Uf ! Quando ficar livre de ti?

Desde menina não tinha afeição a números. Até hoje não tenho intimidade com a Matemática. Sei que sou injusta com ela, afinal de contas é a mais exata das ciências. Confesso até que me acho não lá muito inteligente por não resolver com desenvoltura seus problemas simples. Suas cifras específicas me apavoram, e nem precisei ficar num divã para perceber que não é um temor absurdo que carrego até hoje com a tal da aritimética.

Tão pequenina e já sofrendo as loucuras de um professor de Matemática que me colocou numa turma mais atrasada de um curso porque não consegui resolver um problema de conversão, aquela história de passar para dam., para m., cm.,etc.. Sei lá o quê. Ele esbravejava e dizia que eu não podia nem sequer pensar em inscrever-me para prestar concurso para Colégio Padrão, quanto mais inscrever-me. Foi meu primeiro castigo numérico. Daí em diante foi só perseguição, mas venci o primeiro obstáculo e passei para o Colégio Pedro Segundo. Que beleza! Livre dele, de suas loucuras, de seus problemas que me deixaram probbemática para o resto da vida. Eu era só orgulho com meu uniforme diferente,e até já me sentia na França quando comecei a aprender Francês. Bonjour professeur, bonjour mes énfants, trés bien. Isto sim era aula!. Que se danassem o perímetro, a área, o metro! Mas a felicidade não é infinita como são os números, e a minha já começava a fenecer. Uma semana esperamos pelo professor de Matemática que foi o último a ser apresentado à turma devido a ter adoecido no princípio do ano letivo.

Custou! Chegou! Apavorou!. Não era lá alto, era magrinho e usava uns óculos de fundo de garrafa. Não dava um sorriso, e suas mãos eram muito trêmulas quando usava o quadro de giz. Giz, sim senhor. Não havia o quadro branco moderno de hoje com pincel. Ele enchia seu quadro de fórmulas, e tinha uma voz engasgada. Era uma figura esquisita, parecia o Dr. Silvana dos gibis antigos.

Novos sofrimentos, novas angústias. E mais pesadelos. Chegava ao cúmulo de nos xingar porque não conseguíamos entender suas aulas. Era comum ouvirmos resmungos: " Eu ensino, ensino, e as cretininhas não aprendem." Como poderíamos aprender com um louco professor? Que um dia chegou a colocar o giz na boca como se fosse cigarro. Era demais! Notas de todos, baixíssimas. Queixa geral! Deu-se o afastamento do professor.. Depois conseguimos saber por que tinha sido o último a se apresentar na escola. Estava licenciado por problemas psiquiátricos. E, nós, adolescentes, sofrendo talvez até com ele por não nos entendermos com a Matemática. Até hoje sonho com minha adolescência sofrida por causa dos números. Não gosto de contar dinheiro, não guardo número de ônibus e muito menos conto troco. Não vale risada. Cursei faculdade, saí-me bem. Claro que não foi ela, a exterminadora de meu cérebro... mas a danada me persegue. Tenho pesadelos horríveis mesmo adulta. Sempre ela me atormentando...

Hoje senti-me feliz e não me senti burra, porque li artigos sobre fobia e não é que descobri a minha. Sofro de aritimofobia.. Portanto, mortais, não me venham com história de facilitar troco. Facilita para vocês, porém atrapalha para mim. Chega! Um , dois, três, fora!

Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 26/04/2015
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