Laranjal: mitos e verdades de uma cidade criada em função do Projeto Jari

Laranjal: mitos e verdades de uma

cidade criada em função do projeto Jari

No penúltimo domingo (4/01), o programa Domingo Espetacular, da Rede Record exibiu uma matéria na qual explorou todas as mazelas sociais de Laranjal do Jari. De acordo com a reportagem de Raul Dias filho, a cidade erguida nas margens do rio Jari submete os seus moradores a constantes catástrofes. No período chuvoso são as enchentes, na estiagem são os incêndios. A forma acintosa como o programa abordou os problemas históricos de Laranjal do Jari mexeu com os brios dos cidadãos laranjalenses provocando uma imediata reação por parte de todos que assistiram ou tiveram conhecimento do fato.

De forma muito semelhante, o jornalista Klester Cavalcanti, da revista Terra, realizou uma reportagem sobre a maior cidade do Vale do Jari em junho de 2002, intitulada “a maior favela fluvial do mundo” deixando os habitantes em polvorosa. As observações negativas descritas naquela matéria foram recebidas pelos leitores locais como um insulto. Na avaliação de Cavalcanti, as músicas tocadas pelos vendedores de cds piratas do centro da cidade eram de quinta categoria, provando que o jornalista tem pouco respeito pela cultura local. O jornalista enfatizou ainda que naquela época de cada dez casas, oito era de madeira, sendo a maioria em palafitas. Klester fez referência ainda sobre a prostituição, relatando que essa era uma das principais formas das jovens se manterem financeiramente na cidade.

A reação da população laranjalense diante de reportagens altamente sensacionalistas é legítima, pois muitas informações pejorativas sobre a cidade não condizem com a realidade atual e outras não passam de mitos. A violência e a prostituição, tão evidenciada nos meios de comunicação, não são diferentes do que ocorre nas outras cidades brasileiras, ficando evidente o interesse de alguns veículos em continuar manchando a reputação da cidade.

A falta de infra-estrutura, as catástrofes das enchentes e incêndios, a falta de abastecimento de água, os constantes blecautes na eletricidade, o trânsito violento, a prostituição e a criminalidade são problemas enfrentados pela cidade laranjalense, mas não é exclusividade dela. Por outro lado, houve avanços enormes nos últimos anos que poucos jornalistas vindos de fora da nossa região, mesmo com boa fé, conseguem mensura-los.

Há dez anos atrás Laranjal do Jari, por exemplo, não contava com hospital. O atendimento médico era realizado através de uma balsa que ficava ancorada na orla da cidade e quando os moradores necessitavam de procedimentos mais complexos tinham que atravessar para o distrito de Monte Dourado. Também não existiam praças públicas nem ginásios esportivos. A maioria das escolas funcionava sobre palafitas e o número de vagas oferecidas não atendia a demanda, principalmente do Ensino Médio. Energia durante 24 horas era apenas sonho dos laranjalenses.

É patente a necessidade de melhorar muitos serviços e a qualidade de vida da população de Laranjal, mas existem muitas conquistas a serem comemoradas e de acordo com o Domingo Espetacular, a dura realidade enfrentada pela população laranjalense é apenas um incentivo para cada um seguir atrás de seu sonho, afinal, esforço e recomeço são palavras de ordem em Laranjal do Jari. Com tantos avanços, o 3º maior município do Amapá há tempos não se resume apenas a uma cidadezinha criada em função do famoso projeto Jari.