Revelações do Anjo Azul 
 
José Cândido e Etelvina Miranda conheceram-se, namoraram e casaram ainda  adolescentes, na cidadezinha de Puxinanã, agreste da Paraíba.

As constantes secas e a miséria recrudescentes os fizeram migrar para a periferia da cidade mineira de Mariana.

José que era agricultor passou a lidar com a mineração.

Métodos rudimentares na exploração do ouro e pedras preciosas, a escassez dos minerais em troca de poucos trocados o fizeram desistir do garimpo.

Na minúscula propriedade, um sítio nos arredores da cidade com um ranchinho caiado, o roçado de macaxeira, feijão e hortaliças é que lhes garantiam o sustento e também aos três filhos (duas filhas e um filho).

O excedente produzido, era vendido na feira livre do bairro nos finais de semana.

José ao abandonar o garimpo, investiu suas poucas economias ampliando a área dos roçados.

Etelvina o acompanhava na dura labuta diária.

Alguns anos se passaram...

A agricultura rendera-lhes alguns lucros.

As filhas Marialva e Júlia, de 16 e 15 anos, respectivamente, conseguiram trabalho como babá e doméstica na capital.

Luis Antonio de 14 anos fora agregado pelos padres Jesuítas junto a um pequeno mosteiro de “Belzonte”.

“Estavam encaminhados na vida” – dizia José.
“Abrigo, comida, trabalho e estudos lhes garantirão um bom viver” complementava.

Mais algum tempo passou...

As “crianças”  os visitavam quando possível todos os finais de ano.

No pequeno sítio poucas coisas mudaram.

Duas vaquinhas de leite, alguns suínos e umas galinhas poedeiras.

Ah!...as árvores frutíferas plantadas há tempos formavam agora um belo pomar.

E o roçado sempre viçoso lhes garantia a sobrevivência.

Algo porém intrigava os filhos.

Seus pais continuavam jovens, apesar das duas décadas passadas.

Marialva com 36 anos e Júlia com 35, aparentavam ser irmãs mais velhas de Etelvina e Luis Antonio, gêmeo do pai.

Na vila, há tempos os conhecidos comentavam entre si:
-“ tem coisa feita por lá... sei, não...”
- “parece inté coisa do Demo...”

O fato é que José Cândido e Etelvina não envelheciam, sequer adoeceram nestes tantos anos.

Longa vida lhes sorrira...

Mais três décadas se passaram...

As filhas e o filho faleceram neste período e eles continuavam no sítio, imutáveis.

Qual seria o SEGREDO ?

Certamente não desvendaram o mistério, até hoje!

Em estado terminal,  aos 82 anos, no meu leito de morte um Anjo Azul solenemente me revelou:

- “ Lembras daquela água cristalina e tênue  que jorra da rocha aos fundos da propriedade de seu vizinho?”

“...  provém das profundezas da terra onde se encontra a fonte eterna da juventude.”


SEGREDO revelado, tarde demais, para mim...


 
Este texto faz parte do Exercício Criativo “O segredo”
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