Jari: o seu papel nesta região está muito além daquele que é produzido pela sua celulose

Justamente no momento em que nós tínhamos motivos para cultivar o otimismo em relação a prosperidade econômica da nossa região, aparece a Jari Celulose com a notícia de que paralisará as suas atividades pelo tempo mínimo de dez meses! Logo agora que estamos vendo chegar a solução em definitiva de problemas que afetaram a nossa região através da construção da Hidrelétrica de Santo Antônio e do Linhão de Tucuruí...É lógico que temos que espernear, pois o que está em jogo são quase 6 mil empregos. Isso afetará toda a região, seja social, economicamente ou até cultural, pois a Jari Celulose está intimamente ligada não somente a formação das cidades do seu entorno, bem como o modo de vida das pessoas.

Por outro lado, temos que pensar como empresários: alguém em sã consciência manteria uma empresa que ao invés de produzir lucros, acumularia consecutivos prejuízos somente para manter o emprego dos seus funcionários? É lógico que a questão não pode ser pensada assim de forma tão desumana, capitalista e desprovida de qualquer emoção, mas convenhamos que qualquer empresa seja constituída visando lucros e com a Jari Celulose não poderia ser diferente.

De fato, não éramos para nos surpreender com a notícia da paralisação da Jari Celulose, pois todos sabiam que a empresa um dia teria que fazer uma readequação para conseguir competitividade em escala global. Qualquer leigo é capaz de concluir que os custos de produção de produção daquela fábrica são grandes, a começar pela manutenção das próprias instalações obsoletas e de uma cidade como Monte Dourado.

A situação da Jari Celulose é como a de uma pessoa que recebeu de seu médico um péssimo diagnótico e que ao mesmo tempo sabe que se fizer um procedimento cirúrgico radical poderá retomar as suas atividades normais. A readaptação da fábrica para a produção de celulose solúvel e acetatos foi a decisão tomada pelo Grupo Orsa, mesmo sabendo que tal processo exigirá altos investimentos e poderá afastar investidores justamente no momento em que mais precisará deles.

Uma breve análise da história nos faz crer que a Jari Celulose foi um mirabolante investimento mirabolante de alguém que tinha muito dinheiro e idealismo. Quando o norte americano Daniel Ludwig, idealizador do Jari, comprou a área em 1967 ele tinha um patrimônio de 5 bilhões de dólares e estava na lista dos cinco homens mais ricos do mundo. O plano de Ludwig era substituir a mata nativa por florestas homogêneas para inundar o mercado mundial de celulose com a produção do Jari. E também exportar quantidades monumentais de carne, arroz e caulim, minério que serve, entre outras coisas, para dar acabamento ao papel. Ludwig, homem simples, se viu obrigado a desistir do projeto em 1982 depois de ter sepultado mais de 1,3 bilhão de dólares nesta região. Ele morreu sem ver seu sonho deslanchar e até hoje não existe nenhum importante logradouro público, nem uma estátua e nem um busto em homenagem ao homem que gastou quase um quarto do seu patrimônio nos confins da Amazônia. Não há dúvidas de que Ludwig era um idealista, assim como não há dúvidas de que o papel desempenhado nesta região pela empresa Jari está muito além daquele que é produzido pela sua matéria-prima, seja ela celulose de mercado ou celulose solúvel.