Cotidiano

Abraço a noite sem muito a oferecer. Tudo já escuro acendo uma vela.

Sinto-me preso e não quero acabar mais uma noite sem ouvir antes uns solos de guitarra, vocal rasgado, bateria punk... Olho para os lados, os velhos livros me flertam. A literatura não está morta, o Rock não está morto, o cinema não está morto, os Beatles ainda estão atravessando a faixa, Raul Seixas não está morto. E eu, pobre admirador sem muito a perder, vou morrer apreciando tudo isso, porque é para isso que serve a liberdade, para isso que serve a vida, obrigado liberdade! Direito justo do animal. Vou morrendo aos poucos, lentamente e gradativamente como uma folha caindo da arvore, como diria Raul, " cada um morre à sua maneira." Morro cantando, e canto embaixo do túmulo! Vou vivendo à minha lei, vou ficando surdo com Rock alto, mas ouvir esse riff da musica "Until you call on the dark- Danzig " no volume baixo não dá! Vou ficando cego olhando para as letras miúdas dos livros com suas folhas amareladas, vou ficando com a coluna torta sentado nesta velha cadeira pensando no dia e nas aventuras que não vivi. Janela fechada, clima vestindo outra camisa.

Chuva. Amo a chuva! Gosto quando ela grita no meu teto, mas me preocupo; minhas roupas estão no varal. Afora isso, tudo bem. Não pretendo sair, meu quarto é o meu refúgio. Vou conversando com essas paginas em branco, elas funcionam como um psicólogo, como um amigo que me faz sorrir... Aventuras que não fiz, agora vivi.

Cada um encontra a felicidade duma maneira, agora eu não sei se o que me faz feliz é a tristeza ou se o que me deixa triste é a felicidade. Poder chegar na minha casa e não ter que dividir a tv, sentar na minha cadeira preferida, jogar o tempo que quiser no vídeo game, não ficar na fila para ir ao banheiro, isso é liberdade ou solidão?! De fato, a liberdade parece que é fruto da solidão.

A que ponto cheguei, posso enxergar o que eu era há 10 anos, difícil é saber quem sou hoje. A liberdade aprisiona, trás duvidas, enquanto isso a vela vai se apagando e a noite começa, a água escorre pela janela, e a xícara de café acaba... Mais um livro lido, mais uma musica ouvida, mais uma xícara de café vazia, mais uma vida vivida!

Tahutihator Frigus
Enviado por Tahutihator Frigus em 10/09/2016
Reeditado em 12/09/2016
Código do texto: T5757023
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