A POÉTICA NOS MECANISMOS DA MEMÓRIA

“Então o poema deve ser etéreo, quase invisível aos sentidos, tendo a capacidade de penetrar diretamente no inconsciente. Interessante. Descartes concordaria...”.

Eliane Mary Fraga Morales, pelo Facebook, em 02/02/2015.

Inteligente e dedicada leitora! O teu entendimento me parece ir além do que pretendi relatar no texto POEMA E IMAGEM NA INTERNET, tutorial publicado em http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2660038 . O processo que sinto se perfectibilizar no leitor/receptor é o inverso do que ocorre na cuca do autor do poema, em que prevalece o fluxo emocional do inconsciente (a inspiração), acatando os mecanismos da memória trazidos a lume na construção freudiana. No poeta-leitor, a racionalidade prevalece desde o ato de leitura, graças ao mecanismo intelectivo. O "estranhamento" produzido no leitor, devido à codificação da peça poética através das figuras de linguagem (especialmente as metáforas) quando em presença do POEMA COM POESIA, vai exigir dele, mais e mais, a utilização do processo cognitivo. No entanto, a arte poética vai ocupar paulatinamente os mecanismos da memória, podendo seus filamentos chegar ao inconsciente, onde é possível se dar a sua fixação nos domínios do Mistério (o único que inscreve a Poiesis), para a propagação do poema como fetiche, farsa ou verdade fictícia (acatada, tida ou havida), permanecendo sempre no território da farsa ou fantasia, nunca no mundo dos fatos, pois não é esta a sua destinação ou funcionalidade. Sua aplicação nunca será direta à realidade. A rigor, não consigo ver os postulados cartesianos nesta elaboração.

– Do livro O CAPITAL DOS DIAS, 2013/15.

http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/5123958