AS ENTIDADES
 
 
                               A espiriteira estava no catre, porém apagada. Iluminação praticamente ali não existia.  Desta forma os espíritos estavam à vontade.
                              Quiseram acender uma vela para clarear o ambiente, mas o moribundo rejeitou essa opção. Sem o clarão de qualquer luz ele acreditava encontrar os seus algozes de outrora entre tantos espíritos que rondavam o pequeno espaço.
                              Para os parentes e amigos daquele ser doente em fase terminal que relutava para permanecer na terra era difícil divisar qualquer coisa ou movimento no ar. Porém ele via tudo e discutia com as entidades normalmente como se vivas e materializadas elas estivessem.
                              Alguns dos presentes que rejeitavam a possibilidade de dialogo entre vivos e mortos, assim sendo não compreendiam aquela situação incômoda e até desgastante. Já os demais com algum conhecimento sobre a espiritualidade entendiam claramente o que ocorria.
                              Acontece que na medida em que o tempo passava mais pessoas chegavam e com elas igualmente traziam oculto aos seus lados outras entidades. Algumas esclarecidas e que vinham para ajudar o transe na hora do desenlace final daquela alma relutante.
                              Em dado momento o moribundo levantou-se abruptamente, deu um tapa no ar e gritou estérico:
                    - Olhem. Olhem. Ali está os dois safados. Eu sabia que eles viriam. Peguem-nos. Não os deixem escapar. Eu quero vê-los pagando tudo o que me fizeram. Depois eu posso até morrer que não me importo. Vamos. Vamos seus desgraçados. Agora eu quero ver vocês saírem daqui...
                              Para a maioria dos presentes que nada viam aquela reação inusitada era curiosa e complicada, face a expressão súbita daquele ser que já definhava e de repente aparentava  um vigor descomunal, com sangue rosado em todas as partes do rosto e do corpo.
                              Aquela cena não durou mais de três minutos. O moribundo deitou-se lentamente e agora com voz branda começou um novo diálogo com os seres astrais.
                    - Obrigado papai. Obrigado mamãe. Obrigado doutor Claudio. Eu não poderia morrer sem antes acertar as contas com esses dois crápulas. Eles não só provocaram o acidente que agora me leva embora, como também causaram tantas dores e mortes na nossa família, inclusive a de vocês induzindo os seus médicos e enfermeiros a ministrar medicamentos e injeções inadequadas durante anos.      
                    - Agora que eles serão levados para longe eu posso ir com vocês meus pais queridos. Que bom que vocês vieram me receber. Olha pai, eu nunca mais duvidarei de nada que o senhor me falar. Eu achava que nunca mais os viria e justamente quando estou morrendo estão aqui pra me dar esse amparo. OH! Deus, obrigado. Obrigado Meu Pai. Não sabia que era merecedor de tanto amor e carinho no meu momento final. Adeus! Meus amigos queridos. Estou indo em paz.
                              A não ser o fato de que aquele homem acabava de falecer (desencarnar) ninguém entendeu nada do seu último diálogo com as entidades, que mais pareceu um monólogo sem fim.
                              A partir de então as luzes foram acesas e o ambiente tornou-se até confortável, nem parecendo que estavam num complexo funeral.
 
 
 
 
 
 
 
 
Nota:
 
Talvez numa outra oportunidade eu continue narrando as outras partes desse causo. No momento estou tão extenuado que quase não consigo digitar.