Bárbara Adolescência
BÁRBARA ADOLESCÊNCIA
Um dia conheci uma garota que
contou-me uma estória.
Disse ela, que teve uma fase difícil,
e que suas dúvidas giravam em torno
do ser adulta ou criança.
“Fase encrencada”, eu disse.
“Chamam de adolescência”.
Ela pensou um pouco e passou a discursar:
“Não existe encrenca, como você disse,
para isto basta sonhar”.
Antes que a interrompesse, fez sinal de silencio
para mim, com o tradicional gesto de levar o dedo
indicador aos lábios.
“Sonhei, uma noite, com duas moças idênticas,
muito parecidas comigo, mas nenhuma delas era eu.
As duas estavam frente a frente, discutindo algo
em um dialeto, que, a principio, não entendi.
A imagem era bárbara, mas o som era barbaramente horrível.
Em um esforço que realmente não fiz, pois estava sonhando,
as imagens e o som ficaram em uma nitidez incrível.
Eram garotas idênticas, mas uma delas foi crescendo e
a outra ficou do mesmo tamanho.
A grande dizia: “ta vendo este tamanho. Esta será sua eternidade,
você terá toda a sua vida para vivê-lo. Mas do jeito que estás,
ainda tens uma pequena fase a aproveitar, que não voltará jamais,
aproveite-a”.
“Então, meu senhor, entendi a mensagem.
Estou aproveitando barbaridade, como dizem lá no sul,
esta maravilhosa fase de minha vida, que o senhor chamou
de adolescência.
Bom, tenho que ir. FUI”.
“que garota inteligente”, pensei.