A casa mal assombrada

Essa é mais uma história das muitas que ouvi quando eu era ainda uma jovenzinha.

Dona Diva era professora renomada em Juazeiro, uma cidade do interior Ceará. Ela nos contou que era natural de uma cidadezinha do interior de Pernambuco, que não me lembro mais o nome. Um dia ela nos falou como veio parar nessa cidade, Juazeiro do Norte.

Segundo Dona Diva, sua carreira de professora primária iniciou muito cedo, acho que com dezoito a dezenove anos. Nem tinha se formado direito. Todavia Dona Diva sempre fora responsável com seus compromissos, principalmente com seus estudos e com sua profissão.

Há alguns anos, estudar e trabalhar não era fácil. Pois as escolas não eram em grande quantidade. E Dona Diva teve que sair de sua cidade, para morar com uns parentes na cidade de Juazeiro, já que lá era mais fácil estudar e trabalhar.

Tudo ia muito bem para ela, conseguira até alguns alunos para ministrar aulas particulares. Mas um dia a professora discutiu com alguém da casa onde ela residia.

Uma amiga a convidou para morar com ela. Dona Diva logo aceitou. Todavia não sabia que a casa para onde se mudara tinha a fama de mal assombrada. Se soubesse com certeza preferiria ficar na casa em que estava ou teria voltado para sua casa. Pois ela era muito medrosa.

No primeiro dia tudo parecia normal. À noite, ela cansada, nada escutou, nem o chiado da chinela que entrava e saia de seu quarto.

No segundo dia, a professorinha começou a escutar pratos e panelas batendo na cozinha da casa, enquanto ela dormia. E a professora achou que era alguém da casa, mas começou a se incomodar com o barulho. No outro dia, pela manhã, a moça perguntou quem era a pessoa que lavava tantos pratos, se na casa só tinham três pessoas. A senhora que a convidara olhou para seu esposo e respondeu que ninguém além deles três residiam naquela casa. Dona Diva começou a se preocupar.

No terceiro dia a jovem resolveu que não ia dormir enquanto não descobrisse quem era a pessoa que fazia tanto barulho durante a noite. Chegou da escola, tomou seu banho como era de costume e fez suas preces. Estava já dormindo quando viu uma mulher entrar no seu quarto e ajeitar as cobertas da cama ao lado da sua. A mulher olhou para ela e depois saiu do quarto. Dona Diva, morena, ficou branquinha. Suas pernas tremiam como vara verde. Sua fala não saia quando ela quis gritar por socorro. Quando se acalmou, correu para o quarto de sua amiga e pediu para dormir em um cantinho, no chão ao lado da cama do casal.

No quarto dia, a jovem professora foi trabalhar quase sem ter condições, pois não tinha dormido na noite anterior.

À noite, como muito medo ela preferiu dormir de rede. Mas quando estava já adormecendo viu que entrou alguém no seu quarto começou a balançar sua rede. Abriu os olhos e viu a mesma moça ao lado de sua rede, tentando lhe dizer alguma coisa, mas a professora correu apavorada para o quarto da amiga outra vez. Ficou lá quietinha, sem fazer nenhum barulho.

No outro dia ela contou o ocorrido ao casal. Eles disseram que já nem ligavam mais com a mulher que passava a noite arrumando a casa deles. Porém Dona Diva ficou assustada mais ainda. Começou a pensar como seria toda noite, trabalhar pelo dia e não poder dormir .

Saiu pedindo a Deus que a ajudasse a resolver sua situação.

Chegou em casa à noite e foi logo dormir . Fez suas preces de costume e deitou outra vez na rede, mas o sono não vinha. A amiga armou uma rede ao lado de sua cama . Dona Diva pensou que conseguiria dormir, pelo menos naquela noite. Mas foi em vão, a mulher outra vez foi balançar a rede da professora. Agora cantando uma música de ninar. A professora acordou todos da casa com um grito de medo . A mulher só olhou para ela e saiu , com olhar triste .

No outro dia a professora arrumou sua mala e voltou para sua casa, no interior de Pernambuco. Ela falou que por várias noites acordava com alguém cantando uma suave música. Mas logo ela foi esquecendo e tudo parou.

Dois meses depois ela soube que sua amiga havia saído da casa, não suportara os barulhos de pratos e panelas caindo no chão.

Dona Diva conseguiu um novo emprego e uma nova casa para morar, por isso voltou a morar em Juazeiro, onde passou muitos anos trabalhando como professora primária. Ela conta que nunca esquecera o olhar da mulher da casa mal assombrada.

Lu