Lembranças

LEMBRANÇAS

Ela estava sentada à sombra de uma árvore nas margens da lagoa da Pampulha.

Distraidamente, puxou uma mexa de seus cabelos e o levou ao nariz e depois aos lábios.

Ao olhá-los, com curiosidade, pensou:

“Hoje é o meu aniversário, faço cinqüenta e dois anos e preciso pintar os cabelos”.

Deixou-se levar pelo tempo e lembrou quando os pintou pela primeira vez.

Na época, com trinta e um anos, conheceu um homem, muito sedutor e de aparência agradável, porem longe de ser bonito.

Foram vários dias de conversas e de convivência, mas bastou um simples sopro em seu pescoço, na intenção de aspirar-lhe o perfume, que tudo começou.

Aquela simples brisa, vinda de uma respiração, percorreu-lhe o corpo e assolou seu coração.

Dias e dias se passaram, de convivência quase de lado a lado, daquele sopro nunca ultrapassou.

“Porque”? Perguntou.

“Olhe para mim. Tenho cinqüenta e dois anos. Você é jovem e tem um compromisso a cumprir”. Respondeu ele.

Engraçado era que o achava jovem.

Hoje com cinqüenta e dois, entendo o que ele quis dizer.

Naquele momento, seus pensamentos foram interrompidos por uma senhora que passava por ali, alimentando os patos que se aventuravam às margens da lagoa.

“Querida, estás tão só e pensativa. O que a está afligindo?” Perguntou.

“Posso te contar a partir do que estou pensando no momento. Há mais ou menos vinte anos atrás, conheci um homem que ‘bagunçou’ meu coração. Com ele não tive nada, mas participou de minha vida alguns dias e então se foi. Continuou em meus pensamentos muito tempo, até que um dia partiu. Hoje é o meu aniversário e me lembrei dele, pois o amei”. Respondeu.

“Querida, todas nós passamos por este momento. Este homem não existe a não ser em nosso pensamento e sentimento. Ele aparece como um príncipe encantado nos momentos em que estamos mais frágeis em nossa vida. Sua missão é fortalecer-nos na vida e sentirmo-nos bonita e sedutora, de forma a elevar nosso ego. Depois ele se vai e sentimos o que somos: realmente belas”.

A velha se foi.

Ela começou a pensar que deveria sair dali e ir ao cabeleireiro pintar os cabelos, voltar para casa e participar ativamente da festa que seus familiares estavam promovendo.

Mas tinha uma certeza. Fazia cinqüenta e dois anos, idade daquele homem que um dia se foi e que não era uma lenda. Ele realmente existiu, o amava e agradecia pela sua gentileza e por tê-la realmente se fortificado na vida

Luiz Kapop
Enviado por Luiz Kapop em 28/11/2008
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