PROSEANDO A PROSA (série)

Tem frases que ouço e não deixo passar, talvez, porque todo escritor vive atento e observando o mundo.

Se eu estiver na rua, no meio de uma multidão, a fala dos outros pode aguçar ouvidos ainda mais. Mas aos que são parecidos comigo, cuidado para não ser atropelado, assaltado, essas coisas de gente atenta, mas que o povo cisma de dizer que somos distraídos! De qualquer forma, a prosa ou a expressão interessante pode surgir a qualquer momento, mesmo nessas tragédias. Ops, deuses nos salvem delas, das frases, não, das tragédias provocadas por gente... muito atenta.

Esta semana transitava eu pela numa rua agitada em Copacabana, no meio daquele movimento das 18 horas. Parei num sinal de trânsito, quando ouço " ... de onde você tirou isso? Deve ser verdade, né... não tem base nenhuma!"

Foi o que deu para ouvir e me fazer virar para ver o falante. Ele passava logo atrás de mim, que estava parada esperando o sinal abrir para os pedestres. Ele seguia em passos largos, conversando ao celular.

Isso leva a gente a pensar em duas coisas: no que foi dito e na maravilha que é andar pela rua e ver tanta gente falando com alguém que não está ali, mas só para a gente, pois claro que está para o tal falante e ouvinte.

Não somos malucos. Falamos o tempo todo, ou quase isso, mesmo com quem não está mesmo, mesmo com nossos "botões", um monólogo, e criamos sempre algo interessante, dependendo do interlocutor, claro. Quando sou eu mesma minha interlocutora... sai muita coisa no mínimo estranha, ou morro de rir comigo mesma, de mim mesma.

O rapaz certamente usava de ironia, mas, por outro lado, pode ser que sua afirmativa, sua premissa fosse VERDADEIRA. Vai que a base dele para dizer aquilo existe, como um ouvinte que não vejo, mas está ali.

(apenas proseando...)

Tânia Barros