Formigas trabalhando em nome do amor

Carlos chegou na frente da porta e tocou a campainha. Ninguém atendeu. Então ele tirou uma chave da maleta, colocou na fechadura, girou, e entrou. Era uma pequena sala, bem montada, com um bar e bastante garrafas. Se serviu de uma boa dose de whiskey, colocou um envelope em cima da mesa, acendeu um cigarro, sentou no sofá e ligou a televisão. Antes do último trago Milena apareceu. Ela sorriu para ele, pegou o envelope, colocou na bolsa e já tirando o casaco foi para o quarto enquanto pedia desculpas pelo atraso. Para ele não fazia muita diferença.

Ela voltou para sala com uma roupa leve. Uma blusinha de alcinhas, sem sutiã, que combinava com um shortinho curto de tecido, daqueles que se vê a calcinha quando a garota senta, ou cruza as pernas. Deitou com a cabeça na coxa dele e começou a reclamar de alguma coisa. “Você não acha querido?” Carlos começou a fazer uma cafuné nela. “Não se desgaste com isso, o que as pessoas falam não paga suas contas, certo?” Ela olhou para ele com o canto do olho, sem mexer muito a cabeça, e deu um sorrizinho sacana.

Milena veio de Itapetininga para estudar arquitetura numa destas faculdades tradicionais de São Paulo. Estava, dizia, no penúltimo ano e tinha 23 anos. Carlos era gerente em uma rede de concessionárias de carro. Casado há 25 anos, pai de duas filhas. “Acho que se eu fosse uma mulher teria uma vida muito parecida com a sua”, disse ele num tom carinhoso já sentindo a pele macia dos peitos dela na mão. Ela se virou devagar com cara de quem sabe o que tem que fazer, abriu a fivela do cinto dele, depois o ziper, abaixou a cueca e começou a chupar.

Os dois transaram ali mesmo. Milena parecia cansada, e deu o melhor de si para que tudo acabasse o mais rápido possível. Carlos tinha tomado meio daqueles comprimidos azuis, mesmo assim não resistiu muito tempo aos talentos de um corpo perfeito e jovem. No fim parecia exausto. “Você já jantou? Seria bom comer alguma coisa”, perguntou. “Não estou com muita fome, mas se você quiser podemos pedir uma pizza”, respondeu ela com um pouco de desinteresse. Ela se levantou e foi ao banheiro. Na volta passou pela cozinha e pegou o imã de geladeira de uma pizzaria. “Esta é muito boa”, comentou.

Enquanto Carlos pedia a pizza Milena tirou a televisão do canal de esportes e colocou num seriado. Deitou no sofá para dois e acendeu um cigarro. Ele se serviu de mais um copo de scoot e se encostou no ao seu lado. “Você percebeu que deixei uma contribuição generosa para sua bolsa de estudos?”, falou com um tom de quem vai pedir alguma coisa. “Não era um reconhecimento pelo minha dedicação?”, retrucou ela querendo escutar um sim. “Avisei em casa que ficaria na empresa até tarde. Tomei um comprimidinho, não posso chegar lá assim”, comunicou ele. “Já pedi para me avisar antes quando for fazer isso. Tenho outros clientes. Não sou uma máquina”, repreendeu ela. Carlos tirou mais um envelope do bolso e deixou na mesa. Milena fingiu que não se importava. “Não pode passar das dez e meia”, argumentou ela. Eram 21h30. “Pode ser”, concordou ele.

A pizza chegou. Ele pagou, foi para a cozinha e voltou com dois pratos e uma pedaço em cada um. Sentou na mesa e chamou Milena. “Agora não, depois eu como”. “Está tudo bem com você hoje?”. “Claro que sim querido, não pense besteiras. Comi uma bobeira na rua com umas amigas e estou sem fome agora.” Seu tom não conseguiu disfarçar a desculpa esfarrapada. Ele terminou a fatia de pizza e se sentou no sofá. Carlos fudeu a bunda dela com força, até ela pedir que ele parasse com gemidos que mais pareciam de dor do que de prazer. Milena se virou, terminou o serviço com a boca e saiu engasgando para o banheiro. Quando ele escutou o chuveiro ligar foi até o lavabo, se limpou na pia e saiu sem se despedir. Na mesma hora em que Carlos entrava em sua casa seu chefe, Dr. Márcio, chegava ao apartamento de Milena.