Conto nublar #072: NO VÓRTICE DE UM TORNADO
Não que eu seja o homem mais corajoso do mundo. Talvez um dos mais curiosos e, em nome dessa curiosidade, que me impele a vencer medos e barreiras, é que geralmente até me torno tal.
Foi por esta razão que me atritavam os Tics e Tacs, tentando entender alguns fenômenos da Natureza, que me vi viajando em pensamento, em busca de entender o que e como se formavam os tornados.
Até aquele momento, o único Tornado que conhecia e de quem alimentava muita saudade, era o Tony.
Foi por esta razão que me atritavam os Tics e Tacs, tentando entender alguns fenômenos da Natureza, que me vi viajando em pensamento, em busca de entender o que e como se formavam os tornados.
Até aquele momento, o único Tornado que conhecia e de quem alimentava muita saudade, era o Tony.
Aquele! Esse mesmo! Isso! “Podes crer, amizade!”
Fez tremendo sucesso nos tempos da Jovem Guarda, mas desde que se tornou ator, nunca mais quis ser cantor.
Agora me fritava os neurônios, o fato de querer entender os tornados em toda sua complexidade, tim-tim por tim-tim. Às vezes, penso que nunca saí da fase dos “por quês” ou foi a criança e seus “por quês” que nunca morreu dentro de mim. Prefiro crer que é a segunda opção e isso me conforta.
No balanço de minha rede na varanda, ao nascente do chalé, observo duas leves brisas brincando de torniquete, se enroscando a elevar consigo um pouco do pó de areia e alguns poucos ciscos e folhas secas, num rápido redemoinho que logo se dissiparia. _ “Cruz! Credo! Arreda, Capiroto!” _ saiu correndo e gritando a Ritinha, cabelos ouriçados de tanto pavor. Entra na cozinha e, arfante e afônica, abraça Nhá Barbina, sua mãe.
_ Volta cá, Ritinha! Que bicho te mordeu?
_ Vou não, Seo Od! Senão o capeta me pega! O senhor não sabe, não? Em todo “ridimuín” tem um capetinha bem no “meím” dele.
_ Não é nada disso, menina. Vem cá que eu te explico.
O redemoinho é apenas o encontro de dois ventos bem pequenos que resolveram se abraçar e brincar. Eles adoram brincar de roda, tipo carrossel. Lembra do carrossel do parque? As cadeirinhas voam como se quisessem se soltar em direção do céu?
_ Lembro, sim!
_ Então, Ritinha! Não há porque temer. Os ventos são bênçãos de Deus. Amo brincar com eles. Não tenha mais medo e sempre dê graças a Deus por eles. Certo?
Ela consentiu, balançando a cabecinha afirmativamente e foi lá para o cantinho da varanda brincar com suas bonequinhas de pano, enquanto fiquei a meditar mais sobre os altos ventos na estratosfera. Daí, ouvi um rugido mais forte ao longe, vindo das bandas de Trindade. Era o vento Sul-sudoeste – SSO que passava ao alto a uns 120 Km/h. Acenei pra ele e ele fez sinal para que eu subisse.
Num piscar de olhos estava lá no alto, em seu dorso. Embora a uma temperatura de -40ºC, algo acontecia que não me atingia. Deve ser porque ali estava por força da imaginação ou coisa assim. Era um mistério de que não tinha o mínimo interesse de entender, embora os “por quês” fossem o meu prato preferido.
_ Nota 10 pra você Od. Fiquei muito feliz ao ver a mudança de semblante da Ritinha quando entendeu o caso dos redemoinhos. Muito didático e amável de sua parte.
_ Era mais que minha obrigação, SSO. Lembrei de como o meu saudoso pai me ensinou aquilo e como meu aflito coração ficou aliviado. Essa foi a minha intenção ao contar a verdade para a Ritinha.
_ É disso que em ti gosto, meu Camarada! Só por isso quero te proporcionar um espetáculo que o teu coração há muito deseja ver e entender. Só uma deixa. Não é música, mas tem tudo a ver com ela e com o Tony. Manjou?
_ 'Xô ver! Hum! Hum! Ah! Já sei! Tornado! Mas como vai ser se aqui no Brasil não temos ocorrência desse fenômeno?
_ 'Xa comigo, amigo! Eita, cara! De tanto falar contigo até ando pegando essa tua mania de figuras de linguagem, assonância. Eu, hein! Mas não será aqui nesse céu latino brasileiro, não. Vou-te conduzir até à Linha do Equador e lá mudarei o meu crachá para Vento Sul e levar-te-ei até à zona de tornados também conhecida como Alameda dos Tornados (Tornado's Alley).
A Alameda dos Tornados é uma área compreendida entre as terras baixas que circundam os rios Mississípi, Ohio e os vales do Rio Missouri e o sudoeste dos Estados Unidos, bem como as grandes planícies entre as Montanhas Rochosas e os Montes Apalaches. Os estados onde este fenômeno é mais freqente são Oklahoma,, Kansas, Iowa e Missouri além do nordeste do Texas, leste do Colorado, norte de Luisiana, centro e sul de Minnesota, Dakota do Sul, noroeste do Mississipi, centro e sul de Illinois, Indiana e partes do centro, sudeste e sudoeste de Nebraska, pequenas partes de Tennessee e Ketucky e poucas zonas do Winsconsy*.
_ “Wind, My Friend”! Sobrevoando os “States”, até me arrisco um parco inglês (rsrs)! E eu não me vou desintegrar se chegar próximo ao vórtice de um tornado?
_ Mas Od! Nem é pra me perguntar isso. Nessa dimensão em que nos encontramos, nada nos atingirá. Confia em mim!
_ Valeu!
Sobrevoando próximo a “Tonado's Alley”, colidimos a 358 Km/h contra enormes nimbos densamente formados por verdadeiros icebergs de gelo flutuantes, que já vinham sendo empurrados por dois ventos de 450 Km/h em 120°, deslocando-se numa força momento ao nosso, porém meio tangente, meio secante. Era o que faltava para girar o gigantesco pião sideral, para que começasse a girar, em força descomedida, um carrossel no mais belo espetáculo jamais visto por um ser humano. E eu ali, justamente montado no dorso de My Friend The Wind, sem palavras para descrever.
De repente, aquela montanha glacial voadora não resistiu à gigantesca força centrífuga a que fora submetida e começou a se estilhaçar em vários tamanhos e em todas as direções, provocando choques e raios multicores e trovões ensurdecedores. Algo estonteante e apavorador. Mas o meu instinto de curiosidade, apesar de tenso me impulsionava a ir mais fundo. Uma tromba abriu-se abaixo de nós e sugava com sofreguidão tudo o que encontrasse pela frente. O que mais me doeu foi ver árvores, animais, casas, automóveis, pessoas sendo sugados e triturados como se passassem por um gigantesco e descomunal moinho, depois devolvidos abaixo como que regurgitados em monte de destroços. Seus gritos feriam meus tímpanos e alma. E eu nada podia fazer.
_ O que houve, Od? Perdeu a graça?
_ É, Cara! O espetáculo é inesquecível, mas não dá pra apreciar tudo tendo, de quebra, tanta desgraça. Leva-me pra casa. Estou com o estômago embrulhando! Ai! Uh! Uf!
_ Está certo! Feche os olhos e quanto menos esperar você...
[…]
_ Seo Od! Seo Od! _ Ouço, como se ao longe, a voz de Ritinha insistentemente a me chamar. _ Seo Od!
_ O que foi! O que foi! _ desperto, arfando de um estado apneico em minha rede na varanda. _ Ah! É você Ritinha?
_ Dona Susana está chamando o senhor para almoçar. Todos já estão na mesa.
_ Sim! Sim! Diga-lhe que já vou!
Graças a Deus que não passou de um ronco. Ou não?
Agora me fritava os neurônios, o fato de querer entender os tornados em toda sua complexidade, tim-tim por tim-tim. Às vezes, penso que nunca saí da fase dos “por quês” ou foi a criança e seus “por quês” que nunca morreu dentro de mim. Prefiro crer que é a segunda opção e isso me conforta.
No balanço de minha rede na varanda, ao nascente do chalé, observo duas leves brisas brincando de torniquete, se enroscando a elevar consigo um pouco do pó de areia e alguns poucos ciscos e folhas secas, num rápido redemoinho que logo se dissiparia. _ “Cruz! Credo! Arreda, Capiroto!” _ saiu correndo e gritando a Ritinha, cabelos ouriçados de tanto pavor. Entra na cozinha e, arfante e afônica, abraça Nhá Barbina, sua mãe.
_ Volta cá, Ritinha! Que bicho te mordeu?
_ Vou não, Seo Od! Senão o capeta me pega! O senhor não sabe, não? Em todo “ridimuín” tem um capetinha bem no “meím” dele.
_ Não é nada disso, menina. Vem cá que eu te explico.
O redemoinho é apenas o encontro de dois ventos bem pequenos que resolveram se abraçar e brincar. Eles adoram brincar de roda, tipo carrossel. Lembra do carrossel do parque? As cadeirinhas voam como se quisessem se soltar em direção do céu?
_ Lembro, sim!
_ Então, Ritinha! Não há porque temer. Os ventos são bênçãos de Deus. Amo brincar com eles. Não tenha mais medo e sempre dê graças a Deus por eles. Certo?
Ela consentiu, balançando a cabecinha afirmativamente e foi lá para o cantinho da varanda brincar com suas bonequinhas de pano, enquanto fiquei a meditar mais sobre os altos ventos na estratosfera. Daí, ouvi um rugido mais forte ao longe, vindo das bandas de Trindade. Era o vento Sul-sudoeste – SSO que passava ao alto a uns 120 Km/h. Acenei pra ele e ele fez sinal para que eu subisse.
Num piscar de olhos estava lá no alto, em seu dorso. Embora a uma temperatura de -40ºC, algo acontecia que não me atingia. Deve ser porque ali estava por força da imaginação ou coisa assim. Era um mistério de que não tinha o mínimo interesse de entender, embora os “por quês” fossem o meu prato preferido.
_ Nota 10 pra você Od. Fiquei muito feliz ao ver a mudança de semblante da Ritinha quando entendeu o caso dos redemoinhos. Muito didático e amável de sua parte.
_ Era mais que minha obrigação, SSO. Lembrei de como o meu saudoso pai me ensinou aquilo e como meu aflito coração ficou aliviado. Essa foi a minha intenção ao contar a verdade para a Ritinha.
_ É disso que em ti gosto, meu Camarada! Só por isso quero te proporcionar um espetáculo que o teu coração há muito deseja ver e entender. Só uma deixa. Não é música, mas tem tudo a ver com ela e com o Tony. Manjou?
_ 'Xô ver! Hum! Hum! Ah! Já sei! Tornado! Mas como vai ser se aqui no Brasil não temos ocorrência desse fenômeno?
_ 'Xa comigo, amigo! Eita, cara! De tanto falar contigo até ando pegando essa tua mania de figuras de linguagem, assonância. Eu, hein! Mas não será aqui nesse céu latino brasileiro, não. Vou-te conduzir até à Linha do Equador e lá mudarei o meu crachá para Vento Sul e levar-te-ei até à zona de tornados também conhecida como Alameda dos Tornados (Tornado's Alley).
A Alameda dos Tornados é uma área compreendida entre as terras baixas que circundam os rios Mississípi, Ohio e os vales do Rio Missouri e o sudoeste dos Estados Unidos, bem como as grandes planícies entre as Montanhas Rochosas e os Montes Apalaches. Os estados onde este fenômeno é mais freqente são Oklahoma,, Kansas, Iowa e Missouri além do nordeste do Texas, leste do Colorado, norte de Luisiana, centro e sul de Minnesota, Dakota do Sul, noroeste do Mississipi, centro e sul de Illinois, Indiana e partes do centro, sudeste e sudoeste de Nebraska, pequenas partes de Tennessee e Ketucky e poucas zonas do Winsconsy*.
_ “Wind, My Friend”! Sobrevoando os “States”, até me arrisco um parco inglês (rsrs)! E eu não me vou desintegrar se chegar próximo ao vórtice de um tornado?
_ Mas Od! Nem é pra me perguntar isso. Nessa dimensão em que nos encontramos, nada nos atingirá. Confia em mim!
_ Valeu!
Sobrevoando próximo a “Tonado's Alley”, colidimos a 358 Km/h contra enormes nimbos densamente formados por verdadeiros icebergs de gelo flutuantes, que já vinham sendo empurrados por dois ventos de 450 Km/h em 120°, deslocando-se numa força momento ao nosso, porém meio tangente, meio secante. Era o que faltava para girar o gigantesco pião sideral, para que começasse a girar, em força descomedida, um carrossel no mais belo espetáculo jamais visto por um ser humano. E eu ali, justamente montado no dorso de My Friend The Wind, sem palavras para descrever.
De repente, aquela montanha glacial voadora não resistiu à gigantesca força centrífuga a que fora submetida e começou a se estilhaçar em vários tamanhos e em todas as direções, provocando choques e raios multicores e trovões ensurdecedores. Algo estonteante e apavorador. Mas o meu instinto de curiosidade, apesar de tenso me impulsionava a ir mais fundo. Uma tromba abriu-se abaixo de nós e sugava com sofreguidão tudo o que encontrasse pela frente. O que mais me doeu foi ver árvores, animais, casas, automóveis, pessoas sendo sugados e triturados como se passassem por um gigantesco e descomunal moinho, depois devolvidos abaixo como que regurgitados em monte de destroços. Seus gritos feriam meus tímpanos e alma. E eu nada podia fazer.
_ O que houve, Od? Perdeu a graça?
_ É, Cara! O espetáculo é inesquecível, mas não dá pra apreciar tudo tendo, de quebra, tanta desgraça. Leva-me pra casa. Estou com o estômago embrulhando! Ai! Uh! Uf!
_ Está certo! Feche os olhos e quanto menos esperar você...
[…]
(Vista virtual do açude ao lado da varanda igualmente virtual)
_ Seo Od! Seo Od! _ Ouço, como se ao longe, a voz de Ritinha insistentemente a me chamar. _ Seo Od!
_ O que foi! O que foi! _ desperto, arfando de um estado apneico em minha rede na varanda. _ Ah! É você Ritinha?
_ Dona Susana está chamando o senhor para almoçar. Todos já estão na mesa.
_ Sim! Sim! Diga-lhe que já vou!
Graças a Deus que não passou de um ronco. Ou não?