RESENHA CRÍTICA DA ENTREVISTA COM ZIGMUNT BAUMANN ©

Salvador, 2016.

Resenha Crítica da entrevista concedida por Zigmunt Baumann ao jornal EL PAÍS sobre:

“As redes sociais são uma armadilha”.

Ulisses Silva

Zigmunt Baumann, sociólogo polonês, hoje com 91 anos, exibe uma perfeita clareza e lucidez em seus pensamentos. Viveu uma verdadeira diáspora num êxodo por diversas nações, passando pelo União Soviética, Inglaterra, Canadá, EUA e Austrália e hoje se considera cidadão do mundo, leciona nas Universidades de Leeds e de Varsóvia. Possuidor de vasta obra com 16 livros traduzidos para o português e publicados no Brasil, desenvolvida principalmente quando viveu na Inglaterra, onde foi acolhido após ser expurgado do partido comunista e da União Soviética, por conta do antisemitismo pós-guerra em meado do século passado.

Desenvolveu seu pensamento com destaque da ideia de liquidez, disposta em alguns dos últimos livros publicados a partir do início deste século a exemplo de: (Medo Líquido; Tempos Líquidos; Vida Líquida).

Em entrevista ao jornal EL PAÍS, fala sobre desigualdade, liberdade X segurança, democracia, governo/poder, globalização, incertezas do futuro, revolução digital e redes sociais. O sociólogo se tornou a voz dos indignados e menos favorecidos, ao denunciar as desigualdades sociais e a queda da classe média que foi empurrada para a base da pirâmide social, ao que chama de (PRECARIAT), categoria dos que vivem em uma precariedade contínua. Ele afirma que nossos acordos são efêmeros, e acredita que a velocidade não é propícia ao pensamento de longo prazo, pois, demanda pausa e descanso, ou seja, recapitular os passos já dados, examinar mais de perto o ponto alcançado e a sabedoria (ou imprudência, se for o caso). É cético quanto ao futuro da humanidade e apresenta sua critica a sociedade moderna principalmente ao neoliberalismo, que defende nos livros: cegueira moral e estado de crise, em parceria com outros autores.

Quando a questão é liberdade, assegura que a sociedade atual vive um dilema entre liberdade e segurança, apesar de se pensar equivocadamente que para se ter uma tem que abrir mão da outra, hoje se vive sem segurança, como também na falta de liberdade, é rara a pessoa que não invoca uma proteção primordial para compensar a desordem pessoal, afirma Baumann.

A sua incerteza quanto ao futuro tem relação direta com a forma em que as relações de classes se dão, para ele, o confronto de classes não funciona mais de dentro para fora, usa como exemplo as batalhas ocorridas na Espanha, as quais, foram todas passageiras e sem um resultado concreto de longo prazo. Afirma ainda, que a falta de liderança tem um valor antagônico, as lutas de classes estão associada a redes sociais, onde as pessoas se reúnem com um propósito comum, fazendo com que os movimentos tenham força, facilitando as conquistas, e logo se desfaçam sem construir algo duradouro, e sem saber para onde ir.

Zigmunt faz uma analogia da globalização com a revolução digital, declara que o casamento entre Estado/politica chegou ao fim, a capacidade de decisão hoje não pertence mais aos governantes, mas sim, ao capital econômico financeiro. Poder e politica se romperam e se distanciaram, a capacidade de decidir está na mão das grandes corporações, enquanto que a capacidade de realizar ficou com os governos nacionais.

A globalização se deu principalmente na economia e mercado, trazendo consigo o individualismo e a solidão, o planeta está interligado, no entanto, as politicas governamentais continuam sendo fronteiriça , a ideia de estado se liquefez com a internet, foram criadas novas formas de intervenções nas diversas áreas, o capital é fluido, as pessoas se movimentam numa diáspora constante, mas vivemos numa cegueira moral por conta da revolução digital, além de possuir um pseudo-poder ao decidir quem faz ou não parte das relações de cada um, as pessoas perderam a capacidade de interagir.

Conclui-se que as redes sociais são o ópio do povo, porque ela causa o individualismo, solidão e a idiotização das pessoas, a sensação de segurança trazida pela comodidade das redes sociais leva as pessoas a renunciarem sua liberdade, é como patinar sobre o gelo fino em movimento lentos, precisa-se introduzir novas maneiras de realizar as coisas e não é a internet com as suas redes sociais que irá dar a solução para o futuro da humanidade. Pensar que as redes tornam o mundo mais próximo, é um juízo crítico. Os adolescentes equipados com confessionários eletrônicos portáteis, são apenas aprendizes treinando e treinados na arte de viver numa sociedade confessional, as redes sociais não permitem o confronto de ideias nem o dialogo, apesar de serem úteis são uma verdadeira cilada para as gerações futuras.

BAUMANN, Zygmunt. As redes sociais são uma armadilha. depoimento. [8 de janeiro, 2016]. Burgos, Espanha: Jornal EL PAÍS. Entrevista concedida a Ricardo de Queiroz. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/30/cultura/1451504427_675885.html>. Acessado em: 01.dez.2016