À PODRIDÃO..TROVAS DE CANHÃO

I

Hoje resolvi trovar

Ao amigo cidadão

Eu pretendo analisar

Nossa vida de Nação.

II

Somos todos brasileiros

Povo forte, povo irmão!

Uno povo alvissareiro,

Sincretismo a dar as mãos!

III

Todavia a poesia...

Desandou no nosso chão

Não é coisa de um só dia:

Há um tempão de enganação.

IV

Coisa feia, artimanha

Flagelo: deseducação

Até o coisa ruim se engana

Com a mentira em comunhão.

V

Dura vida nas calçadas...

Abundou pelas cidades,

Muitas barracas armadas

A encenar as crueldades.

VI

Hoje tem vida blindada

Nos estradas surreais

Nossa arte está armada

Pelas telas abissais.

VII

A fumaça aquece as ruas

A delinear os ossos

Sob tezes, correm nuas...

As seqüelas dos destroços.

VIII

Nossa biodiversidade

Toda já hipotecada!

Rios drenam a realidade

Em correntes de sucatas.

IX

Sabiá corre da mata...

Toda ela incendiada

Bem- te- vi viu os rejeitos

Nas águas amarguradas.

X

Do Rio Doce que um dia

Perdeu o seu paladar...

À ambição que em damasia

Pôs tudo a azedar.

XI

A poeira está nos ares

Amianto é podridrão!

Verso que festeja a vida

Morta na corrupção.

XII

Toda bala está perdida

Como está toda criança!

Ninguém mais socorre a vida

Grita em vão a esperança...

XIII

A saúde está doente

Agoniza por inteiro...

Desde um socorro ao dente

À descarga do banheiro!

XIV

Todo lixo se avoluma

Produto da decadência

Que a tudo já pontua

O fedor...não mais se aguenta!

XV

Escassa é água corrente

Secam os mananciais!

Sanear parece urgente

O tudo que se desfaz.

XVI

Amputaram a consciência

Ninguém reconhece mais

A falácia, a incongruência

Da fala que nada faz!

XVII

Aumentaram os impostos...

Desemprego assustador

E aos pobres dos idosos:

Chão muito desolador.

XVIII

A infância abandonada

Sem direitos, sem o ECA?

A causa é escancarada:

O dinheiro nas cuecas!

XIX

Nas sacolas e nos bolsos

Nas caixas de papelão

Nas meias e nas calcinhas

No porão do avião.

XX

No terno todo engomado

Do pilantra de plantão!

O dinheiro tão suado:

Em n. malas, é o do povão!

XXI

Tem as belas das beldades!

Que levam só pacotão...

Com o dinheiro da maldade

Returbinam seu corpão.

XXII

Se você está preocupada

Sua poupança só afunda?

Saiba que ela está assentada

No botox às nobres bundas!

XXIII

Tem milagre bem astuto

Aos santos que armam a festa!

Hoje é bem cabeludo

Quem dantes era careca!

XXIV

"As madame" botocada

Tem “bolsa Loui Vuitton”

Nela colocam em massa

Só o dinheiro do povão!

XXV

E depois ainda pergunta

Como ingênua donzela...

Se a quantia prometida

Era mesmo SÓ aquela!

XXVI

No discurso desconexa

Entoa sem vozeirão...

E no bastidor confessa:

-que o povo se dane, então!

XXVII

São muitas as fantasias

Pelos carnavais dos sonhos...

Vã justiça em alforria

Despe a toga aos desenganos.

XXVIII

O gado segue marcado

No cabresto vai votando

No seu todo apadrinhado

Continua acreditando.

XXIX

E o voto mais suado

já sem força, sai chorando...

Eleitor conscientizado

Perde o voto pro comando.

XXX

Tudo aqui é bem atípico

"Rabo abana o cachorro"

Em meio tão desvalido

Só bandido segue solto.

XXXI

E você caro leitor

Que chorou na minha trova

Sei que sente a mesma a dor:

Só a moral ela estorva.

XXXII

Não entenda minha rima

Qual verso em desilusão

Tenho fé!-é só mania

De rimar em comunhão.

XXXIII

Rezo aqui plena poesia:

Deus de nós nunca se esqueça!

A acreditar que um dia:

Consciência aqui aconteça.