William Shakespeare - John Taylor
Música: Concerto para uma só voz - Bach



A arte e a ciência de escrever

 
Um dia fui abordado por uma senhora, que se dizia leitora assídua das crônicas que eu publicava semanalmente em jornais de minha cidade, que me disse: “Gosto muito de ler os seus escritos. Mas, antes quero saber o motivo que o levou a escrever, é por vaidade, por promoção pessoal e profissional ou um simples prazer”?

Escrever, antes de tudo, é um exercício trabalhoso que requer muita dedicação. Não existe escritor sem antes ter sido um exímio leitor. Através da leitura o indivíduo se apaixona pelas belezas das letras, pelas idéias, pelos objetivos e depois segue o caminho natural das crianças: primeiro ver, observar e depois imitar.

O escritor, antes de publicar um texto, escreveu dezenas de outros “rabiscos” que tiveram apenas um leitor, ele mesmo. Outros textos ricos, de forma impiedosa, foram abortados mesmo antes de nascer.

Escrever é arte e ciência ao mesmo. A ciência é o conhecimento das regras da língua e das técnicas da escrita. Enquanto a arte, através do tempo, ganha aprimoramento e refino. Em suma, a ciência se estuda e aprende, a arte apenas se aprimora.

Todo texto, prosa ou poesia, tem como origem uma idéia. Primeiro, o trabalho sutil, o burilar dentro da cabeça do autor a idéia a ser transmitida. Nessa primeira etapa a idéia é a semente que sofre um processo seletivo antes de ser semeada.

Após deitada em terra fértil uma semente necessita de água, calor e cuidados para germinar, ganhar forma e dar frutos. Nessa segunda etapa a ciência, a arte e o esforço do escritor se juntam para que a obra ganhe forma. É a etapa braçal do trabalho. A etapa do texto em que Graciliano Ramos compara com os serviços das lavadeiras que lavam exaustivamente as roupas sujas nos rios do Nordeste Brasileiro.

Escrever é levar idéias, mensagens e mimos aos leitores através de palavras escritas de forma artística e científica. Comunicar idéias, chamar atenção e despertar emoções dos leitores são os objetivos finais de um texto.

O escritor não pode ser confundido com texto. Ele não é o seu texto. Embora, o seu texto, com certeza, terá um pouco da sua sabedoria, do seu conhecimento, da sua dedicação e do seu amor pela arte.  

Ninguém exerce a sua profissão simplesmente por vaidade, por promoção pessoal ou por prazer. Toda atividade profissional é para atender as necessidades próprias e coletivas. Escrever, como profissional ou amador, é igual a qualquer atividade humana, isto é, quando executada com dedicação e amor, satisfaz a necessidade e o prazer do escritor e dos leitores.

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Roberto Pelegrino
Enviado por Roberto Pelegrino em 04/12/2009
Reeditado em 29/05/2012
Código do texto: T1959517