Poemas portugueses (reedição caprichada)
 
            de Edson Gonçalves Ferreira
             para os poetas e leitores (com carinho)
 


 O poeta Edson Gonçalves Ferreira no cassino em Portugal

I
Minhas palavras, azulejos

Formam um painel dourado
As paredes são meu coração
Aberto em várias salas
No castelo encantado do meu amor
Prontas para tu entrares...

 
 
  O poeta Edson GonçalvesFerreira em Braga - Portugal
 
III
Em cada uma das salas, há lugares
Lugares sem azulejo algum
Ainda não consegui os preciosos
Porque será a sala do aguardo
Onde, quando tu chegares,
Esperarás ser atendido
Na longa fila dos seres amados
Que meu coração nomeia...

  
 
 O poeta Edson Gonçalves Ferreira no Senhor das Pedras - Portugal

III
Saibas que, até agora, não registrei
Com meus olhos tristes e mouros,
Em nenhuma das paredes, a saudade
Dos jovens que, daqui, partiram
Em caravelas para, sonhando,
Dar-me a vida e fazer minh´alma, vela panda
Soprada por este vento doce
Que do Douro vem
Como carícia tardia
Embalar meu ser
Barco à deriva
Procurando um porto.

 
 
 
 O poeta Edson Gonçalves Ferreira ao lado do rio Tejo - Portugal

IV
Se sou marinheiro...
Não perguntes, não sei
Só cheguei aqui onde amados me esperavam
Por causa do incontrolável amor
Nascido lá onde canta o sabiá
E, assim que, aqui, cheguei
Vi que sou só um pardal
Perdido no meio das maravilhas modernas!

  
 
  O poeta Edson Gonçalves Ferreira no caminho para Manhouce - Portugal
V
Este pardal quer ninho,
Pousado aqui e acolá, triste
Em qualquer fio das avenidas e ruelas
Lembra os dois moços brincando
Brincando de sair para o mundo
Sem saber que, depois, um jovem voltaria
Um jovem de tardia esperança
Voltaria como eles
Sonhador, a buscar aconchego
Nas antigas muralhas
Restos de um passado
Que minha alma segura.

 

 
 O poeta Edson Gonçalves Ferreira no Mosteiro da Batalha

VI

Meu canto nem triste nem alegre
Somente canto persiste
Esse pardal não cansa
Reconhece a sua pequenez física
Sabe, porém, da grandeza dos sonhos
Que norteiam seus vôos
Acompanhado por algumas aves mais nobres
Que, abrindo seus ninhos
Tornaram possível a procura
Louca e amorosa
Dessa avezinha atrevida.

 
                          
 
VII
Pardal atrevido
Cruzou o Atlântico,
Pousou cá
Onde as aves gorjeiam lindo
Mas não, jamais, como lá
Onde canta, seu irmão, o sabiá
E, pousado entre as ramas de videiras
Onde uvas roxas de paixão relembram tudo
Tudo o que machuca o seu pequenino coração.

 
 
 O poeta Edson Gonçalves Ferreira no Solar dos Pequeninos - Portugal

VIII
E, agora, na sacada encantada
O pardal contempla a chuva
Molhando a terra
Sabe que a espera longa será
Quando as aves migram
Levam só parte do que são
E, quanto retornam, jamais encontram
As mesmas flores, os mesmos amores
Que deixaram cá
E, até parte de suas plumagens ficou
Onde aves lindas que, aqui, gorjeiam
Não gorjeiam com a constância
Desse pequenino pardal
Avezinha atrevida
Pousada cá!

 
 
 
 
IX
Pia, pia, pardal
Sua plumagem lembra São Francisco
O rico pobre de Deus
Não tenhas tu a desilusão
Quando se busca o que se é
É impossível não encontrar
Os sonhos não se perdem
Quando embalados são
Por esse amor desmedido
Pela humanidade toda
Que, ao passar, às margens do Douro
Desconhece que as águas são como espelhos
Móveis espelhos deixados por Deus
Para refletir anseios e esperanças
Do jeito como tu, pardalzinho
Ousa voa
Iniciar a busca
Mesmo com a incerteza
De nunca mais encontrar
Aqueles que partiram
Para lá, quão distante estás!

 
O poeta Edson Gonçalves Ferreira no Mosteiro dos Jerônimos - Portugal

X
Enquanto Fernando, o que foi múltiplo, descansa
Ao lado das tágides, a flutuar
                     na multiplicidade do ser

Eu, o Pardal, faço poesia
No claustro ancestral onde recende a incenso
Que minh´alma aspira
No sem tempo do lirismo
Dos Jerônimos
Sim, faço versos como quem partiu
Há tempos e da casa saudades sente
A chorar na musicalidade de um fado
Sonhando com o amor que consagra
Quando não se tem a alma pequena
E, como a lua, na sua majestade
Altivo, vivo e se eterniza
Refletindo no lago as paixões
Gravadas nos azulejos do meu coração.


Reedição: Divinópolis, 18.09.09
edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 18/09/2009
Reeditado em 05/10/2010
Código do texto: T1817421
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