tenho o triplo de minha idade, mas estou embrionária: tudo lorota.
tenho a idade desse instante.
gosto de escrever como quando se tem fome, como a menstruação que vem, e também vai, como o desejo impetuoso e suave faz com que eu. gosto das palavras, as largadas, as lagartas da infância, elas me são generosas, incondicionais. gosto do modo de dizer as coisas que lugares e pessoas tem, gosto muito da música das pessoas, não gosto de dizer embaralhado mas digo, gosto de desmisturar tudo e vejo que não tem mágica, é só a comunhão das coisas. acho que vou ficar sabida e achar a solução, mas me intoxico e crio problema, tem vez me embaralho ser híbrida demais, mas é só comunhão com as coisas, elas me apreendem, estranho ser eu tão sem palavras. se eu soubesse não escreveria. se eu desconfiasse pelo menos... ah, mas eu nunca sei, só fico alisando idéias (idéias fêmeas e idéias machos, idéias bichos, idéias que não são coisa que se pense ou que se pegue). não gosto de me reler. meu realismo é cruel, nem se fale a vida... perco um tempão nisso, mas gosto de olhar a beleza que nem vejo o tempo passar. não gosto de rezar, mas gosto de dizer em silêncio e é coisa pasmada que parece grito, perturbação de menino que não sossega, azucrinação de menina impossível, a palavra é essa menina impossível que não ajuíza os sentidos. eu tenho o cabelo mais cheio do mundo, parece uma árvore que nunca fica galho seco, mas dentro tem sede. escrever não basta, também viver não. E agora? bastasse eu estava morta.