O NAMORADO DA LUA
 
 

 
                                         Cansado das turbulências e da violência da cidade grande onde nada eu podia fazer a não ser observar tudo impotente, resolvi mudar e refugiei-me num pequeno sítio nos arrabaldes de uma cidadezinha do interior bem distante da metrópole.



                

                                                         



                                        E pra minha surpresa, eu que até então só tinha visto a lua superficialmente na tela da televisão ou nos cinemas e que quando muito via uma bolinha amarela perdida entre as nuvens escuras e poluídas divisada da janela do apartamento onde morava, logo na primeira noite em meu novo lar deparei-me com uma lua grandona quase se arrastando no meu telhado.      


                                       




                                           









                                              Ela estava ali tão linda e coviteira como nunca e só para mim. Que imagem linda! Quanta prodigidade da natureza! Como pude ficar tanto tempo sem conhecer a lua, meu Deus?...

                                        Entre exclamações, interrogações e divagações, mentalmente comecei entender a insistência dos poetas que enaltecem a lua a cada segundo e em todo lugar do planeta. E, igual a todos os poetas, dela me enamorei. Mais do que isso: Apaixonei-me pela lua.
                                        Egoísta e materialista como sempre fui, com mania de propriedade ali mesmo resolvi que aquela lua seria só minha. Logo me veio a lembrança e as interrogações de como seria quando a minha lua amada estivesse no período de minguante e nova. O que eu poderia fazer para evitar esse fenômeno da natureza?
                                        Nesse devaneio acabei esquecendo que ali eu não estava sozinho. Estavam também a minha esposa e os meus dois filhos. Então, quando me dei conta disso a minha namorada já ia longe, distanciando-se cada vez mais em direção às montanhas e alguns raios do sol já se faziam presentes anunciando um novo dia. 

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                                       Fechei os olhos e tentei dormir, mas sem lograr êxito. A minha verdadeira amada, de carne e osso como eu me abraçou e me beijou induzindo-me ao sexo natural entre um casal no seu novo lar. Tudo aconteceu tão instantâneo e natural que quando mais tarde exausto fisicamente, resmungando e sonhando acordado apenas consegui perguntar:
                    - Onde será que está a minha namorada agora? Cadê a lua? Onde está você minha lua querida?
                                        Sensual e faceira, somente de calcinhas, praticamente nua, tão bela quanto a lua minha esposa acariciava os meus cabelos e dizia baixinho:
                    - Eu sou a sua lua. Não saí daqui nenhum segundo. Aquela lua amarela prateada que se foi só voltará à noite. Porem, ela já está comprometida com milhões de outros sonhadores e poetas, inclusive comigo.
                     - Oh! Como é bom ser namorado da lua...
                                          Foi esta a minha última exclamação antes de entregar-me novamente ao meu eterno amor.