E aí a Ferrari pifou!

Madrugada de domingo, eu estava animado com a recuperação do Michael no campeonato, estávamos com a mão na taça. Eu, que sou descendente de italiano, torço pela Ferrari desde pequeno. Tá bom... Eu já torci por brasileiros também, mas se pudéssemos ter os dois seria o ideal, um campeão, bom piloto, na escuderia que você ama... Seria muito bom mesmo. Resta esperar que no ano que vem o Massa saiba lidar bem com a “pasta”.

Começou a corrida, como nós queríamos, primeiro e segundo “pit”, para o Michael, tudo bem. O Massa já tinha se prejudicado nesse meio tempo. O Alonso tava vindo, mas o nosso campeão é bem conhecido, famoso “Dick Vigarista”. Foi aí que numa reduzida... Ahrrrr mas que coisa... Não acredito! *&%$#@!%&**#&%*... Foi o que deu pra falar! Esperei até a última volta fazendo Vodu para que o Alonso se desgraçasse todo, mas não teve jeito. Não esperei para ver o podium, fui dormir um pouco, afinal de contas os domingos são feitos para isto.

Suca acordou antes, ainda era cedo, cerca de 7:30 h da manhã. Barulhada no quarto! Acordando meio zonzo, ainda com sabor de final de campeonato, como naquelas derrotas em que se perde o título nos últimos minutos do segundo tempo, perguntei o que ela estava fazendo. Ela não pestanejou e foi logo me chamando para tomar um café na padaria. É... Aqui não gostamos muito de cuidar de casa, fazer café, limpar geladeira, fazer jardinagem e essas coisas todas que nossos pais faziam. Acho que deve ter mais gente assim pelo mundo afora. Eu ainda meio contrariado com a sorte do motor da Ferrari, concordei que um café poderia cair bem. Estava chovendo, aquela garoa chata, chamamos aqui “chuva de horta”, então não se pensou em sair de moto, como é costume quando ela está aqui em casa. É... Aqui cada um tem sua casa. Concordo que são bem próximas uma da outra, mas cada um tem a sua, separadas por menos de cem metros de rua.

Chegamos na garagem de Suca e ao ligarmos o carro nada dele pegar.

- É... Às vezes ele faz isso pela manhã.

- É assim mesmo, está um friozinho danado mesmo, ele tá com preguiça de trabalhar.

- Mas acho que afogou... Sente só o cheiro de gasolina.

- Abre o capô.

Não acreditei que estava olhando para aquele motor. Foi quando por preguiça, coisa de macho, não sei, fui logo pedindo para empurrar o carro. Existe uma ladeirinha numa das ruas ao redor de sua casa. Ela sentada no carro, eu com braço direito ruim, problema muscular, empurrando o carro só com a esquerda. Lá fomos nós, tentando usar o declive para resolvermos o problema matinal. Que nada amigos... A ladeirinha acabou e o carro não pegou.

P! *&%$#@!%&**#&%*... Minha Ferrari pifou também! Isso já é sacanagem comigo. Tudo isso num só domingo.

Pensei logo, fui infeliz em não concordar com ela, largar o carro na garagem e voltar para casa sem café mesmo. Que idéia de titica que tive! Não deu tempo pra se lamentar muito. Um amigo, dono de uma pousada perto de casa, nos viu e parou seu carro ao lodo do dela. Ele foi logo dando uma chupeta no de Suca... Olha lá hein! Uma chupeta no carro dela.

Não adiantou muito a boa vontade do meu amigo. Tentamos várias vezes e o carro não pegava mesmo. Eles dois saíram e foram procurar um mecânico para dar jeito no caso. Fiquei ali muito tempo... Esperando... Podendo pensar em como sou burro, como poderia ter deixado o carro na garagem, me recriminando por todos os erros que achava que havia cometido naquela manhã, na vida inteira! Os motivos que me levaram a não possuir um automóvel, fiquei com ódio dos automóveis, que só serviam mesmo em dia de chuva, possuem uma manutenção cara, “carro bom é carro novo”... Vocês sabiam que em alguns lugares desse planeta carros velhos é que pagam um IPVA mais alto? Nada escorchante como esse do Rio!

Foi quando tive a idéia de tentar levar o carro, empurrando, sozinho, o mais próximo possível da garagem. Meu braço começou a doer! Nossa! Fiquei mais encolerizado ainda. Fechei o carro, voltei ao local que ele estava quando eles tinham saído para procurar o mecânico. Procurei uma saída de garagem com cobertura, aquele telhadinho do portão, e fiquei esperando. Ofegante, fiquei pensando em quanto aquilo tudo iria custar... Não tinha mais jeito, eu não podia ir para os boxes e esperar que a equipe resolvesse tudo. Ainda bem que deu tempo de me acalmar e lembrar da velha máxima: relaxe e goze!

Quando ela voltou contou que tinha encontrado um mecânico que prestava serviços para uma amiga. O cara tava dormindo, acordou numa enorme ressaca, adquirida no dia anterior, num churrasco de aniversário de um amigo, tremenda boca livre.

- Será que ele é daqueles que falam com você no portão e depois volta pra dormir?

- Bom, eu já levei o carro pra mais perto de casa. Vou no Jair e peço pra ele rebocar o carro até a garagem, faltam só uns 100 m pra colocar ele de volta onde você, acertadamente, queria deixar.

- Você é louco mesmo! Empurrou o carro né. Quando não vi o carro pensei que ele tinha pegado e tava tudo acertado.

O mecânico chegou. Não demorou muito e ele colocou o carro pra funcionar. Foi logo dizendo que carro necessita de manutenção, não pode só usar sem fazer uma revisão de vez em quando. O cara era legal, fomos a um posto de gasolina gastamos uma merreca de peças e o carro ficou aparentemente operacional de novo. Logicamente não me furtei em dizer, para a proprietária do automóvel, que no quesito manutenção ela era uma mulher típica, só queria usar e usar sem se preocupar com nada. Sei que nem todas são assim.

Trocando em miúdos, conseguimos chegar na padaria para tomar café depois das 11:30 h. Foi o café mais complicado que tomei ultimamente. Compramos um frango assado e fomos pra casa almoçar.

- Será que é mera coincidência?

O carro dela é vermelho!

A. Luiz Canelhas Jr. – 08/10/2006

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Saquarema - RJ