LIBERDADE

          Hoje eu acordei com algum pressentimento, pensamento, descontentamento, algo incômodo. Procurei em algumas gavetas, alguns lugares e não entendia o que me incomodava, parecia que tinha sonhado com algo possível, mas naquele momento parecia impossível de saber o que era.
          Depois de muita procura e a chateação da minha mulher em ficar dizendo o que fazer e por que eu não ficava quieto, o que eu tanto procurava. Nesse instante tinha duas coisas me perturbando, mais precisamente uma, pois tinha encontrado o que procurava há algum tempo, “minhas cuecas”. Comecei a pegar uma por uma, era como se fosse uma vingança, pegava uma por uma identificado sua cor, seu modelo, seu desenho para ter certeza de que todas estavam ali.
          Minha mulher logo estranhou, vendo aquela cena nem imaginava o que ia fazer, mas por toda noite pensei e sonhei em uma atitude de Liberdade, tinha que fazer isso, foi tudo planejado, poderia ser radical, insanidade, delírio, qualquer outra coisa, mas tinha pensado nisso, tinha planejado tudo, agora não podia voltar atrás, tinha que começar a me libertar.
          Consegui juntar em minhas mãos e braços todas elas, nenhuma escapuliu, mesmo pendurada, não querendo ir, não tinha jeito estavam bem seguras em minhas mãos. Minha mulher assustada reclamou, “o que você vai fazer”, “aonde vai com suas cuecas homem”. Não respondi, não olhei para trás e segui em frente, fui direto para o quintal.
          O cachorro me acompanhou latindo parecendo entender o que eu ia fazer cacei um canto no quintal juntei todas as cuecas e coloquei fogo, minha mulher que tinha me acompanhado de longe colocou a mão na cabeça e falou bem alto, “que danado você está fazendo homem, vai ficar sem suas cuecas”, nem liguei, fiz de conta que ela nem estava ali.
          Por alguns instantes fiquei ali parado, pensando analisando se era isso que tinha planejado na noite anterior e conscientemente tinha certeza que era isso mesmo, meu cão ao meu lado me acompanhou até o fogo baixar e ficar só aquele monte de cinza e o fedor de pano queimado.
          Pronto uma coisa que tinha me incomodado por muitos anos agora já não fazia parte de minha vida, tinha me livrado para sempre desse incômodo. Ainda em meu quintal olhei para os lados e após encher o peito de ar com uma respiração bem forte ergui os braços e me senti liberto.
          Meu cão me acompanhou em direção à rua para nossa caminhada matinal mais alegre que os outros dias.
          Desde então não uso mais essa coisa que me foi imposta pela a sociedade por razões que meus culhões nunca entenderam.

 
 
 
 
Léo Pajeú Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Bargom Leonires em 20/12/2013
Reeditado em 04/12/2015
Código do texto: T4619546
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