que me reflete não sou eu. O espelho não mente: “és um coroa”

Assimilar estas idéias é de tempo extensivo.

Aceitar que a vida mudou é sofrível.

Ver um futuro, até então longínquo, chegar de repente é surpreendente.

Mas, tudo bem. A vida continua, e, como sempre, nos reservando boas e novas surpresas.

Luiz Kapop
Enviado por Luiz Kapop em 02/12/2008
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