{No fervilhar....}

... no fervilhar da cidade os carros desembestados espirram pessoas nas ruas atravessando meu caminho, os ônibus param como um curral móvel onde as mulas se entrechocam por nada ou para serem carregadas até seu apressado destino, pronto! Lá vai a velha mulher com a vida dentro da sacola de plástico transparente. E aquele homem, senta no banco de cimento, cansado, cospe a cabeça para o chão, afundando-a... a queda! - seu único destino.

Um estabaco da pequena menina no asfalto, sangue e lixo se misturando, frigindo sob o sol dos trópicos, uma multidão se aglomera em torno do cheiro agridoce que se vai nos ares, batida seca do corpo na terra, olhares de covas em meio a tarde da cidade que ficou pequena.

O bar da praça vai se amontoando de gentes, o prédio desativado abriga aves antigas e suas carniças, à tarde miram alguém e começam a gritar a cidade. Como se o poente fosse o desespero do mundo, às vezes descubro, é um alívio, bálsamo do tempo, do mundo, enquanto debaixo da ponte brincam as eternidades, e as crianças brincam nas valas, nas poças, nas águas de desgostos as suas tristes verdades.

A sacada-que-nunca-foi do prédio se espraia às samambaias no meio de frias pedras erguidas com tempo gotejam como se descontassem a vida, como se as horas fossem a caminho anti-horário feito bomba-relógio.

No meio fio, nas ruelas, nas esquinas, nas calhas a cidade se reconta, se reconstrói, se reinventa, regressa na própria história, para continuar nascendo-crescendo-morrendo ainda que com esforço lento, ácido e inútil.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 10/10/2008
Reeditado em 10/10/2008
Código do texto: T1221455