ELA
Ela me disse que faria bem se eu pudesse aceitar o que por muito tempo nunca foi justo de ser verdade
Ela me deu um beijo na boca e disse que só por hoje não faria amor comigo e partiu com minha saliva
Ela que por tanto tempo me seduziu e fez questão que eu lutasse e mudasse o curso de minha maldição
Ela que cuspiu na minha cara e lambeu o meu sangue e gozou com minha vida
Ela que hoje me pediu pra ter paciência e serenidade o bastante pra saber que nosso amor morreu
Ela que nunca foi de mentir, se ajoelhou e rezou e depois ainda pediu perdão e mesmo assim se foi
Ela, quem um dia eu disse que jamais à deixaria entrar na minha dor soube esperar a hora certa de me matar
À Ela eu deixo os meus medos, as minhas paixões, meus sonhos e pesadelos, e não, jamais, olharei pra trás
À Ela eu entrego tudo que não é dela,
eu roubo tudo que não é meu,
e à Ela eu hoje me prendo
À Ela me faço mais homem
e menos criança e já não posso
mais voar sem asas
À Ela tudo será perfeito
enquanto eu viverei em paz com minha derrota
do amor improvável
À Ela que eu hoje digo
que o curso da vida não é tarefa metafísica
e sim uma violência social
À Ela eu voltarei a ser de todos mais
e de mais ninguém
a me prejudicar
À Ela que nunca passou
de um ideal de desejo
e luxúria familiar amargurado
Ela e à Ela que o mundo pobre fraco e falível,
poderosamente me contém
e já tão vazio não mais me é capaz!