O valor do perdão

O valor do perdão

Eu era uma criança calma, tímida , retraída, porém, muito observadora.Gostava de brincar com outras crianças, porém ,muitas vezes eu era posta fora das brincadeiras, e, até motivo de zombarias , geralmente minha linha de raciocínio não batia muito com a da liderança.

Lembro de uma fase de minha vida em que me senti muito triste e mais solitária do que de costume. Nesse tempo eu tinha mais ou menos 12 anos de idade. Minha turma ganhara uma nova líder, que resolveu me descartar das brincadeiras, pois eu me recusara a aceitar determinadas tarefas no grupo, já que as mais pesadas eram colocadas em minhas mãos. Foi um período muito difícil, pois a maioria das meninas da minha rua frequentava este grupo ,e assim me tornei muito só , não tinha mais com quem brincar.Passei então a ler mais e a escrever cartas. Dessa forma , não me sentia tão solitária .

No início eu fingia que não me importava com a indiferença das meninas, que antes eram solidárias, companheiras ,e,por influência da líder da turma, tornaram-se zombeteiras , pois seguiam as ideias daquela mocinha ,que diante da liderança, sentia-se dona das brincadeiras . Quem não aceitasse suas ideias era colocada fora do grupo.

Falei com minha mãe a respeito do que eu estava sentindo . Ela na sua sabedoria respondeu-me: "Filha , não dê atenção ao que essas meninas falam. Elas não sabem o valor de uma amizade . Não ligue para as brincadeiras que elas fazem com você, um dia elas irão parar . Nunca revide, minha filha. Se você aceitar suas provocações , estará fazendo o mesmo que elas, ficará no mesmo nível delas."

Foi difícil aguentar tantas provocações e calar ,quando a vontade era jogar pra fora a raiva que eu sentia. Minha vontade era devolver tudo na mesma moeda, porém sempre que tentava , escutava a voz de minha mãe , então eu recuava.

Um dia notei que duas meninas também saíram do grupo e passamos a brincar sempre que podíamos. Mas eu já não sentia raiva, já não me importava mais com as piadas que elas faziam comigo.

O tempo foi passando e eu fui substituindo as brincadeiras por leituras, e assim , já não me sentia sozinha , tinha agora as duas amigas e os personagens dos livros, fora os que eu inventava. Então para minha surpresa , um dia fui procurada por todas as meninas do grupo , do qual eu fizera parte um dia. Todas queriam me pedir desculpa pelo que tinham feito comigo.

A primeira a me procurar foi a que incentivara as outras a não me deixar brincar. Não aceitei sua companhia, não que eu tivesse raiva dela ainda , mas eu ainda lembrava das humilhações que eu sofrera . O orgulho ainda morava em mim , e ele ardia no meu estômago,a ferida ainda estava aberta. Muitas vezes ela me procurou e lhe dei um não.

Até que um dia a mãe dela me procurou , pediu-me que eu a perdoasse, pois a mesma vivia nos cantos da casa chorando, dizendo que eu a odiava .

Novamente me aconselhei com minha mãezinha, que me fez enxergar que todos erramos , principalmente porque somos cheios de defeitos que, com certeza impedem de avançarmos .

Resolvi dar uma chance a ela, porém ,depois entendi que a chance maior foi para mim. Pois eu havia aprendido a conviver com as adversidades , e principalmente a perdoar.

Passamos então a frequentar os mesmos grupos e nos tornamos grandes amigas ;crescemos juntas, andávamos sempre juntas, e nunca mais brigamos. Tínhamos crescido, já não éramos tão infantis.

O tempo se encarregou de nos afastar novamente , tomamos rumos diferentes na vida. Tratei de estudar e ela de casar .

Hoje vejo que aquela fase foi de grande aprendizado, tanto pra mim quanto pra ela. Aprendi que de nada adianta alimentar raiva de alguém, mesmo que este tenha nos feito passar inúmeras humilhações. Aprendi que não devemos cobrar nada das pessoas, se estas ainda não conseguem nos oferecer muito. Cada um de nós oferece ao outro o que tem dentro de si.

Não alimentemos raiva nem ódio em nosso coração. Ele é muito precioso para nós, nele só deve entrar coisas boas. Tudo que nos fizer mal deve ser jogado na lata do lixo, não em nosso coração.

O melhor mesmo é não escutarmos as ofensas, pois elas são as causadoras de muitas tristezas do mundo.

E com certeza, a paz nasce quando aprendemos o valor do perdão.

Lu