RESISTÊNCIA NORDESTINA
 
Estas vestes de linho, estopa,
O incessante e latente sol.
O transporte, o lombo de jumento,
As roças, a seca, o pó, o lamento,
O bredo ralo na última sopa,
O brilho intenso no arrebol.
 
Casa de taipa, lágrimas e choro.
Riacho, açude, cacimba, agouro.
A terra seca, sem chuva no chão.
O lamento do velho fazendeiro,
Coiteiros e infelizes coronéis
E um tempo estranho dizendo não.
 
Beatos e esperado curandeiros,
Sanfoneiros e menestréis,
Dedilhando versos e sons,
Carros de boi lamentosos,
Ditando bem alto seus tons,
Declamando o coro dos céus.
 
Plantio de cruz na estrada,
Num tempo de contradição,
Um moi de nuvem escondida
A água, a escassez incontida,
Deixando na pele a ferida,
Sem esperança no coração.
 
Os pedidos a meu Padim Ciço
Novenas, promessas, velas na mão,
Anjos saindo das parideiras,
É Pedro, Maria, Francisco e João,
Nas mãos fiéis das parteiras,
Nos cantos perdidos do sertão.
 
Gente que vai e que vem,
Nesse sertão de resistência,
Mas parece terra de ninguém,
Num grito oco de clemência,
Terras secas e um sol além,
Das vidas, vindas da inocência.

 
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 20/11/2014
Reeditado em 27/06/2020
Código do texto: T5042533
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